Segurança Pública
O Sargento no Exército é mesmo mais valorizado do que na FAB e na Marinha. Mito ou verdade!?
ESA e CIAvEx: formação de sargentos do Exército Brasileiro é marcada pela entrega do sabre Sargento Max Wolf Filho, símbolo de honra e tradição. E enseja inevitável comparação com as outras Forças Armadas
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No dia 15 de fevereiro, alunos dos Cursos de Formação e Graduação de Sargentos do Exército (CFGS) da Escola de Sargentos das Armas (ESA) e do Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx) receberam em cerimônia solene o sabre Sargento Max Wolf Filho. Após o primeiro ano de formação nas Unidades Escolares Tecnológicas do Exército (UETE), nas quais receberam a formação básica do CFGS, 519 Alunos da ESA e 32 Alunos do CIAvEx iniciaram sua qualificação nas áreas combatente e de aviação do Exército.
A ESA, situada em Três Corações-MG, é a responsável pela formação do sargento combatente das Armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, capacitando-os para o exercício de comando de pequenas frações.
O CIAvEx, situado em Taubaté-SP, é o responsável por formar o sargento QMS Aviação, qualificando-os na especialidade de Manutenção de Aeronaves.
Sargento, líder de pequenas frações
Para o recebimento do sabre, os alunos da Linha Militar Bélica do Exército participaram da solenidade de entrega do Sabre, trajando o 1º Uniforme Escolar (Gala), réplica do uniforme usado na antiga Escola de Sargentos da Fortaleza de São João, a primeira unidade sistematizada de formação do sargento do Exército Brasileiro.
O Sabre simboliza o espírito imortal do sargento Max Wolf Filho, herói da Força Expedicionária Brasileira, e expressa o culto às tradições e a manutenção dos valores do Exército Brasileiro, compromissos indispensáveis ao líder de pequenas frações.
O instrumento é réplica da baioneta do Fuzil Mauser 1908, utilizado pelo sargento Max Wolf Filho nas Revoluções de 1930 e Constitucionalista de 1932, e será conduzido honrosamente pelos alunos do CFGS até o final do presente ano de instrução.
Assista ao vídeo e saiba mais sobre o sargento Max Wolf Filho.
Em formatura presidida pelo chefe de Educação e Cultura do Exército, general de exército Francisco Carlos Machado Silva, alunos da ESA e do CIAvEx tiveram a honra de empunhar, pela primeira vez, o símbolo que representa a honra militar do aluno CFGS.
O chefe do DECEx, general de exército Carlos Machado, e o comandante militar do sudeste, general de exército Pedro Celso Coelho Montenegro, entregaram o Sabre sargento Max Wolf Filho ao aluno João Pedro da Cunha Peixoto, da ESA, e ao aluno Lucas Oliveira dos Santos, do CIAvEx, melhores colocados, por mérito intelectual, no 1º ano do CFGS.
Prestigiaram a solenidade o antigo aluno e ex-comandante da ESA, Gen Ex R/R Jarbas; o vice-chefe do DECEx, Gen Div Valença; o comandante da 4ª RM, Gen Div Cantanhede, além de outras autoridades civis e militares do sul de Minas.
Na solenidade, os 551 Alunos da ESA e do CIAvEx proferiram o juramento solene, segundo o qual prometeram cultuar e manter os valores e as tradições do Exército Brasileiro:
“Ao receber este Sabre, símbolo do espírito imortal do Sargento Max Wolf Filho, prometo cultuar e manter os valores e as tradições do Exército Brasileiro.”
Um rito de passagem muito particular
A cerimônia descrita acima foi noticiada pelo site do Exército brasileiro. Não há, nas outras duas Forças, Marinha e Força Aérea, riqueza simbólica que rivalize com essa que foi mostrada na cerimônia de entrega do Sabre Sargento Max Wolf Filho.
O impacto psicossocial e institucional que esse rito militar tipicamente inventado pelo Exército brasileiro é considerável. E deve ter um efeito fundamental na construção de um liame forte entre o sargento e a Força terrestre.
Valorização da carreira de sargento no Exército
Há décadas existe um ditado muito popular entre os militares de baixa patente, e até entre os candidatos a ingressar na vida militar. Esse ditado diz que se você quiser ser sargento das Forças Armadas, a longo prazo a melhor opção é o Exército.
A afirmação de que o sargento no Exército Brasileiro é mais valorizado do que na Força Aérea Brasileira (FAB) e na Marinha do Brasil pode ser vista como leviana ou superficial. Por isso, ela deve ser analisada sob diferentes perspectivas, incluindo remuneração, progressão na carreira e responsabilidades atribuídas.
Isonomia salarial entre os sargentos
No quesito remuneração, a afirmação não se sustenta, já que, por força de lei, os sargentos das Forças Armadas brasileiras possuem uma estrutura salarial padronizada, independentemente da Força a que pertencem.
Além do soldo básico, esses militares podem receber adicionais e gratificações que variam conforme a especialização e outras qualificações. Isso é normal em qualquer profissão.
O tempo de serviço, que era um nivelador financeiro da maior importância, deixou de existir depois da MP 2.215/2001.
Previsibilidade e progressão na carreira de sargento
Já quanto à progressão na carreira, há diferenças gritantes. A primeira distorção que deve ser levada em conta, é que a carreira dos oficiais é regida por lei ordinária – Lei nº 5.821, de 10/11/1972 – que dispõe sobre as promoções dos oficiais da ativa das Forças Armadas.
No polo oposto da hierarquia, a carreira dos praças é regulada por cada um dos comandantes de Força. Isso naturalmente dá margem a arbitrariedades por parte da Administração castrense.
Na Força Aérea e na Marinha brasileiras, a progressão também é regulamentada, porém pode apresentar diferenças em relação ao Exército, especialmente nos critérios e oportunidades para ascensão a postos superiores.
Por exemplo, na FAB, há casos específicos, como o dos taifeiros, que possuem particularidades em suas carreiras. Uma pequena matéria do site Montedo mostra um vislumbre das reais engrenagens por trás das promoções e criações de quadros de sargentos na FAB e no EB.
Ascensão estruturada e oportunidades a longo prazo
Já no Exército, a carreira de sargento apresenta uma trajetória bem definida, permitindo ascensão até o posto de capitão. Essa progressão é estruturada, e oferece estabilidade e previsibilidade a longo prazo ao militar.
Os cursos da Escola de Sargentos das Armas já há alguns anos é considerado de nível superior (tecnólogo), reconhecimento que não foi acolhido pelas outras duas Forças.
Na FAB e na Marinha, a progressão também é regulamentada, porém diverge do Exército, especialmente nos critérios e oportunidades para ascensão a postos superiores. Na FAB, por exemplo, o sargento só ascende ao oficialato, caso venha a prestar concurso externo ou interno.
Vocação declaradamente bélica do Exército
O Exército tem o maior efetivo militar das Forças Armadas, o que geralmente significa mais oportunidades de ingresso e fluxo mais regular na carreira. Em compensação, a estrutura do EB tende a ser mais tradicionalista e consequentemente mais rígida, em comparação com as outras Forças.
Por estar praticamente em todo o território nacional, há notável possibilidade de o militar servir em diversas regiões do Brasil, trazendo chances maiores de transferências mais frequentes.
O outro lado disso é que, sendo a mobilidade geográfica a regra, a criação de raízes familiares é dificultada.
Finalmente a vocação declaradamente bélica do Exército, com foco forte em operações terrestres não pode ser ignorada, e tem peso significativo na relação comando > sargento > tropa.
As atividades operacionais do Exército geralmente demandam um bom preparo físico. Se um candidato à vida militar tem interesse em atividades de combate, defesa territorial e operações de paz, o EB é a primeira escolha.
O papel fundamental do sargento na visão do Exército Brasileiro
A cerimônia de entrega do sabre Sargento Max Wolf Filho é um símbolo, e como todo símbolo carrega significados não perceptíveis a um olhar desatento e superficial. Existe um dístico num prédio da ESA que diz: “sargento, elo fundamental entre o comando e a tropa”.
Um aspecto crucial do trabalho do sargento é construir confiança e um forte espírito de equipe entre os soldados. Isso envolve entender as necessidades e preocupações dos soldados, promovendo um ambiente positivo e de apoio.
A propósito de tudo que foi exposto aqui, o filme “Coração de ferro” (Fury), dirigido por David Ayer e estrelado por Brad Pitt, oferece um condensado eletrizante e inspirador aos novos sargentos e aos sargentos de sempre.