Internacional
Ucrânia prestes a perder controle de região russa de Kursk
Após controlar área por meses, soldados parecem estar em retirada. Avanço de Moscou é confirmado por analistas militares de ambos os lados do conflito, e Kiev ordenou evacuação de vilarejos próximos à fronteira

As forças da Ucrânia estão perdendo suas posições duramente conquistadas na região russa de Kursk. Moscou anunciou novos avanços na retomada do território nos últimos dias, enquanto analistas militares de ambos os lados afirmam que as forças de Kiev parecem estar em retirada.
Nesta quinta-feira (13/03), foi a vez de a Rússia anunciar a retomada total da cidade de Sudzha, o maior centro populacional da região. Se confirmado, isso deixaria a Ucrânia com apenas pequenos bolsões de território russo ao longo da fronteira sob seu controle. Ainda nesta quinta, num sinal de deterioração da situação, Kiev ordenou a evacuação de oito vilarejos ucranianos próximos da fronteira com o território russo de Kursk.
Na noite anterior, o líder russo Vladimir Putin, vestido com um uniforme de combate, visitou um posto de comando próximo à frente de batalha em Kursk. Putin elogiou as forças militares russas envolvidas nos combates e conclamou as tropas a retomarem definitivamente todo o território ocupado pela Ucrânia em Kursk. Nesta quinta-feira, Putin voltou a abordar a situação, se gabando dos avanços russos e afirmando que as tropas ucranianas na região agora têm que escolher entre “morrer” ou “se render”.
Ucranianos estão Kursk há mais de sete meses
Em 6 de agosto do ano passado, a Ucrânia gerou uma das maiores surpresas da guerra ao invadir a fronteira e tomar um território dentro da Rússia. A contraofensiva animou os ucranianos e deu a eles uma potencial moeda de troca em negociações de paz com Moscou.
Mas, depois de resistir por mais de sete meses em uma área cada vez menor, os ucranianos viram sua situação em Kursk piorar drasticamente a partir da semana passada.
Antes da retomada de Sudzha, o Ministério da Defesa russo já havia anunciado na quarta-feira a captura de mais cinco vilarejos na região, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmando que “a dinâmica é boa” em Kursk.
Um vídeo publicado por blogueiros russos e pela imprensa estatal mostrava soldados com uma bandeira russa em uma praça no centro de Sudzha, uma cidade perto da fronteira com a Ucrânia, por onde passa uma rodovia utilizada pelos ucranianos como rota de abastecimento de suas tropas. A autenticidade do vídeo foi confirmada pela agência de notícias Reuters.
O chefe das Forças Armadas ucranianas negou nesta semana que suas tropas estivessem cercadas em Kursk, mas disse que buscavam assumir melhores posições defensivas.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse na quarta-feira que a Rússia aumentou a pressão sobre as tropas ucranianas em Kursk e assegurou que Kiev estava fazendo “o máximo possível” para proteger seus soldados.
“Os russos estão claramente tentando colocar pressão máxima sobre nossas tropas. Nosso comando militar está fazendo o que tem que ser feito”, disse Zelenski em coletiva de imprensa em Kiev. “Estamos preservando as vidas de nossos soldados o máximo possível.”
Segundo o blogueiro militar ucraniano Skadovskyi Defender, as tropas ucranianas estão deixando Kursk. “Não haverá nenhum soldado ucraniano lá até sexta-feira”, postou ele em seu canal no Telegram.
Já o analista russo independente Ruslan Leviev disse que a incursão ucraniana estaria chegando ao fim. “Talvez essa história acabe hoje; talvez eles tentem manter os vilarejos da fronteira por mais alguns dias. Mas, no geral, a história da cabeça-de-ponte [território do lado inimigo, no jargão militar] de Kursk está chegando ao fim, e as tropas ucranianas estão saindo”, afirmou.
Rússia avalia proposta de cessar-fogo
Os avanços russos em Kursk, que contam com o reforço de tropas aliadas norte-coreanas, ocorrem ao mesmo em que os EUA vêm pressionando a Ucrânia a firmar um cessar-fogo com a Rússia.
Os EUA e a Ucrânia anunciaram nesta semana a disposição para um cessar-fogo de 30 dias e a retomada imediata da ajuda militar e de inteligência americana a Kiev.
O anúncio conjunto foi feito após uma rodada de negociações na cidade de Jedá, na Arábia Saudita, que não contou com a presença dos presidentes. Zelenski esteve antes em Jedá para conversas preliminares.
Nesta quinta-feira, Putin fez suas primeiras declarações públicas sobre a proposta, mas indicou que só está disposto a aceitar um cessar-fogo que leve em conta demandas russas.