Saúde
Ingredientes inativos dos remédios não são tão inertes quanto se pensava
Outra preocupação é quanto à possibilidade de os medicamentos se degradarem, mesmo no prazo de validade.
Excipiente
Quando você toma um medicamento, não está tomando apenas o princípio ativo, está tomando também os chamados “excipientes”, espécies de “veículos” de suporte, usados para dar estabilidade química ou completar a massa ou o volume, permitindo que haja substância suficiente para você engolir ou ser injetada.
Os excipientes, que compõem frações variáveis em cada medicamento, são substâncias que obrigatoriamente devem ser biologicamente seguras e inertes.
Ocorre que nem sempre eles são – de fato, parece haver muito mais motivo para preocupação do que se acreditava.
Joshua Pottel e colegas da Universidade da Califórnia de São Francisco (EUA) estudaram 639 excipientes e descobriram que 38 deles interagem com proteínas medicamente relevantes. E dois deles, o cloreto de cetilpiridínio e o timerosal, são potencialmente capazes de atingir níveis no corpo que podem levar a efeitos indesejados.
“Embora acreditemos que [isso] geralmente não leve à toxicidade na maioria dos casos, as atividades são fortes o suficiente para serem preocupantes e talvez todas possam ser substituídos,” disse o professor Brian Shoichet, um dos coordenadores da pesquisa.
Segundo a equipe, os resultados apontam para a necessidade de se revisar e reavaliar todos os excipientes usados pela indústria farmacêutica, uma vez que podem ser eles os responsáveis pelos conhecidos efeitos colaterais indesejados da maior parte dos medicamentos. Excipientes verdadeiramente inertes, como todos deveriam ser, poderiam diminuir esses efeitos indesejados.
“É importante notar que essa é uma descoberta feita em células, e não em humanos,” ressalta o professor Laszlo Urban, também membro da equipe. “É um primeiro passo para entender quais efeitos moleculares, se houver, esses excipientes podem ter. É muito cedo para extrapolar se os ingredientes identificados realmente induzem efeitos colaterais em pacientes.”