Internacional
Sarkozy é condenado a três anos de prisão por corrupção
Tribunal francês considera ex-presidente culpado de tentar subornar um juiz e de tráfico de influência. Sentença prevê um ano na cadeia e dois em regime aberto
Um tribunal francês condenou nesta segunda-feira (01/03) o ex-presidente Nicolas Sarkozy a três anos de prisão, sendo dois deles em regime aberto, por considerá-lo culpado de tentar subornar um juiz e de praticar tráfico de influência, no chamado “caso das escutas”.
O conservador de 66 anos, que comandou a França entre 2007 e 2012, sempre negou as acusações e afirmou que foi vítima de uma caça às bruxas por parte de promotores que teriam usado meios excessivos para espionar seus negócios.
Aposentado da política mas ainda influente entre os conservadores franceses, Sarkozy tem dez dias para recorrer da decisão. O tribunal disse que ele tem o direito de pedir a conversão do ano de prisão em prisão domiciliar ou vigilância com uso de tornozeleira eletrônica.
A condenação torna Sarkozy o segundo ex-presidente na França moderna a ser condenado por corrupção, mas o primeiro a ter que ir para a prisão. Antes dele, Jacques Chirac (1995-2007), seu antecessor e durante anos seu mentor político, foi condenado a dois anos de prisão por desvio de fundos, mas em regime aberto.
O caso das escutas
O caso das escutas telefônicas tem origem em outro caso contra Sarkozy, envolvendo a suspeita de que sua campanha recebeu financiamento do regime líbio de Muammar Gaddafi durante a corrida presidencial de 2007.
Em meio a essa suspeita, a Justiça decidiu grampear o telefone do ex-presidente, levando à descoberta de uma linha secreta na qual Sarkozy usava o pseudônimo “Paul Bismuth”. Algumas conversas revelaram a existência de um “pacto de corrupção”, segundo os promotores.
Junto com seu advogado Thierry Herzog, Sarkozy teria tentado obter informações secretas de outro processo por meio do juiz Gilbert Azibert. Azibert também teria tentado influenciar seus colegas de tribunal. Em troca, Sarkozy teria prometido ao magistrado ajudá-lo a conseguir um cargo altamente cobiçado no Conselho de Estado de Mônaco.
Herzog, de 65 anos, e Azibert, de 74, também foram condenados nesta segunda-feira por corrupção e tráfico de influência. Os dois sempre negaram as acusações.
Crimes “particularmente graves”
O tribunal francês afirmou que os fatos eram “particularmente graves”, visto que foram cometidos por um ex-presidente que usou seu status para servir a seus interesses pessoais. Além disso, como um ex-advogado, Sarkozy estava “perfeitamente informado” de que estava cometendo um ato ilegal, declarou a corte.
O juiz Azibert já era considerado um dos principais candidatos ao cargo de Mônaco, mas “se você der um empurrão, é sempre melhor”, disse o advogado Herzog a Sarkozy em uma ligação no início de 2014. “Vou fazê-lo subir”, respondeu o ex-presidente, de acordo com a acusação.
Mas, alguns dias depois, Sarkozy disse a seu advogado que não “abordaria” as autoridades de Mônaco. Sinal, segundo os procuradores, de que os dois ficaram sabendo que a linha estava grampeada.
O ex-chefe de Estado francês deverá enfrentar outro julgamento no final deste mês, ao lado de outras 13 pessoas, sob acusação de financiamento ilegal de sua campanha presidencial de 2012.