Internacional
Procuradoria de Nova York quer dissolver influente lobby pró-armas
Associação Nacional do Rifle (NRA), que exerce grande influência política no país, enfrenta grave crise financeira após décadas de abusos e desvios milionários praticados por seus diretores.
A Procuradoria-Geral do estado de Nova York entrou com uma ação nesta quinta-feira (05/08) para dissolver a Associação Nacional do Rifle (NRA) nos Estados Unidos.
A medida foi tomada com base em alegações de que os executivos do alto escalão do influente lobby pró-armas americano desviaram milhões de dólares para uso pessoal e para comprar a lealdade e silêncio de funcionários da organização.
Os desvios teriam ocorrido por meio de contratos de fachada com fornecedores e diversas outras despesas questionáveis.
A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, impetrou o processo em uma corte em Manhattan após uma investigação de 18 meses sobre gastos abusivos da NRA e do seu diretor-executivo, Wayne LaPierre.
A sede da associação se localiza na Virginia, mas a NRA foi registrada como organização sem fins lucrativos em Nova York em 1871, e ainda está vinculada ao estado.
James afirma que a proeminência da organização e sua relação confortável com o poder político criaram uma sensação de invencibilidade e uma cultura de violação contínua das leis estaduais e federais e das regras referentes ao funcionamento das organizações sem fins lucrativos. Até as normas internas da própria NRA teriam sido ignoradas, segundo afirma a procuradora.
“A influência da NRA tem sido tão poderosa que a organização não foi controlada por décadas, à medida que os altos executivos desviavam milhões para o próprio bolso”, disse James. “A NRA está cheia de fraudes e abusos, então hoje procuramos dissolver a NRA, porque nenhuma organização está acima da lei.”
Ao mesmo tempo, a Procuradoria-Geral de Washington entrou com processo contra a Fundação NRA, uma organização de caridade da associação que propagandeia ser voltada para programas de segurança no uso de armas, no tiro desportivo e na caça. A direção da fundação é acusada de desviar fundos da NRA bancar os gastos luxuosos de seus principais executivos.
LaPierre, que está à frente da NRA desde 1991, é acusado de gastar milhões em viagens particulares e em sua segurança pessoal, além de aceitar presentes caros como safaris na África e utilizar um iate luxuoso de um dos fornecedores da associação.
Ele teria estabelecido um contrato de pós-emprego de 17 milhões de dólares em seu nome sem a aprovação do conselho da entidade, além obter centenas de milhares de dólares para financiar viagens dele e de sua família com aviões particulares. Em três anos, ele gastou 500 mil dólares da entidade em oito viagens para as Bahamas, afirmam os procuradores.
Segundo James, essas práticas, que vinham sendo encobertas por assessores leais e por um sistema de pagamentos feitos através de intermediários, vieram à tona com o acúmulo dos déficits da NRA, enquanto a associação tentava se recuperar dos efeitos negativos gerados por uma série de massacres a tiros ocorridos nos EUA, que minaram o apoio a seus programas pró-armas.
A NRA teve forte queda em suas reservas financeiras, que caíram de quase 28 milhões de dólares em 2015 para um déficit de 36 milhões em 2018.
A procuradora-geral esteve por trás do desmantelamento da fundação humanitária do presidente Donald Trump, que foi multado em 2 milhões de dólares em um acordo jurídico envolvendo alegações de que ele teria desviado doações que seriam destinadas a causas humanitárias para suas empresas e para promover interesses políticos.
Paralelamente, investigações realizadas pela Procuradoria-Geral de Washington há mais de uma ano revelaram como a baixa adesão de membros e gastos luxuosos deixaram a NRA com problemas financeiros, fazendo com seus executivos utilizassem a Fundação NRA para financiar suas despesas.
Como exemplo, os procuradores afirmam que dois empréstimos de 5 milhões de dólares foram aprovados pelo conselho da fundação em 2017 e 2018, apesar dos problemas financeiros. Posteriormente, os conselheiros aprovaram extensões e modificações nesses empréstimos.
O procurador-geral de Washington, Karl Racine, afirmou em nota que as leis referentes às organizações de caridade exigem que seus fundos sejam usados para o bem público, e não para apoiar campanhas políticas, lobbies ou interesses privados. “Com o processo legal, queremos resgatar as verbas doadas que a Fundação NRA desperdiçou”, explicou.
O presidente dos EUA, Donald Trump, lamentou as ações contra a NRA, dizendo se tratar de “algo muito terrível”. Ele sugeriu ainda que a entidade deveria se registrar no estado do Texas, onde as opiniões são muito mais favoráveis em relação às armas do que em Nova York.