Internacional
Alemanha enfrenta dificuldade de sair do lockdown
No momento em que começa a reabrir, país vê iminente terceira onda de covid-19. A vacinação avança devagar, a frustração popular cresce – e políticos buscam saída, com disputa pela sucessão de Merkel como pano de fundo
Todas as manhãs, os alemães acompanham o noticiário ansiosos: qual é atualmente a tal “taxa de incidência”, ou seja, o número de novas infecções de covid-19 para 100 mil habitantes, no intervalo de sete dias? O valor ainda determina como será o dia a dia no país: quantas pessoas podem se encontrar, se as escolas podem abrir, se as crianças podem brincar juntas, se será possível fazer uma pequena festa ou ir cortar o cabelo.
A Alemanha se encontra em lockdown parcial. Angela Merkel é uma grande defensora de mantê-lo com base na taxa de incidência. Quando ficou claro que a variante britânica, mais contagiosa, também se espalharia pela Alemanha, a chanceler federal estabeleceu, junto aos governadores, o limite de incidência em 35. Outras flexibilizações, explicou ela, só seriam feitas quando a taxa permanecer estável, por 14 dias, e a etapa anterior de reabertura não tiver levado a um aumento no número de casos.
Quando a chanceler disse isso, ficou claro que o lockdown na Alemanha continuaria por semanas ainda. Parte da população reagiu frustrada. É ano de eleições gerais, e alguns governadores mudaram rapidamente de ideia. “Não se pode continuar inventando novos limites para evitar que a vida volte a acontecer”, disse Armin Laschet, governador da Renânia do Norte-Vestfália.
Laschet é o novo presidente da CDU, partido de Merkel, e quer ser o candidato da legenda nas eleições no fim do ano. Mas para isso, ele tem que deixar sua marca. Especialmente contra o governador da Baviera, Markus Söder, que também está de olho no posto.
Quando Laschet diz: “Popular é: proibir tudo, ser rigoroso, tratar os cidadãos como crianças imaturas”, é uma mensagem contra Merkel e Söder. O bávaro é considerado um defensor de uma linha mais rígida para enfrentar a pandemia. Mais de 13 milhões de pessoas vivem em seu estado, que faz fronteira com a República Tcheca, país de alta incidência. Ele, portanto, tem que enfrentar altos números de infecção, especialmente nas regiões fronteiriças.
A incidência acumulada de casos de covid-19 na Alemanha nos últimos sete dias voltou a subir e está próxima dos cem novos casos por 100 mil habitantes, nível que, se mantido, implicará um passo atrás na reabertura da sociedade alemã.
Segundo os dados do Instituto Robert Koch (RKI), atualizados neste sábado, a incidência situa-se nos 99,9 casos por cada 100 mil habitantes – sexta-feira a taxa era de 95,6 e, na quinta-feira, de 90. Há uma semana, a taxa situava-se nos 76,1.
Merkel é passado; Laschet ou Söder, o futuro
Merkel desempenha agora apenas um papel secundário nesta disputa. Ela não concorrerá nas eleições de setembro, o que significa que sua influência política está diminuindo. Em vez de Merkel, o foco agora está em Laschet e Söder. O que eles pensam, o que fingem fazer e o que decidem: é para isso que o resto do país olha. Merkel é passado, Söder ou Laschet, o futuro.
Quem vai prevalecer na corrida pela chancelaria depende em grande parte do sucesso na luta contra a pandemia. O sucesso neste caso também é medido pela influência política sobre a estratégia geral. Mas será que isso ainda existe?
Os governantes dos 16 estados têm, acima de tudo, seus próprios interesses, e não miram a Alemanha como um todo. Colabora para essa situação o fato de que o governo federal não tem autoridade para emitir diretrizes para os estados sobre o controle de infecções.
Na prática, no tema lockdown, na Alemanha funciona assim: Merkel só pode recomendar, e não decidir.
Entre epidemiologistas e eleitores
O ano de 2021 é de eleições na Alemanha, nacionais e estaduais. Qualquer pessoa que tenha uma eleição chegando não escuta apenas os virologistas e epidemiologistas, mas também observa com muito cuidado a forma como os eleitores avaliam a situação.
Mas os cidadãos estão mais do que cansados da pandemia. Eles querem suas velhas vidas de volta. Eles anseiam por sol e calor, por convívio e uma existência despreocupada. O quão grande é a pressão foi demonstrada há alguns dias quando Mallorca, a ilha preferida dos alemães, na Espanha, foi retirada da lista de áreas de alto risco. Rapidamente, todos os voos disponíveis foram reservados. Não importa a que preço.
Em 3 de março, na última reunião de Merkel com governadores, sob pressão do público foi decidida uma estratégia de abertura conjunta em cinco etapas. Isso, porém, com a possibilidade de ativar um “freio de emergência”. No caso de incidência aumentar novamente para mais de 100, um lockdown mais duro seria retomado.
A terceira onda
No estado de Brandenburgo, alguns dias depois, logo foi dito que as rédeas só seriam apertadas novamente a partir da marca de 200. Armin Laschet também colocou o freio de emergência em xeque: “não é automático”, disse ele. Ou seja: a resposta a uma nova explosão de casos pode variar de estado para estado.
Atualmente, o Instituto Robert Koch adverte que pode haver mais infecções na Páscoa do que no Natal. Entretanto, os políticos nos estados do norte da Alemanha estão pensando em abrir hotéis, casas e pousadas e tornar as viagens possíveis durante o feriado.
Os cidadãos reagem irritados diante a incerteza. Quem quer e ainda deve aderir às especificações e acordos, se os políticos já o fazem mais? “Como governo federal, reconhecemos a perigosidade da situação, e todos deveriam”, disse o porta-voz do governo, Steffen Seibert, em alerta aos estados.
Reconhecer a perigosidade é uma coisa, reagir a ela é outra. Neste aspecto, entretanto, o governo federal tem um histórico muito modesto, seja no tema máscaras ou na campanha de vacinação. Foram justamente deputados dos partidos governantes CDU e CSU que fizeram negócios com a aquisição da máscara e lucram com isso.
Markus Söder insiste agora que o “freio de emergência” seja aplicado uniformemente na segunda-feira, em reunião dos governadores com Merkel. Será que ele conseguirá fazer isso? A opinião pública poderia ajudá-lo. De acordo com uma pesquisa, subiu de 12% para 32% a parcela da população que acha que as medidas de restrição contra o coronavírus não são suficientes. Apenas um em cada quatro ainda acha que as medidas atuais são amplas demais, uma queda de cinco pontos percentuais em relação à última sondagem.
Entre epidemiologistas e eleitores
O ano de 2021 é de eleições na Alemanha, nacionais e estaduais. Qualquer pessoa que tenha uma eleição chegando não escuta apenas os virologistas e epidemiologistas, mas também observa com muito cuidado a forma como os eleitores avaliam a situação.
Mas os cidadãos estão mais do que cansados da pandemia. Eles querem suas velhas vidas de volta. Eles anseiam por sol e calor, por convívio e uma existência despreocupada. O quão grande é a pressão foi demonstrada há alguns dias quando Mallorca, a ilha preferida dos alemães, na Espanha, foi retirada da lista de áreas de alto risco. Rapidamente, todos os voos disponíveis foram reservados. Não importa a que preço.
Em 3 de março, na última reunião de Merkel com governadores, sob pressão do público foi decidida uma estratégia de abertura conjunta em cinco etapas. Isso, porém, com a possibilidade de ativar um “freio de emergência”. No caso de incidência aumentar novamente para mais de 100, um lockdown mais duro seria retomado.
A terceira onda
No estado de Brandenburgo, alguns dias depois, logo foi dito que as rédeas só seriam apertadas novamente a partir da marca de 200. Armin Laschet também colocou o freio de emergência em xeque: “não é automático”, disse ele. Ou seja: a resposta a uma nova explosão de casos pode variar de estado para estado.
Atualmente, o Instituto Robert Koch adverte que pode haver mais infecções na Páscoa do que no Natal. Entretanto, os políticos nos estados do norte da Alemanha estão pensando em abrir hotéis, casas e pousadas e tornar as viagens possíveis durante o feriado.
Os cidadãos reagem irritados diante a incerteza. Quem quer e ainda deve aderir às especificações e acordos, se os políticos já o fazem mais? “Como governo federal, reconhecemos a perigosidade da situação, e todos deveriam”, disse o porta-voz do governo, Steffen Seibert, em alerta aos estados.
Reconhecer a perigosidade é uma coisa, reagir a ela é outra. Neste aspecto, entretanto, o governo federal tem um histórico muito modesto, seja no tema máscaras ou na campanha de vacinação. Foram justamente deputados dos partidos governantes CDU e CSU que fizeram negócios com a aquisição da máscara e lucram com isso.
Markus Söder insiste agora que o “freio de emergência” seja aplicado uniformemente na segunda-feira, em reunião dos governadores com Merkel. Será que ele conseguirá fazer isso? A opinião pública poderia ajudá-lo. De acordo com uma pesquisa, subiu de 12% para 32% a parcela da população que acha que as medidas de restrição contra o coronavírus não são suficientes. Apenas um em cada quatro ainda acha que as medidas atuais são amplas demais, uma queda de cinco pontos percentuais em relação à última sondagem.