Educação & Cultura
Custo da educação privada aumenta a desigualdade
Unesco sugere definição de padrões de qualidade para centros escolares estaduais e não-estatais no mundo; relatório coloca o Brasil está entre quatro nações das Américas com altos níveis de estratificação social
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, alerta que os altos custos da educação privada e a fraca regulamentação dos países aumentam a desigualdade e a exclusão no ensino em escala mundial.
O Relatório de Monitoramento da Educação Global, GEM, destaca que os estabelecimentos não-estatais absorvem 40% dos alunos do pré-primário, 20% dos que frequentam o ensino fundamental e 30% dos níveis médio e superior.
Regulamentação
Entre ações propostas para melhorar a regulamentação nas escolas, a agência aponta a definição de padrões de qualidade que sejam aplicáveis às instituições de ensino estaduais e não-estatais.
A análise sugere ainda o reforço da capacidade dos governos de monitorar e fazer cumprir as regulamentações, o incentivo à inovação pelo bem comum e a união das partes envolvidas para o avanço e a “proteção da educação de interesses ocultos”. Efeitos da Covid-19 trouxeram um fardo adicional aos orçamentos familiares e fizeram disparar despesas escolares
Estima-se que somente 27% dos Estados proíbem explicitamente que escolas primárias e secundárias privadas atuem orientadas ao lucro. Esta situação “contraria a visão de 12 anos de educação gratuita para todos”, destaca a Unesco.
Os integrantes do grupo que preparou o estudo GEM monitoram o progresso para o cumprimento da meta para a educação universal da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável.
Contextos
A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, apelou à urgência das autoridades em criar mecanismos de financiamento justos. Ela argumenta que pessoas que vivem em contextos mais desfavorecidos não devem ser penalizadas.
O relatório intitulado Quem escolhe? Quem perde? enfatiza que, ao mesmo tempo, a educação pública em nações de baixa renda tem custos camuflados.
Uma análise feita em 15 economias de rendimento baixo revela, por exemplo, que famílias gastaram quase 40% do orçamento em despesas com uniformes escolares e artigos para o ensino. Unesco revela que instrução pública muitas vezes não é inclusiva
Com uma instrução pública muitas vezes não inclusiva, vários sistemas educativos não conseguem impedir a estratificação e segregação sociais. Argentina, Brasil, Chile e México são citados pelos altos níveis de estratificação observados em 2018.
Dinheiro emprestado
O Relatório de Monitoramento Global Educação faz um apelo aos governos para que estabeleçam regras para as instituições de ensino, alunos e professores como parte de um único sistema.
As normas, as informações, os incentivos e a prestação de contas “deverão ajudar as autoridades a proteger, respeitar e cumprir o direito à educação de todos”, além de impedir que estas percam o controle de focos de privilégio ou exploração.
Cerca de 8% das famílias em países de baixa e média rendas tiveram que pedir dinheiro emprestado para pagar despesas escolares de seus filhos. A porcentagem chega a 30% em países como Uganda, Haiti, Quênia e Filipinas.
Os efeitos da Covid-19 trouxeram um fardo adicional aos orçamentos familiares e fizeram com que as taxas escolares e outras despesas se tornassem incomportáveis para muitos agregados.