Saúde
Sentir com o cérebro? Não, sentir com o coração
Coração e cérebro comunicam-se constantemente.
Sentimentos e batidas do coração
Talvez a ligação histórica que se faz dos sentimentos com o coração não esteja assim tão errada.
Cientistas descobriram que a sensibilidade de uma pessoa a estímulos externos depende não apenas do estado do seu sistema nervoso – do seu cérebro -, mas também do seu ciclo cardíaco.
Normalmente, não percebemos nosso batimento cardíaco, prestando atenção a ele apenas em situações incomuns, como em momentos de excitação, antes de uma apresentação, ou durante uma arritmia.
O cérebro suprime ativamente a percepção dos nossos batimentos cardíacos, mas, como resultado, nossa percepção de outros estímulos sensoriais também pode ser afetada.
Esta é a conclusão de Esra Al e seus colegas da Universidade Nacional de Pesquisa (Rússia).
Os resultados do estudo podem fornecer novas informações sobre a compreensão dos processos neurais associados às condições de ansiedade. Tais condições estão associadas não apenas a uma mudança na frequência cardíaca, mas também a uma mudança na percepção dos batimentos cardíacos.
Coração e cérebro comunicam-se constantemente.
Sensação e coração
Um ciclo cardíaco consiste em duas fases: sístole e diástole. Durante a sístole, os músculos do coração se contraem e, durante a diástole, relaxam. Estudos anteriores apontaram que uma pessoa é mais suscetível a vários estímulos durante a diástole e menos sensível durante a sístole.
Para descobrir o que acontece ao cérebro durante as duas fases do ciclo cardíaco, os cientistas conduziram um experimento estimulando os dedos de 37 voluntários com uma corrente elétrica quase imperceptível. Ao mesmo tempo, a atividade cerebral e cardíaca foi monitorada com eletroencefalograma (EEG) e eletrocardiograma (ECG), respectivamente. Após cada teste, os voluntários contavam se haviam sentido alguma estimulação.
Como esperado, durante a sístole os participantes frequentemente não notaram a presença de estímulos. Essa diminuição na sensibilidade foi registrada como uma mudança na atividade cerebral. Os registros de EEG podem mostrar o potencial associado à detecção dos estímulos. Durante a sístole, esse potencial foi menos pronunciado.
Curiosamente, quanto menor o potencial antes do estímulo, maior a capacidade de detecção e localização dos estímulos – e vice-versa. É o que os cientistas chamam de correlação negativa, ou seja, quanto maior o potencial causado pelo batimento cardíaco, menor o potencial gerado no cérebro e maior a probabilidade de o sujeito não sentir a corrente.
Truque para evitar distrações
Os pesquisadores acreditam que o cérebro preveja quando a próxima contração do coração ocorrerá e suprime mais fortemente a percepção de estímulos na fase sistólica, para que a pessoa não se distraia com o ritmo cardíaco ou confunda o batimento do coração com um estímulo externo.
“Esses resultados são interessantes, já que mostram que nossa percepção consciente do mundo externo pode mudar dentro de cada ciclo de batimentos cardíacos, que é um evento rítmico ao qual geralmente não prestamos atenção,” comentou Esra Al. “Portanto, essas descobertas sugerem que não apenas o cérebro, mas também o corpo, desempenha um papel importante na formação da nossa consciência.”