Educação & Cultura
Cuidado socioemocional pode virar um legado para escolas no pós-pandemia
Última etapa do Guia de Acolhimento na Volta à Escola do Laboratório Inteligência de Vida propõe dinâmicas que debatam aprendizados durante o distanciamento social e deem continuidade a atividades de acolhimento e escuta dos sentimentos no ambiente escolar.
Diretamente conectada à missão do LIV (Laboratório Inteligência de Vida) de promover uma educação socioemocional para todos, a Jornada do Selo Azul é uma iniciativa criada para apoiar toda a comunidade escolar no processo de retomada das aulas presenciais. Trata-se de um percurso no qual escolas inscritas passam por um raio X da saúde mental e depois três paradas: acolhimento, elaboração, e ancorada. Aquelas que chegam ao final da Jornada recebem o Selo Azul, um símbolo de que aquela comunidade escolar reconhece a importância de um olhar consciente para o acolhimento e para a saúde mental, sobretudo neste momento de retomada.
Depois de falar sobre a importância de reservar um tempo para o acolhimento, com momentos de fala e escuta tanto dos alunos, como de professores, funcionários e famílias e a realização de um trabalho envolvendo toda a comunidade escolar, e também sobre a preocupação em elaborar vivências, pensamentos e experiências do isolamento social, com verdadeira atenção à saúde mental das pessoas e o cuidado com aqueles que perderam entes queridos, chega a hora de falar sobre a última etapa do percurso: a ancorada.
A terceira etapa do Guia de Acolhimento na Volta à Escola convida as escolas que chegaram até aqui a tornar a preocupação socioemocional um verdadeiro pilar dentro da instituição, e não uma ação pontual restrita a este momento. A ideia é reforçar a importância de absorver ensinamentos e aprendizados que as novas vivências trouxeram e, a partir deles, traçar novos caminhos, sempre incluindo a atenção e cuidado socioemocional em todos os trabalhos.
Para entender como ações envolvendo as famílias, professores e alunos podem ajudar não só a retomada das aulas presenciais, mas a dinâmica familiar e o aspecto socioemocional de todas as pessoas que compõem a comunidade escolar, o Porvir conversou com Ana Carolina Medeiros, Coordenadora Pedagógica do LIV. Confira a seguir.
Porvir: Por que dedicar a última etapa da Jornada do Selo Azul à reflexão e absorção dos aprendizados e conhecimentos obtidos em meio à pandemia e nas etapas anteriores da Jornada?
Ana Carolina: Quando começamos a pensar sobre a possibilidade do retorno às atividades na escola, um dos nossos maiores medos era que a preocupação com o socioemocional de alunos e funcionários se limitasse às primeiras semanas de aula. Tínhamos receio de que a volta à escola estimulasse uma busca desenfreada pelo ritmo normal das atividades. Então, com o Guia, criamos um momento voltado para a reflexão mais profunda sobre certas questões evidenciadas pela pandemia, como a importância de ampliar nossa rede de cuidado com as crianças e jovens, zelar pela saúde mental, além de reflexões sobre o ato de ensinar e aprender.
Porvir: Como as atividades envolvendo as famílias, como construção de redes de apoio e oferecer suas expertises para quem precisa podem ajudar a fortalecer a comunidade escolar? Por que isso é importante para o bom funcionamento de uma escola?
Ana Carolina: Durante esse período de pandemia, ficou evidente a dificuldade que é criar crianças de maneira isolada sem redes de apoio de avós, tios, amigos íntimos ou da escola. Neste sentido, pensamos que seria importante reforçar os laços entre as diferentes famílias que compõem a comunidade escolar como forma de permitir que essas se ajudem no ato de cuidar. Entendemos que a retomada das atividades econômicas irá acontecer de diferentes maneiras, então podemos ter alguns pais trabalhando em tempo integral fora de casa enquanto outros ainda permanecem em home office. Criar redes de carona e de cuidado pode ajudar no desafio imposto pelas novas rotinas de trabalho durante a retomada progressiva das atividades. Além disso, pensamos em replicar um convite feito durante o período de isolamento social de priorizar empreendimentos locais como forma de evitar que os mesmos fechassem durante a pandemia. O fortalecimento da comunidade pode ser uma forma de aproximar os pais da escola e das propostas pedagógicas, o que é fundamental para o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança.
Porvir: Quais são alguns exemplos de reflexões que professores e alunos devem realizar nesse momento, depois daquelas já feitas em outras etapas (acolhimento e elaboração)?
Ana Carolina: Nesse momento seria interessante os professores e alunos refletirem sobre a sua prática de ensino e aprendizagem durante o ensino remoto. Professores foram convidados a se aproximar de novas tecnologias, a refazer seus planejamentos de aula selecionando os conteúdos essenciais de suas disciplinas e se repensando enquanto docentes. Queríamos promover dinâmicas em que eles pudessem refletir sobre tais tópicos, considerar o que aprenderam sobre sua prática e, dessas aprendizagens, o que gostariam de manter a longo prazo. Já os alunos tiveram que lidar com um novo tipo de ensino com a modalidade remota. Essa seria uma boa oportunidade para convidá-los a pensar sobre como foi a sua aprendizagem durante os meses de aulas e atividades online e a refletir, de maneira mais ampla, como aprendem melhor e quais recursos e estratégias favorecem a sua construção de conhecimento. Recomendamos que esse tipo de atividade seja realizado com estudantes a partir do sexto ano.
Porvir: O guia menciona que essa etapa não deve ser vista como um encerramento. Como as atividades dessa etapa apoiam cada escola em uma reflexão sobre a importância de tornar a preocupação com o aspecto socioemocional algo permanente e não só restrito a esse momento de pandemia? O que fazer a seguir?
Ana Carolina: Nessa etapa, fornecemos à escola sugestões de ações que convidam alunos, pais, professores e gestores a pensarem de maneira crítica em suas práticas do dia a dia e a refletir sobre como gostariam de agir a partir daquele momento. Em especial, convidamos os gestores a promover reuniões com sua equipe para refletir sobre o papel da escola e quais são os próximos passos. Esperamos que, após uma série de atividades que favorecem o acolhimento das emoções e a promoção do autoconhecimento e empatia, a escola opte por seguir esse caminho nos próximos anos. O LIV continuará disposto a oferecer apoio para isso, por entendermos que um conteúdo diversificado para trabalhar as habilidades socioemocionais de maneira intencional conduz a novas possibilidades a serem trilhadas.