ECONOMIA
Saída de Guedes não é cogitada ‘nem internamente’, dizem fontes
Dúvidas em torno do futuro de Guedes foram reforçadas por informações de bastidores de que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, estaria cotado para assumir a Economia
A saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, do governo não está na mesa, afirmaram duas fontes da equipe econômica, num momento em que especulações sobre o futuro da pasta ganham força conforme aumentam as pressões políticas por mais gastos públicos.
Dúvidas em torno da permanência de Guedes no governo depois que mais dois de seus secretários especiais deixaram o ministério na última semana foram reforçadas por notas publicadas na imprensa neste fim de semana citando que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estaria cotado para assumir o comando da Economia.
Nesta segunda (17), houve mais uma baixa na equipe de Gudes. A saída do subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, no entanto, não está estreitamente ligada à ‘debandada’ da semana passada. Teles deixa a pasta por questões pessoais, há um caso de doença grave na família.
As duas fontes, que são próximas a Guedes e Campos Neto e falaram à Reuters em condição de anonimato, afirmaram que os dois economistas compartilham a mesma visão sobre a necessidade de controle das despesas para que o país possa reorientar sua trajetória de endividamento, especialmente após os gastos extraordinários ligados ao enfrentamento da pandemia de coronavírus.
Ambas as fontes afirmaram que a saída do ministro não está sendo cogitada internamente nem na Economia nem no BC. Uma delas complementou que, se isso ocorresse por vontade do presidente Jair Bolsonaro, seria provavelmente para colocar um sucessor determinado a gastar ―não seria o caso de Campos Neto, frisou.
Ruídos sobre uma eventual demissão de Guedes elevavam a tensão no mercado de câmbio nesta segunda, com vários analistas citando que a questão estava por trás da forte volatilidade apresentada na sessão.
A segunda fonte do governo pontuou que o ministro segue engajado na sua estratégia de desvincular gastos que são hoje obrigatórios e instituir regras de controle para a criação de mais despesas.
“Sempre teve esse conflito entre as áreas que querem orçamento para gastar e as que precisam controlá-lo. No passado, a briga era entre Planejamento e Fazenda. Aqui se centralizou num ponto só: (Ministério da) Economia”, afirmou a segunda fonte.
“E aí os ministérios periféricos estão aí, na beira do lago que está meio seco, querendo a vez para dar uma bicada na água. Nós estamos aqui querendo encher o reservatório”, acrescentou.
A estratégia de Guedes será, segundo interlocutores, apresentar um projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) que explicite a realidade das contas públicas em 2021: após o aval para os vultosos gastos por conta do surto de Covid-19, haverá pouquíssimo espaço para a realização de investimentos.
O PLOA precisa ser encaminhado ao Congresso até o fim deste mês.
Dar luz a esse quadro ajudaria, na visão da equipe econômica, a ressaltar a urgência da aprovação de uma proposta que está sendo gestada para acionar os gatilhos previstos na regra do teto de gastos. A ideia é abrir espaço para mais despesas a partir de dispositivos que já estavam previstos na lei que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior.
Isso porque a regra do teto foi aprovada sem determinar exatamente como seu descumprimento é medido para que os gatilhos sejam acionados. Agora, o governo quer dar clareza a essa questão, explicitando-a numa proposta que irá unir pontos da proposta de emenda à Constituição (PEC) Emergencial e do Pacto Federativo encaminhadas previamente ao Congresso.