Esporte
Jogadores de times europeus desvalorizaram € 5,4 bilhões na pandemia
Com a pandemia da covid-19, diversos setores foram paralisados para conter a disseminação do vírus. No futebol não foi diferente. O esporte mais popular do mundo ficou longe das televisões e dos estádios por cerca de 3 meses no Brasil e na Europa.
Apesar de o Brasil ser conhecido como o país do futebol, é no velho continente que o esporte movimenta as maiores cifras. Um bom medidor que comprova isso é o valor de mercados dos jogadores.
Levantamento realizado pelo KPMG Football Benchmark aponta uma desigualdade na variação dos valores e como a pandemia atingiu financeiramente as equipes.
O estudo analisou a balança dos 3 últimos trimestres desde novembro de 2019. Foram colhidos os dados de todos os jogadores dos 192 times que compõem as 10 maiores ligas da Europa: Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, França, 2ª divisão da Inglaterra, Holanda, Portugal, Bélgica e Turquia.
Dos mais de 4.000 jogadores, chama a atenção como o top 10 permaneceu praticamente inalterado em 1 ano. Apenas 1 jogador –o 10º colocado– entrou na lista. Juntando os 10 atletas mais caros do futebol, o valor de mercado deles é de € 1,35 bilhão. Representa 4,2% do valor somado de todos os elencos pesquisados.
O Poder360 preparou 1 infográfico mostrando o valor dos atletas e as principais alterações desde novembro. No top 10, apenas 3 jogadores desvalorizaram. Contudo, no apanhado geral, eles valem € 45 milhões a mais agora do que valiam há 9 meses.
Assim como visto entre craques e jogadores promissores, a hegemonia entre os times também foi mantida. Compilando os 10 clubes com os elencos mais valiosos da Europa –e do mundo– todos fazem parte do grupo conhecido como 5 grandes ligas: Alemanha (1), Espanha (2), França (1), Inglaterra (5) e Itália (1).
Esses 5 países, além de possuírem os campeonatos nacionais mais valiosos do futebol, também são os únicos europeus a já terem conquistado a Copa do Mundo. Somam 12 troféus, contra 9 da América do Sul.
Os 3 primeiros times na lista são os únicos com 1 plantel que vale mais de € 1 bilhão (cerca de R$ 6,3 bilhões cada). Porém, essa fortuna traduzida em jogadores não é comum, e nem sequer vem aumentando. Desde fevereiro, os 192 times perderam 14,5% no valor de mercado dos atletas. São € 5,4 bilhões a menos em 6 meses.
A tendência recente do mercado futebolístico é uma valorização constante dos jogadores, que valem cada vez mais com o passar dos anos. No último trimestre pré-pandemia, encerrado em fevereiro, os clubes das 10 ligas viram seus elencos ficarem 2,7% mais caros.
Então, veio o coronavírus e, com ele, a paralisação –e até cancelamento– dos torneios. De fevereiro a maio, houve recuo de 17,6% no valor de mercado dos atletas (na média geral).
A retomada começou em maio e ganhou força em junho (só as ligas belga, francesa e holandesa terminaram antes do previsto.) Com os jogadores de volta aos gramados, o mercado reacendeu, mas recuperou apenas uma fração do que perdeu no trimestre anterior. De maio a agosto, a valorização foi de 3,8%.
MONITORES E DOMÍNIO INGLÊS
O valor de mercado dos jogadores de futebol não é medido apenas pela habilidade do jogador. Ele é fortemente influenciado pelo potencial que o mesmo pode atingir, e isso depende muito da idade. Atletas jovens e promissores que já demonstram qualidade tendem a ser mais valorizados.
Os 3 melhores jogadores do mundo em 2019 eleitos pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) foram, respectivamente, o argentino Lionel Messi, o holandês Virgil Van Dijk e o português Cristiano Ronaldo. Dentre eles, apenas Messi figura entre os 10 mais caros do mundo –em 7º. Além disso, ele está entre os 3 na lista que desvalorizaram. Ficou € 11 milhões “mais barato”.
Pesa contra o argentino os 33 anos. Cristiano Ronaldo é outro exemplo. Tem 35 anos e foi eleito 5 vezes o melhor jogador do mundo –uma a menos que Messi. Mesmo assim, não está entre os 10 mais caros.
Outro fator determinante é o tempo de contrato. É o caso de Messi. O atacante está no seu último ano de compromisso com o Barcelona, da Espanha. Quando se atinge 6 meses para o vencimento, qualquer jogador a partir de 23 anos pode assinar 1 pré-contrato de graça com qualquer time, entrando em vigor na temporada seguinte.
Com isso, os times que não querem perder 1 ativo valioso sem receber nada em troca podem optar por vendê-lo 1 ano antes de expirar o contrato e lucrar com a negociação. Esse negócio “forçado” desvaloriza jogadores, principalmente os mais velhos.
Na direção oposta, a Inglaterra possui uma safra de jogadores jovens e promissores, além de possuir o campeonato nacional mais valioso do mundo –a Premier League. O futebol inglês está tão à frente que a 2ª divisão do país é a 6ª colocada entre as ligas mais valiosas do mundo.
Dos 10 jogadores mais valiosos do mundo, 4 são ingleses. Dois deles são sub-23 e não entram na regra contratual citada acima. Ainda, 6 dos 10 atletas jogam em times da Premier League. E mais, 5 dos 8 times com os elencos mais caros são da terra da Rainha.
No futebol, a Inglaterra é independente de Escócia, País de Gales e Irlanda. Cada país do Reino Unido possui sua própria federação, seleção e campeonatos locais, com poucas exceções.
A principal explicação para o domínio inglês é a publicidade e a organização da Premier League e das 3 divisões inferiores. A primeira é gerida pelos próprios clubes, sem interferência da federação local, a FA (Football Association), que comanda as copas em formato mata-mata, as seleções e as ligas semi-profissionais e amadoras.
Em posse da associação de clubes, o torneio tem liberdade para negociar contratos de transmissão e patrocínios. O campeonato é feito para a TV por assinatura e oferece centenas de milhões de libras –moeda mais valorizada que o euro– em premiação para todos os 20 times participantes. Até os times que sobem da 2ª divisão para a 1ª recebem 1 cheque de 9 dígitos ao fim da temporada.
Essa valorização da liga inglesa traz mais investimento, mais jogadores estrangeiros e mais visibilidade ao campeonato. Como consequência, atrai mais interesse do público inglês, que não comemora uma Copa do Mundo desde 1966.
Poder 360