AGRICULTURA & PECUÁRIA
IBGE retrata cobertura natural dos biomas do país de 2000 a 2018
Todos os biomas brasileiros tiveram saldo negativo, mas a perda foi diminuindo de magnitude ao longo dos anos. Os maiores quantitativos de redução de áreas naturais estiveram concentrados nos Biomas Amazônia e Cerrado. O Pantanal foi o bioma que apresentou os menores decréscimos de áreas naturais, tanto em termos absolutos (2.109 km²) quanto percentuais (1,6%). A maior perda percentual ocorreu no Bioma Pampa, onde 16,8% de sua área natural, em 2000, foi convertida em usos antrópicos.
Entre 2000 e 2018, houve uma desaceleração nas perdas de áreas naturais no país. A maior desaceleração ocorreu no Bioma Mata Atlântica: de uma perda de 8.793 km², entre 2000 e 2010, para menos 577 km², entre 2016 e 2018. Na Caatinga, nesses mesmos cortes temporais, as perdas foram de 17.165 km² e de 1.604 km², respectivamente. A Mata Atlântica, que sofre a ocupação mais antiga e intensa, conserva 16,6% de suas áreas naturais, o menor percentual entre os biomas. Já a Caatinga, o terceiro bioma mais preservado do país, tem 36,2% de seu território sob influência antrópica.
Entre 2000 e 2018, os biomas terrestres brasileiros perderam cerca de 500 mil km² de sua cobertura natural. Em números absolutos, nesse período, a maior perda foi do bioma Amazônia (269,8 mil km²), seguido pelo Cerrado (152,7 mil km²). Já a maior perda percentual correu no Pampa: menos 16,8% de área natural. Enquanto isso, no mesmo período, o Pantanal teve as menores perdas, em área (-2,1 mil km²) e percentual (-1,6%). São dados das Contas de Ecossistemas: Uso da Terra nos Biomas Brasileiros (2000-2018), que o IBGE divulga hoje, em mais uma etapa do projeto de incluir os indicadores ambientais do país nas Contas Nacionais.
Entre 2000 e 2018, a Amazônia perdeu quase 8% de sua cobertura florestal, substituída, principalmente, por áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248,8 mil km², em 2000, para 426,4 mil km² da Amazônia, em 2018. No Cerrado, houve expansão contínua e acelerada da agricultura, cuja área cresceu 102,6 mil km², entre 2000 e 2018. Aliás, em 2018, 44,61% das áreas agrícolas e 42,73% das áreas de silvicultura do Brasil encontravam-se no Bioma Cerrado.
Amazônia: vegetação florestal perde espaço para pastagens
A Amazônia foi o bioma com mais perdas, entre 2000 e 2018: menos 265.113 km², a maior redução de coberturas naturais nos biomas brasileiros. Em 2018, sua cobertura florestal representava 75,7% de sua área original.
A classe de vegetação florestal deu lugar, sobretudo, a áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248.794 km² em 2000 para 426.424 km² do bioma em 2018, e de mosaico de ocupações em área florestal, que representou 31% das conversões observadas, evidenciando uma fragmentação da paisagem na região. É importante notar o gradual crescimento da área agrícola na região, passando de 17.073 km², em 2000 para 66.350 km², em 2018.
A dinâmica amazônica, no período, é marcada pelas transições entre vegetação florestal, mosaico de ocupações em área florestal e pastagem com manejo, que muitas vezes se intercalam, mas seguindo a tendência geral de crescimento das classes de pastagem e mosaico de ocupações em área florestal e diminuição da classe de vegetação florestal.
No Cerrado, expansão acelerada da agricultura reduz vegetação campestre e florestal
A característica mais marcante das transformações de uso da terra do Bioma Cerrado é a expansão contínua e acelerada da agricultura, com o acréscimo de 102.603 km² entre 2000 e 2018. Nota-se que as áreas de vegetação campestre e florestal se reduziram, também, progressivamente, dando lugar a pastagem com manejo e área agrícola.
A pastagem é a segunda classe de uso da terra mais representativa nesse bioma, e sua relevância se deve às características históricas de ocupação. Em 2018, 44,61% das áreas agrícolas e 42,73% das áreas de silvicultura do Brasil encontravam-se no Bioma Cerrado.
De 2000 a 2018, no Cerrado, houve alta de 52,92% para as áreas agrícolas e de 104,32% para as áreas de silvicultura. A expansão da agricultura está relacionada as commodities agrícolas, com duas grandes concentrações. A primeira, na região Centro-Sul – englobando os Estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, que possui alta capacidade de investimento dos atores envolvidos, bem como aptidão agrícola do solo.
A outra concentração, no MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), vem sendo ocupada por plantações de soja, algodão e outras monoculturas de grãos e cereais, o que representa uma expansão contínua de padrão, de sul para norte, na agricultura brasileira.
A expansão da silvicultura, por sua vez, está associada, em termos de valor da produção, às atividades da indústria de papel e celulose, em crescimento no período citado, seguidas do uso tradicional para produção de lenha e carvão vegetal.
Na Mata Atlântica, as áreas naturais sofreram pouca alteração no período
A Mata Atlântica é o único bioma terrestre brasileiro cuja classe predominante da terra não é de cobertura natural. A vegetação florestal representava em 2018 apenas 12,6% de seu território, e, em 2000, 13,3%. Ou seja: as áreas naturais sofreram pouca alteração no período, no entanto, continuam a apresentar diminuição. Os destaques nas conversões de classes nesse bioma ficaram com a área agrícola e a silvicultura, que representaram, respectivamente, 32,9% e 42,7% das áreas do país em 2018, sendo o crescimento mais expressivo dessa última, com 33,9%, seguido pela área agrícola, com 19,6%.
A Mata Atlântica é o bioma com a maior densidade demográfica do país, abrigando 49,3% das áreas urbanas nacional em 2018. Essas particularidades se devem ao seu histórico de ocupação e urbanização, a partir das áreas litorâneas rumo ao interior, na formação territorial brasileira.
Caatinga: influência antrópica é baixa, cobertura natural diminui
Em 2018, predominava na Caatinga a vegetação campestre (46,8%), sendo apenas 5,6% de seu território com usos antrópicos estritos sob a forma de pastagem com manejo. Contudo, o bioma apresenta uma diminuição contínua de suas coberturas naturais, e a vegetação campestre teve sua área reduzida em 26.768 km². De 2000 a 2018, cerca de 47,3% das mudanças de uso e cobertura da terra nesse bioma foram relativas à conversão de vegetação campestre em mosaico de ocupações em área campestre.
As classes de mosaicos são bastante representativas na região, devido a um número elevado de estabelecimentos rurais de pequeno porte, caracterizados por cultivos de subsistência, pequenas pastagens ou sistemas agroflorestais.
Vegetação natural do Pampa perdeu 15,6 mil Km², com a maior parte convertida em áreas agrícolas e de silvicultura
No Pampa, predominava em 2018 a vegetação campestre (37,42%), seguida pela classe de área agrícola (36,3%), além de 19,3% da área natural descoberta do Brasil, o que inclui dunas e areais. O seu território, porém, sofreu alterações bastante intensas nas últimas décadas. A vegetação natural campestre sofreu redução de 15.607 km² entre 2000 e 2018. No período de 2000 a 2018, as maiores áreas convertidas de áreas naturais em outros usos da terra (antrópicos) foram: 58,0% em área agrícola, e 18,8% em silvicultura.
Essa expansão ocorre sobre bacias sedimentares, importante área de recarga do Aquífero Guarani, um dos maiores e mais importantes mananciais hídricos subterrâneos do país. Tal substituição se deu seguindo a tendência nacional de investimento em commodities, sobretudo soja e outros grãos, mas também no cultivo de gêneros alimentícios, como arroz e trigo.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da região, contudo nota-se que a classe de pastagem com manejo não tem representatividade no bioma, mesmo sendo essa região relevante na produção de bovinos, equinos e outros rebanhos, que acontece áreas campestres de coberturas naturais dos pampas.
Pantanal apresentou os menores decréscimos de áreas naturais
O Pantanal foi o bioma que apresentou os menores decréscimos de áreas naturais, tanto em termos absolutos (2.109 km²) quanto percentuais (1,6%). O Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, possuindo cerca de 90% de sua área formada por planícies, onde engloba 48,3% da área úmida nesse compartimento de relevo do Brasil. Em 2018, 87,5% de seu território tinha cobertura natural (vegetações florestal e campestre e área úmida), e a maioria (59,9%) das alterações verificadas, a partir de 2010, corresponde a conversões para pastagem com manejo sobre áreas naturais campestres.
A pastagem na vegetação campestre é o uso tradicional da região há cerca de dois séculos, com manejo pouco intenso e a manutenção do gado seguindo o regime de cheias e vazantes. O investimento no manejo do pasto, com o plantio de diferentes espécies de forrageiras exóticas e a formação de pastos delimitados, tem maior rentabilidade e vem substituindo a forma tradicional de pecuária na região, para que a atividade ganhe competitividade.