CIÊNCIA & TECNOLOGIA
IDENTIFICAÇÃO SEM CONTATO CRESCE NA PANDEMIA E IMPULSIONA NOVOS NEGÓCIOS
O surgimento da Covid-19 trouxe para todos a necessidade de diminuir o uso de equipamentos que necessitem de contato para o funcionamento, desde caixas eletrônicos às catracas de acesso aos prédios comerciais. Dentro deste contexto, a demanda por soluções que permitam a identificação sem contato — de identificação facial a chaves eletrônicas — cresceu de forma exponencial ao longo do ano.
Enquanto a receita de dispositivos que usam biometria deve cair 22% neste ano (perda de US$ 1,18 bilhão), de acordo com a ABI Research, o mercado soluções deste setor tem projeção de fechar 2021 com ganhos de US$ 30 bilhões e expectativas de alcançar US$ 40 bilhões até 2025.
O momento positivo do setor também se replica no Brasil: projeções da Associação das Empresas de Tecnologia em Identificação Digital (Abrid) estimam que o setor movimentará cerca de US$ 1 bilhão até o final deste ano.
Um fator positivo gerado pela pandemia é que, por conta da alta demanda, as tecnologias que utilizam reconhecimento facial ou mesmo identificação sem contato ficaram mais baratas, tornando seu uso acessível para empresas de médio e pequeno porte.
As soluções de reconhecimento facial também mais sofisticadas. “Se você pegar o reconhecimento facial de um ano atrás verá que não é só o custo que reduziu, mas a qualidade que melhorou”, pontua Pedro Bicudo, analista de estudos da ISG, que recentemente com o IT Forum em uma reportagem especial sobre tecnologias emergentes (como reconhecimento facial) para o podcast Entre Tech.
E como esse momento está sendo vivido por empresas brasileiras que atuam no mercado de identificação digital? Conversamos com algumas dessas companhias e, abaixo, apresentamos o panorama de negócio de cada uma delas.
Cyberlabs foi de uma “portaria do futuro” a um novo modelo de negócio
Fundada em 2017, a carioca Cyberlabs é uma companhia focada em desenvolver soluções que envolvam inteligência artificial e visão computacional. Mas a aplicação desses recursos dentro do mercado de reconhecimento facial aconteceu de forma não pensada pela companhia.
“A entrada na Cyberlabs sempre foi mediante reconhecimento social, com um aplicativo que funcionava localmente. Era o nosso controle de ponto e todo o mundo que ia ao nosso escritório recebia um convite e entrava com o reconhecimento facial”, explica Felipe Vignoli, sócio diretor da companhia. “A resposta das pessoas era estonteante, ao estilo ‘Caramba, eu quero isso no meu escritório agora!’ E a gente começou a ver que, bom, precisávamos produtizar isso.”
Com base nisso, a empresa tirou seu aplicativo da borda (edge) levando-o à nuvem, e começou a trabalhar nas medidas de privacidade, pensando na GPDR, e em um modelo proprietário de reconhecimento facial, com base no contexto brasileiro. “Nós treinamos o nosso modelo mais de dezesseis milhões de faces brasileiras, né, pra reduzir esse bias [viés] racial. Hoje a gente bate a performance dos maiores concorrentes de reconhecimento facial em comparativos de performance”.
A produção e aperfeiçoamento desse modelo resultou no Key App, aplicativo que utiliza a tecnologia para escanear faces e autorizar (ou não) a entrada em ambientes e também medir a temperatura corporal, pensando em tempos de pandemia, além de possuir integração com smartphones para cadastrar rostos e liberar acessos via QR code. Lançado efetivamente em abril, a solução conta com aproximadamente sete mil usuários.
A Cyberlabs também desenvolveu o Insight Now, plataforma que utiliza câmeras para monitorar transeuntes. Apesar de ter ficado conhecida ao ser utilizada pela Prefeitura do Rio de Janeiro para medir o nível de circulação dos cidadãos, a solução também conta com clientes corporativos.
“[A plataforma] estava rodando em uma das maiores redes de academia do Brasil, para fazer a comparação da frequência e performance das aulas de cada unidade”, afirma Vignoli, explicando que esse serviço, das duas mil câmeras que a plataforma tinha no início do ano, o número passou para cinco mil em outubro.
Em agosto, a companhia recebeu um aporte de US$ 5 milhões (cerca de R$ 28 milhões) em rodada liderada pela Redpoint eventures. Além de implementar novas funções no Key App e Insight Now, a companhia planeja investir em outras formas de reconhecimento de identidade como sintetização de voz. “Nós estamos focando neste tipo de tecnologia para também fornecer acessibilidade e democratização. Por exemplo, criando conteúdo para pessoas com alguma deficiência”.
Unico quer que você deixe todos os documentos em casa e passe a usar apenas seu rosto
Companhia especializada no fornecimento de software de gestão e performance, a Senior Sistemas possui um produto chamado Ronda Senior, que faz a gestão completa de acesso e segurança de empresas. Dentre outros recursos, a plataforma implementou no início do terceiro trimestre recursos de reconhecimento fácial, como forma de garantir o controle de fluxo de pessoas que passam pelas empresas que possuem sua solução.
Fabio Nikel, Head de Produto de Gestão de Acesso e Segurança da companhia, reforça o panorama apresentado no início desta reportagem, de que o uso de soluções de identificação à distância foi possível por causa do seu uso massivo e, consequentemente, barateamento.
“O reconhecimento facial já existia, só que era muito caro e muito ineficiente. A indústria mundial foi forçada a se modernizar e, com isso, a tecnologia evoluiu muito e ficou muito mais acessível. Eram uma tecnologia que só ficavam na ficção ou em grandes corporações podiam pagar milhões por aquilo. Com essa nova realidade, a gente consegue ter isso a custos muito mais acessíveis disponíveis para qualquer empresa.”
Nikel afirma que, de acordo com números da indústria, o mercado sinaliza um aumento de 40% de uso de tecnologias como reconhecimento facial e QR code, sendo que esse aumento de uso se traduz não só em softwares mais sofisticados, mas também uma gama maior de equipamentos compatíveis com suas funcionalidades.
“Inicialmente, nosso cliente tinha apenas a opção A pra analisar, com seus prós e contras. Recentemente, também surgiu a opção B, que permitia realizar uma comparação entre A e B. Agora, também temos a opção C. Estamos percebe uma liberdade boa no mercado, na qual é possível escolher um equipamento por questões que vão do design a, por exemplo, consumo de energia elétrica”, aponta Nikel.
“E o mais importante de tudo é que o cliente o nosso cliente pode se sentir confortável de que opção A, como a B e a C vai conversar nativamente com o sistema […] Ele adquire a solução que você quiser em relação ao hardware e a gente assegura que ela vai funcionar.”