ENTRETENIMENTO
Atriz brasileira estreia em Tollywood e busca expandir carreira nos EUA
Ao lado de estrelas, como Vishnu Manchu e Kajal Aggarwal, a brasileira fará a estreia como atriz no longa indiano “Mosagallu”, que chega nesta quinta-feira (18) aos cinemas da Índia e dos Estados Unidos
Aos 35 anos, Priscilla Avila começa a ter o retorno de anos de estudo e investimento na carreira artística fora do país. Ao lado de estrelas, como Vishnu Manchu e Kajal Aggarwal, a brasileira fará a estreia como atriz no longa indiano “Mosagallu”, que chega nesta quinta-feira (18) aos cinemas da Índia e dos Estados Unidos.
O filme é uma produção de Tollywood, uma das vertentes cinematográficas da Índia. O nome tem origem na fusão de Tollygunge, em referência a um bairro de Calcutá, e de Hollywood (indústria cinematográfica americana). Embora a palavra Bollywood -união de Bombaim, antigo nome de Mumbai, com Hollywood- ser por vezes aplicada ao cinema indiano com um todo, existem muitas outras com base em idioma e local de origem.
“Mosagallu”, que significa fraudadores em português, narra a história de um dos maiores golpes de call center, no qual milhões de dólares dos contribuintes americanos foram roubados. Na trama, os golpistas indianos fingem ser do governo e ligam para oferecer descontos em impostos para as pessoas.
Priscilla Avila interpreta Futterman, uma americana de origem latina que é enganada pela quadrilha. A atriz afirma que gravou as cenas em fevereiro de 2020, nos Estados Unidos. Na ocasião, a pandemia do coronavírus ainda estava no início. A previsão de lançamento do longa era para o mesmo ano, mas foi adiada.
Ela diz que atuou em inglês e não teve contato com as estrelas indianas, que gravaram separadamente. “A gente fez cenas como se eles [atores indianos] falassem comigo, só vou saber [como ficou] assistindo ao filme”, diz Avila, aos risos. O filme foi gravado simultaneamente em telugu, um dos 22 idiomas oficiais da Índia, e em inglês.
O ator de televisão e de cinema, Vishnu Manchu é o produtor do filme e gravou as cenas nos Estados Unidos e na Índia. Já a estrela de Bollywood, Suniel Shetty, faz o papel do policial ACP Kumar e diz, em entrevista ao India Today, que o “filme está muito próximo de seu coração e ele se sente honrado em trabalhar com o ator Mohan Babu”.
Além de Manchu, Shetty e Babu, o filme tem ainda no elenco Rana Daggubati e a atriz Kajal Aggarwal -essa última interpreta Anu, um dos personagens principais da trama. A direção é do cineasta Jeffrey Gee Chin que faz sua estreia em Tollywood.
Priscilla Avila compara o método de filmagem do filme com as soluções atuais encontradas por muitas produtoras para gravação durante a pandemia. Ela recorda que o longa foi conduzido com pouca interação de todo o elenco, havia equipes pequenas, de no máximo cinco pessoas, em diferentes partes do mundo e em vários idiomas.
“A pandemia abriu a cabeça de muita gente, porque não dá mais para pensar em um mundo só aqui onde você está. Quase tudo vai ser remoto, a gente vai aprender a compartilhar mais as coisas”, diz Avila, ao ressaltar que papéis menores no filme, como o dela, não chegam a aparecer nos cartazes de divulgação, como às celebridades de Tollywood e Bollywood, mas abre portas para novos trabalhos.
O filme nem estreou e a brasileira atrai a atenção dos indianos, com um fã-clube e um perfil fake dela nas redes sociais. “Eles são muito apaixonados [por cinema] e mandam mensagens dizendo que me amam. Eu penso que eles têm essa coisa de amor platônico”, diz a atriz, que está morando em São Paulo desde maio de 2020, sem poder voltar a Los Angeles (EUA), devido às barreiras sanitárias, onde morava desde 2019.
Enquanto está no Brasil, Avila afirma que tem procurado oportunidade na área, mas não deixou de fazer trabalhos remotamente, como dublagens, séries em que ela mesma grava e o diretor a dirige a distância, e curtas-metragens, como “Me Chame de Cassandra”. “Além de abrir [mercado] na Índia, eu vou abrir no Brasil, porque a gente não sabe o tempo de duração dessa pandemia”, diz a atriz, ao revelar, sem dar detalhes, que fez teste online para uma personagem de uma da série da Netflix, gravada na Irlanda.
A atriz explica que 55% do público nos Estados Unidos é latino e hoje não dá para fazer um filme ou série sem ter eles representados. “Não dá mais para fazer [filme] apenas com aquele loiro de olhos azuis sendo que quem assiste é o latino. Tanto é que essa série da Netflix, que errou, está querendo reparar o erro e incluir um latino.”
CARREIRA NO BRASIL
Nada aconteceu por acaso na vida desta mineira de Teófilo Otoni, que deixou à terra natal ainda bebê com a família e morou em outras três cidades no Brasil, antes de se estabelecer em Itabuna (BA), onde viveu mais tempo e se interessou pelo teatro.
Na vizinha Ilhéus, Priscilla Avila se formou em línguas estrangeiras aplicadas de olho na oportunidade de aperfeiçoar outros idiomas para deixar o país. “Eu sempre quis fazer cinema fora do Brasil.”
Nas férias da faculdade, ela aproveitava para viajar para o exterior para fazer cursos de interpretação. Ela esteve na Argentina e na França, onde chegou a gravar um clipe e um curta-metragem com a atriz Esther Garrel, filha do cineasta Philippe Garrel e irmã do galã Louis Garrel. “Fiquei três meses em Paris e no dia que iria ficar ilegal voltei para casa”, diz.
O dinheiro para se manter ela conseguia com a venda dos quadros que pintava e com ajuda dos pais, que sempre incentivaram sua carreira. Após terminar a faculdade, Avila se mudou para São Paulo, onde fez pós-graduação na área e preparação para cinema no famoso curso da Fátima Toledo.
Ela chegou a fazer alguns trabalhos como atriz, assistente de direção e roteiristas, mas afirma que a carreira não engrenava. “Aqui o mercado é muito pequeno e comecei a fazer assistência de direção das peças de teatro de Walcyr Carrasco”, diz.
Avila lembra concorrer com atores muito famosos e ouvia de produtores e diretores que tinha um maxilar igual ao das outras atrizes e que até Carrasco a incentivou a deixar o país. “Ele dizia vai embora Priscilla, aqui você tem que [esperar o povo te ligar].”
Com 27 anos, ganhou uma bolsa de estudos para fazer um curso de verão em direção de cinema nos Estados Unidos, mas retornou ao Brasil por não ter condições financeiras para se manter em solo americano. Por aqui, gravou a série “171 Negócio de Família” (2017), da Universal Chanel, o maior papel que teve no mercado brasileiro e chegou a escrever um roteiro de filme que até hoje não saiu do papel.
“A minha vida foi [acontecendo] aos poucos nos Estados Unidos, eu sempre quis ser atriz internacional. Estudei várias línguas, francês, inglês e espanhol porque eu queria fazer filmes [fora do Brasil] como de ficção científica”, diz.
Nesta época, começou a juntar dinheiro para passar temporadas de estudo nos Estados Unidos até se mudar definitivamente para Los Angeles, em 2019. Na cidade, faz trabalhos em curtas, longas, dublagens, assistência de direção e tradução de legendas de filmes. “Em dois meses de visto de trabalho nos Estados Unidos, eu fiz mais testes do que em seis anos em São Paulo.”