Internacional
“Temos de romper a terceira onda da pandemia”, diz Merkel
Em entrevista, chanceler critica falta de ação dos estados no combate à covid-19 e ameaça impor novas restrições em nível federal. Ela também reafirmou meta de vacinar todos os cidadãos até setembro
A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que o país poderá adotar restrições ainda mais rígidas para conter o aumento exponencial de infecções de covid-19. Ela criticou a falta de ação dos estados e sinalizou a imposição de medidas mais duras por parte do governo federal.
Em entrevista à emissora pública ARD neste domingo (28/03), após uma semana bastante turbulenta, Merkel ressaltou que os estados alemães devem fazer mais para combater o coronavírus e criticou o fato de as medidas adotadas pelos governos estaduais divergirem umas das outras.
A chanceler tenta manter a confiança da população em suas políticas de combate à pandemia após sofrer um revés. Na semana passada, ela teve que retroceder de algumas medidas adotadas juntamente com os governadores – um lockdown mais rígido que seria adotado no feriado da Páscoa. O anúncio do bloqueio mais amplo gerou críticas por causa da falta de planejamento, detalhes vagos do plano e cronograma apertado. Merkel admitiu que a medida não havia sido adequadamente planejada e pediu desculpas à população.
“Temos de romper essa terceira onda”, disse a chanceler na entrevista. “Precisamos de mais ação nos estados. Precisamos levar as medidas adequadas muito a sério. Alguns estados o fazem, outros ainda não”, criticou.
“Temos nosso ‘freio de emergência’ […] infelizmente, não é respeitado em todos os lugares”, destacou. “Espero que haja uma reflexão a respeito disso.”
Ela se referia a o mecanismo adotado pelo governo federal em acordo com os estados, através do qual as restrições podem ser relaxadas ou endurecidas de acordo com a incidência de sete dias (número de novas infecções por 100 mil habitantes) em cada estado ou região. Caso a taxa seja de mais de 100 durante três dias seguidos, é ativado o chamado “freio de emergência”.
Um dos governadores que tem resistido a “puxar o freio” apesar da alta de casos é Armin Laschet, da Renânia do Norte-Vestfália, que também é presidente de seu partido de Merkel, a CDU, violando o acordo firmado entre Berlim e os governos estaduais.
Entre as medidas previstas no mecanismo está a imposição de limites às reuniões sociais. Só ficam permitidos encontros com uma pessoa de outra residência, contando-se também as crianças de menos de 14 anos. Além disso, as máscaras cirúrgicas passam a ser obrigatórias até mesmo em veículos particulares, e não apenas no transporte público.
Merkel disse que, se os estados não agirem, o governo federal terá de adotar novas medidas por conta própria. “Se houver a impressão de que podemos reabrir [o comércio e outras atividades], essa não é a ordem do dia no momento.”
Maior poder de decisão para o governo federal
Se os estados não adotarem medidas adequadas no futuro próximo, a chanceler disse que o governo federal poderá fazer emendas à Lei de Proteção a Infecções para tornar possível a implementação de restrições em nível nacional.
“Somos obrigados por lei a reduzir as infecções”, observou. Ela, porém, disse que ainda não decidiu a respeito. Na Alemanha, decisões desse tipo requerem a aprovação das duas casa do Parlamento.
“Precisamos fazer mais, temos a possibilidade de restringir as saídas de casa, de impor novas restrições de contato e aprofundar o uso de máscaras”, disse. Ele argumentou que uma estratégia rigorosa de testes também se faz necessária para controlar as transmissões do vírus,
Apesar dos problemas e atrasos nas campanhas de vacinação em toda a União Europeia (UE), a chanceler disse que ainda é possível manter a meta de imunizar toda a população alemã até o final de setembro. Ela ressaltou que a Alemanha não utilizará nenhuma vacina produzida fora da Europa.
O Instituto Roberto Koch, a agência governamental de controle e prevenção e doenças na Alemanha, registrou nesta segunda feira 9.872 novas infecções – 2.163 a mais do que há uma semana.
A taxa de incidência entre 100 mil pessoas em um período de sete dias chegou a 134,4, um aumento significativo em relação ao índice de 107,3 da segunda-feira passada.