Internacional
Rússia suspende atividades de organização ligada a Navalny
Escritórios regionais de fundação de combate à corrupção associada ao crítico de Putin têm suas atividades interrompidas, e grupo corre risco de ser classificado de “extremista” pela Justiça
Autoridades russas ordenaram nesta segunda-feira (26/04) a suspensão das atividades de uma organização ligada ao líder oposicionista Alexei Navalny. Ao mesmo tempo, tramita na Justiça um processo que poderá decidir pelo banimento do grupo, que corre o risco de ser classificado como extremista.
A interdição pela Promotoria de Moscou foi postada nas redes sociais por aliados de Navalny. A medida é o capítulo mais recente da repressão às entidades ligadas ao opositor. Os promotores haviam pedido a um tribunal no início de abril para que classificasse a Fundação para o Combate à Corrupção e sua rede de escritórios regionais como grupos extremistas.
Isso tornaria ilegais suas atividades e deixaria seus membros e apoiadores expostos a pesadas penas de prisão, segundo alertaram alguns defensores dos direitos humanos. Este é o maior desafio que a equipe de Navalny já enfrentou. Vários deles já estão presos ou são alvos de operações policiais ou enfrentam acusações criminais na Justiça.
Nesta segunda-feira, os promotores também pediram a um tribunal em Moscou a restrição das atividades da fundação, para impedir que o grupo divulgue informações na imprensa, participe de eleições, utilizem o sistema bancário ou organize eventos públicos, segundo afirmou o advogado Ivan Pavlov, que representa a equipe de ativistas.
Os aliados de Navalny rejeitam as acusações e afirmam que elas têm motivação política. “Eles estão simplesmente gritando: temos medo de suas atividades, temos medo de seus protestos”, afirmou através do Twitter Ivan Zhdanov, um dos maiores colaboradores de Navalny e diretor da fundação.
A entidade foi fundada há dez anos e, desde então, vem expondo práticas corruptas de algumas autoridades do alto escalão do governo, em muitos dos casos, através do Youtube. Um dos vídeos mais recentes mostra um luxuoso palácio na costa do Mar Negro que teria sido construído para o presidente Vladimir Putin através de um elaborado esquema de corrupção. O vídeo teve mais de 116 milhões de visualizações.
Rede de apoiadores na mira da Justiça
Além da Fundação para o Combate à Corrupção, Navalny estabeleceu em 2017, quando fazia campanha para concorrer à presidência contra Putin nas eleições do ano seguinte, uma vasta rede de escritórios regionais. O opositor acabaria proibido de concorrer ao pleito, mas a estrutura criada foi mantida.
Não tardou para que os escritórios regionais iniciassem suas próprias investigações de corrupção cometida por autoridades locais, além de recrutarem novos ativistas, alguns dos quais se candidatariam a cargos eletivos. Essas filiais foram essenciais na organização dos protestos em massa em apoio a Navalny em janeiro e abril deste ano.
Navalny está preso desde janeiro, quando retornou ao país da Alemanha, onde passou cinco meses em recuperação após ter sido envenenado com um agente nervoso. Ele e seus apoiadores acusam o Kremlin de estar por trás do ataque.
Sua prisão gerou protestos em todo o país, que impuseram um dos desafios mais graves enfrentados pelo governo em muitos anos. Isso, porém, não impediu que as autoridades o colocassem imediatamente em julgamento por uma suposta violação de sua liberdade condicional em 2014, quando cumpria uma pena por fraude, amplamente considerada de motivação política.
Ele foi condenado a dois anos e meio de prisão. No mês passado, acabou sendo transferido para uma colônia penal a leste de Moscou, conhecida pelas condições bastante duras para os internos. Ele chegou a realizar uma greve de fome de três semanas para exigir melhor tratamento médico.
Nesta segunda, o governo alemão condenou a decisão da Rússia de agir contra as organizações de oposição lideradas por Navalny. “Utilizar ferramentas da guerra ao terror contra opiniões políticas das quais não se gosta é algo que contraria totalmente os princípios do Estado de direito”, disse Steffen Seibert, porta-voz da chanceler federal Angela Merkel.
Ele reiterou o pedido de que Moscou liberte Navalny e lhe dê acesso a tratamento médico adequado.