Internacional
Quem pode evitar uma nova guerra em Gaza?
A violência entre palestinos e israelenses já dura mais de uma semana, sem que haja sinal de um cessar-fogo. Comunidade internacional apela por negociações, mas quem poderia liderá-las?
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu o fim imediato dos combates entre Israel e Hamas. Mas qualquer cessar-fogo, ainda que seja alcançado, será de curta duração – a menos que possa ser resultado de negociações mais amplas.
Atualmente, porém, não está claro quem poderia assumir o papel principal nas negociações. O conflito já é o mais intenso desde 2014, e há temores de que a região possa novamente entrar em guerra.
ONU
Apesar de ser o mediador natural, a ONU atualmente vem lutando mais para superar as questões estruturais que, no passado, a impediram de desempenhar um papel significativo na resolução do conflito.
No último domingo (16/05), em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, os membros condenaram a violência, mas não conseguiram chegar a um acordo sobre uma declaração pública. A China, país que ocupa atualmente a presidência rotativa do órgão, culpou os EUA pelo fracasso.
Historicamente, os EUA usaram seu poder de veto e seu assento permanente no Conselho de Segurança para bloquear resoluções e declarações contra Israel, um aliado tradicional americano. Essa relação entre os dois países foi um dos obstáculos, por exemplo, para que a ONU adotasse papel mediador no passado.
Estados Unidos
Israel é o aliado mais próximo e incontestável dos EUA no Oriente Médio. Os americanos são uma fonte vital de ajuda militar e equipamento para Israel. Esse relacionamento sempre deu aos EUA uma influência significativa para levar Israel à mesa de negociações em momentos de conflito intensificado.
As relações EUA-Israel chegaram a um novo auge durante a presidência de Donald Trump, que patrocinou medidas populares entre os israelenses, incluindo a mudança da embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém. A proposta de paz fracassada de Trump era significativamente pró-israelenses e teria reconhecido os assentamentos judaicos em território ocupado como parte de Israel.
O governo Joe Biden parece ter sido pego de surpresa com a mais recente escalada do conflito. O democrata não tinha a intenção de tornar a questão uma prioridade, após seguidos fracassos de gestões anteriores em obter avanços no tema. Atualmente os EUA não têm um embaixador em Israel.
No sábado, Biden falou com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. No mesmo dia, um emissário do governo americano chegou a Tel Aviv.
A Liga Árabe pediu que o governo Biden assumisse um papel mais ativo no processo de paz do Oriente Médio. Ainda não está claro como Washington poderia chegar a um plano viável para o conflito – que até então não estava entre as prioridades do atual governo.
União Europeia
O Alto Representante da UE para política externa, Josep Borrell, pediu o fim imediato da violência em Israel e nos territórios palestino. Os ministros do Exterior da UE se reunirão nesta terça-feira para discutir os acontecimentos recentes.
Borrell disse que está em contato com os membros do Quarteto do Oriente Médio – um grupo que inclui Nações Unidas, Estados Unidos, União Europeia e Rússia – em um esforço para amenizar a situação.
A UE não tem tradicionalmente desempenhado o papel principal nas negociações de paz no Oriente Médio. Em vez disso, tem se concentrado na ajuda humanitária. A UE é o maior doador individual para a Autoridade Nacional Palestina e, desde 2000, a Comissão Europeia (órgão executivo do bloco) forneceu 700 milhões de euros em ajuda humanitária aos palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
“Os EUA estão desempenhando um papel ativo, eles despacharam imediatamente o representante do Departamento de Estado sobre este assunto”, disse o presidente do comitê de política externa do Parlamento alemão, Norbert Röttgen. Segundo ele, a UE não desempenha praticamente nenhum papel em negociações de paz e poderia contribuir basicamente continuando a fornecer ajuda humanitária.
Egito
O Egito faz fronteira com Israel, e seus serviços de inteligência ainda têm boas conexões com o Hamas. No fim de semana, o Egito fez parte de um esforço de mediação junto com a ONU e o Catar para negociar um cessar-fogo de duas horas para permitir o transporte de combustível para a única instalação elétrica de Gaza. O esforço fracassou depois que Israel atingiu a casa do chefe do Hamas, Yahya Sinwar.
Na quarta-feira passada, uma delegação egípcia se reuniu com grupos palestinos em Gaza antes de ir para Tel Aviv. Desde então, o Cairo diz que os líderes israelenses têm rejeitado um acordo de cessar-fogo. No domingo, Netanyahu sinalizou que os bombardeios israelenses ainda estão longe do fim.