Internacional
Aos poucos, Europa se liberta do lockdown
Com vacinação avançando e estrita política de testagem, países conseguem derrubar drasticamente contágios e se reabrir a tempo para o verão europeu
Depois de, no fim do ano passado, a Europa ter se tornado o epicentro da pandemia, os países do continente estão, às vésperas do início do verão, dando passos firmes rumo à reabertura, com infecções, hospitalizações e mortes despencando diariamente.
As taxas de vacinação estão acelerando em toda a Europa e, com elas, a promessa de férias de verão. A indústria do turismo é vital para a economia de muitos países, e há esperanças de um renascimento do setor, que só na Espanha e na Itália responde por 13% do PIB.
“Não falamos mais de 2020. Falamos de hoje em diante”, diz Guglielmo Miani, presidente do distrito de compras de luxo Montenapoleone, em Milão, onde turistas europeus e americanos começaram a reaparecer. A esperança, afirma ele, é que os turistas asiáticos possam vir já no próximo ano.
A Europa viu o maior declínio nas novas infecções e mortes por covid-19 esta semana em comparação com qualquer outra região do mundo. Cerca de 44% dos adultos no continente receberam pelo menos uma dose de vacina contra a covid-19, de acordo com a Organização Mundial da Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.
A média móvel de novos casos em sete dias por 100 mil pessoas chegou a ser superior a qualquer outra região de meados de outubro até o início de dezembro. Mas, agora, nenhum país europeu está entre os dez primeiros do mundo em novos casos por 100 mil pessoas. E somente Geórgia, Lituânia e Suécia estão entre os 20 primeiros.
Preocupação com variante indiana
A maior preocupação da Europa é a variante altamente contagiosa detectada pela primeira vez na Índia, que foi registrada em peso no Reino Unido. O governo britânico advertiu na quinta-feira que a variante da Índia é responsável por 50% a 75% de todas as novas infecções atuais no país e poderia atrasar os planos de levantar as restrições de movimentação em 21 de junho.
“Se aprendemos alguma coisa sobre este vírus, é que uma vez que ele começa a se espalhar além de alguns casos, torna-se muito difícil de controlar”, diz Lawrence Young, virologista da Universidade de Warwick, à agência de notícias AP. “Somente lockdowns locais extremamente rigorosos logo após alguns poucos casos impedirão a propagação do vírus”.
O surgimento de casos britânicos ligados à variante levou a Alemanha e a França esta semana a exigir que os passageiros do Reino Unido fossem colocados em quarentena.
Especialistas lembram que as vacinas parecem ainda ser altamente eficazes contra a variante detectada na Índia, mas que é importante que as pessoas tomem ambas as doses para garantir imunidade total.
A Grécia também foi cautelosa mesmo depois de ter permitido recentemente viagens domésticas e de ter reaberto a maior parte da atividade econômica. Cerca de um terço da população grega recebeu pelo menos uma dose de vacina, mas novas infecções e mortes permanecem elevadas.
“Sim, as hospitalizações estão caindo, sim, as mortes e intubações estão diminuindo, mas ainda há pessoas entrando no hospital que poderiam ter sido vacinadas e não foram”, disse o primeiro ministro Kyriakos Mitsotakis, encorajando os gregos a tomarem suas vacinas. “E alguns, infelizmente, estão perdendo suas vidas. É uma tragédia”, disse ele.
Euforia com a reabertura
Em vários países europeus, a euforia é real. Há uma sensação palpável de alívio e esperança com a aproximação do verão. Na Polônia, por exemplo, onde o número de novas infecções diárias caiu de mais de 35 mil no final de março e início de abril para poucas centenas, mais de 19 milhões de doses de vacinas já foram administradas.
O governo holandês, por sua vez, já anunciou o “fim do lockdown”. A partir de 5 de junho, restaurantes, museus e cinemas do país vão reabrir, anunciou o premiê Mark Rutte em Haia. “Estamos assumindo um risco calculado”, disse ele. “Se os números subirem novamente na próxima semana, teremos uma situação diferente”. De acordo com sua equipe de especialistas, porém, isso é improvável.
A Áustria permitirá estádios cheios, salas de concertos e teatros novamente a partir de julho. Os limites para o número de visitantes em eventos ao ar livre e internos serão abandonados. O pré-requisito é sempre que os visitantes tenham sido testados, curados de uma infecção ou vacinados. A exigência de máscara será anulada para eventos, mas permanecerá em vigor nos supermercados e em ônibus e trens.
O chanceler austríaco (premiê), Sebastian Kurz, disse estar feliz por poder cumprir a promessa de um verão em grande parte normal no país.
O governo italiano quer flexibilizar mais rapidamente as restrições em algumas regiões. Já a partir da próxima segunda-feira, a região de Molise, no Adriático, e a popular ilha de férias da Sardenha, por exemplo, serão designadas como as chamadas “zonas brancas” por causa da boa situação de infecção. Lá, por exemplo, o toque de recolher noturno foi levantado, e os parques de diversão e centros culturais também estão autorizados a reabrir.
Na Alemanha, várias regiões começaram a flexibilizar as restrições de movimentação, como a reabertura do comércio e restaurantes. Como na Áustria, um teste negativo de covid-19 ou um comprovante de vacinação ou cura de uma infecção servem para permitir a entrada.
O governo alemão está aliviando as restrições de entrada para outros países da UE. De acordo com o Instituto Robert Koch (RKI), Holanda e Chipre serão rebaixados de áreas de alta incidência para áreas de alto risco. Isso significa que a obrigação geral de quarentena para os viajantes destes países será levantada. Um teste negativo de coronavírus na entrada pode evitar dez dias de isolamento obrigatório.
Três outros Estados-membros da União Europeia serão completamente removidos da lista de áreas de risco: Polônia, Hungria e Bulgária, assim como Liechtenstein e Mônaco. Regiões espanholas também serão individualmente removidas da lista.
O diretor da OMS na Europa, Hans Kluge, alertou que a pandemia só terá passado no continente quando 70% da população estiver totalmente vacinada. Ele disse que os europeus não podem se tornar complacentes com a covid-19.