Internacional
OMS critica falta de cuidados na final da Eurocopa
Apesar das garantias da Uefa e do governo britânico, cientistas temem que evento possa ter agido como “super disseminador” do coronavírus, não somente em Wembley, mas também em bares, trens, ônibus e residências
A Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou preocupações com o aumento das transmissões de covid-19 devido à presença de público na final da Eurocopa neste domingo (11/07) em Londres, além da falta de cuidados por parte dos torcedores.
O Reino Unido enfrenta uma nova onda de covid-19 impulsionada pela variante delta do coronavírus, mais contagiosa do que a cepa original, e tem atualmente uma nas taxas de transmissão mais altas do mundo.
O governo britânico planeja remover a maioria das restrições impostas para conter a disseminação da doença no dia 19 de julho, o que gera preocupações em um grande número de cientistas. A OMS, normalmente, evita comentar políticas de combate a pandemia de seus Estados-membros, mas, dessa vez, o caso britânico gerou uma exceção.
A principal autoridade técnica da OMS para covid-19, Maria Van Kerkhove, afirmou que a presença de mais de 60 mil espectadores na fina da Eurocopa neste domingo foi algo devastador.
“Devo me sentir entretida por ver as transmissões ocorrendo bem na minha frente?”, afirmou através do Twitter, nos minutos finais da partida entre Inglaterra e Itália.
“A covid-19 não está de folga hoje. O Sars-Cov-2 e a variante delta se aproveitarão das pessoas não vacinadas em ambientes lotados, sem máscaras, com gritos, berros e cânticos. Devastador”.
O dia festivo na capital britânica, impulsionado pelo álcool, foi repleto de brigas e vandalismo enquanto milhares de pessoas se dirigiam ao estádio. Até rojões foram disparados dentro de estações de trem.
Acordo entre Uefa e governo britânico
Em junho, o governo britânico e a União das Federações Europeias de Futebol (Uefa) fecharam um acordo para que o estádio de Wembley pudesse acolher até 75% de sua capacidade em três jogos em julho da Eurocopa, incluindo a final, como parte do chamado Programa de Pesquisa em Eventos (ERP, na sigla em inglês).
Projetado como um esquema piloto para avaliar a segurança de eventos de massa durante a pandemia e o efeito das possíveis transmissões, o ERP se baseia em exigir dos espectadores a apresentação de resultados negativos de testes rápidos de covid-19.
Entretanto, os testes Innova utilizados pelas autoridades no Reino Unido são considerados pouco confiáveis para apontar resultados positivos quando a pessoa infectada possui uma carga viral baixa, o que ocorre nos primeiros dias após a infecção. Pior ainda quando não são realizados por profissionais de saúde.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu neste mês a decisão de permitir que mais de 60 mil torcedores fossem à final, ao afirmar que o evento ocorreria de maneira “calma e controlada”, com todos os espectadores sendo testados para covid-19. Ele acrescentou que as vacinas contra a doença servem como um “muro considerável de imunidade.”
A OMS, porém, já vinha alertando que eventos com multidões poderiam impulsionar um aumento de casos, e que as reuniões de grandes massas podem agir como “amplificadores” desse aumento.
O comitê de Saúde Pública do Parlamento Europeu considerou a decisão de permitir a presença de mais de 60 mil pessoas em Wembley como “receita para um desastre”, sendo que centenas de novos casos da doença já estavam sendo associados ao evento.
Isso inclui os quase 2,3 mil torcedores da Escócia que viajaram para Londres para assistir o jogo de sua seleção contra a Inglaterra, em 18 de junho, além de cerca de trezentos finlandeses que retornavam de São Petersburgo, na Rússia, e de uma série de infecções registradas em Copenhagen.
Situação pior nos bares, trens e ônibus
A professora de engenharia ambiental para edifícios da Universidade de Leeds, Catherine Noakes, disse que, apesar de uma multidão gritando e cantando durante um partida não ser realmente algo ideal, a situação é ainda pior nos bares, ônibus, trens, e até em residências, onde milhões de pessoas se reúnem para fazer as mesmas coisas.
Em todo o mundo, os índices de infecção continuam aumentando. Na semana passada foram mais de 2,6 milhões de novos casos. Somente a Europa experimenta uma alta de 30% nas infecções, segundo a mais recente atualização epidemiológica da OMS.
Mais de 4 milhões de pessoas perderam suas vidas desde o início da pandemia. O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, pediu aos países que ajam com cautela máxima ao aliviar as restrições, de modo a “não perder as conquistas que obtiveram”.