Internacional
Última visita de Merkel a Washington marcada por afagos e incertezas
Chanceler alemã, poucos meses antes de deixar o cargo, é recebida por Joe Biden na Casa Branca. Os dois líderes divergem em questões de segurança, mas prometem defender a democracia e fazer frente às agressões russas
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu na Casa Branca nesta quinta-feira (15/07) a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, naquela que deve ser a última visita oficial da chefe de governo alemã a Washington.
“Devo dizer que sentirei saudades de vê-la em nossas conferências”, disse Biden a Merkel em coletiva de imprensa. A líder alemã se aproxima do fim de um período de 16 anos à frente do governo de seu país. Durante esse tempo, ela conviveu com quatro presidentes americanos, desde George W. Bush (2001-2009).
A chanceler, que manteve um relacionamento conturbado com o antecessor de Biden, Donald Trump, parecia à vontade ao lado do atual presidente, que há muitos anos frequenta o ambiente político internacional, se referindo a ele várias vezes como “querido Joe”.
Mas, o relacionamento afetivo em termos pessoais não esconde a preocupação com desavenças que teimam em permanecer entre os dois países, além de algumas incertezas sobre o futuro das relações bilaterais após a saída de Merkel.
Biden voltou a expressar seu descontentamento com a construção do gasoduto russo Nord Stream 2, uma imensa rede de dutos submarinos, já em fase final de instalação, que atravessa o Mar Báltico rumo à Alemanha. O americano, porém, disse que ambos concordam que à Rússia não será permitido usar o fornecimento de energia com arma.
“Permanecemos juntos e continuaremos juntos para defender nossos aliados da Otan nas frentes do leste contra as agressões russas”, assinalou Biden.
Os dois países são membros fundamentais da Otan, apesar de o relacionamento ter sofrido abalos durante o governo Trump, também nas questões envolvendo a aliança do Atlântico Norte. Biden e Merkel, que se conhecem e trabalham juntos há anos, prometeram reforçar os laços de amizade entre as duas nações.
Os dois líderes discutiram suas diferenças em relação ao gasoduto, embora, aparentemente, nenhum dos lados tenha mudado de posição. Os EUA avaliam que o Nord Stream 2 possa representar uma ameaça à segurança energética europeia, além de permitir que Moscou exerça influência sobre nações mais vulneráveis na Europa Central e Oriental, em particular, a Ucrânia.
Merkel assegurou que a Ucrânia é, e continuará sendo, um “país de trânsito para o gás natural e, assim como qualquer outra nação, possui o direito de soberania sobre seu território”. Washington aliviou recentemente algumas sanções a entidades alemãs envolvidas no projeto do gasoduto.
O presidente ressaltou que EUA e Alemanha defenderão os princípios democráticos e direitos universais sempre que virem países como a China, ou qualquer outro, trabalhando para minar sociedades livres e abertas.
A chanceler se queixou das restrições que impedem que a maioria dos europeus possam viajar para os Estados Unidos. Biden, por sua vez, disse que pediu à direção de sua força-tarefa contra a covid-19 que avalie a questão. Ele espera dar uma resposta definitiva dentro de sete dias.
Merkel começou o dia com um café da manhã com a vice-presidente americana Kamala Harris. A assessoria da americana informou que ambas tiveram uma “conversa muito franca”. À noite, a chanceler e seu marido foram recebidos para um jantar com o casal Biden na Casa Branca.
Fortes chuvas e enchentes na Europa
A Alemanha e a Bélgica sofrem os efeitos de chuvas torrenciais e enchentes que causaram mais de 60 mortes e deixaram dezenas de desaparecidos. “Lamento muito pelos que perderam suas vidas nessa catástrofe”, disse a chanceler durante a visita a Washington. “Temo que a total extensão dessa tragédia somente poderá ser vista nos próximos dias.”
Biden expressou sua solidariedade à Merkel e ao povo alemão. “Nossos corações estão com as famílias que perderam entes queridos”, afirmou. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu que o bloco europeu enviará ajuda às regiões atingidas. O papa Francisco enviou condolências às vítimas.
Ainda não é possível avaliar a extensão real da catástrofe, enquanto muitos vilarejos permanecem sem comunicação devido às enchentes e deslizamentos de terra que deixaram várias estradas bloqueadas. Situações semelhantes também foram registradas em algumas regiões da França e da Holanda.