Esporte
Olimpíada de Tóquio 2021: por que a Rússia foi banida dos Jogos e da Copa de 2022
Muitos atletas da Rússia têm se destacado nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, com ouro em diversas modalidades. No entanto, a bandeira da Rússia não aparece em lugar algum. A delegação tem sido apresentada no quadro de medalhas como Comitê Olímpico Russo (sigla ROC em inglês)
A Rússia foi proibida em 2019 de participar por quatro anos de todos os principais eventos esportivos pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) por ter montado um esquema generalizado de doping patrocinado pelo governo russo.
Isso significa que a bandeira e o hino da Rússia não serão permitidos também nos Jogos Paralímpicos de Tóquio do mês que vem e na Copa do Mundo de 2022, no Catar.
O Comitê Olímpico Russo é representado em Tóquio 2021 por um total de 335 atletas. Todos os competidores da ROC tiveram que provar que não estavam envolvidos no escândalo de doping.
Eles estão autorizados a participar dos Jogos, mas quando vencem não têm direito a ter o hino nacional russo tocado e a bandeira russa hasteada.
Ainda assim, a maioria dos uniformes dos atletas russos é da cor da bandeira do país (o que é permitido pelas regras). Em vez do hino nacional, os campeões olímpicos russos têm ouvido o concerto de piano número 1 de Pyotr Ilyich Tchaikovsky, um dos maiores ícones da música da Rússia.
A proibição está programada para terminar em dezembro de 2022.
A Rússia sempre alegou que a proibição faz parte de uma “histeria crônica anti-Rússia”. Outras federações esportivas criticaram o fato de atletas russos poderem competir com uma bandeira neutra — já que na prática a Rússia acaba sendo representada nos Jogos.
‘Crise de doping’
O comitê executivo da Wada tomou a decisão unânime de impor a proibição à Rússia durante uma reunião em Lausanne, na Suíça, em dezembro de 2019.
Isso ocorreu depois que a Agência Antidoping da Rússia (Rusada) foi declarada “não cooperante” por manipular dados de laboratório entregues aos investigadores em janeiro de 2019.
A agência teve de entregar os dados à Wada como condição para sua reintegração em 2018, após uma suspensão de três anos pelos escândalos de doping.
Na época, o presidente da Wada, Craig Reedie, disse que a decisão mostra “sua determinação em agir diante da crise russa de doping”.
Ele acrescentou: “Por muito tempo, o doping russo prejudicou o esporte limpo. A violação cometida pelas autoridades russas nas condições de reintegração da Rusada exigiu uma resposta robusta”.
“A Rússia teve a oportunidade de ‘colocar a casa em ordem’ e voltar a se juntar à comunidade antidoping global para o bem de seus atletas e integridade do esporte. Mas optou por continuar em sua posição de negação.”
Em 2018, 168 atletas russos já haviam competido sob uma bandeira neutra nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang, na Coreia do Sul. O país tinha sido banido após os Jogos de 2014, sediados em Sochi. Os atletas russos conquistaram 33 medalhas em Sochi, 13 delas de ouro. Na Coreia do Sul, em 2018, foram 17 medalhas; duas de ouro.
A Rússia já vem sendo proibida de competir como nação no atletismo desde 2015.
Apesar da proibição, a Rússia competiu na Euro 2020, já que a Uefa, órgão dirigente do futebol europeu, não é definida como uma ‘organização de grandes eventos’ no que diz respeito a decisões sobre violações das regras antidoping.
A Fifa disse que “tomou ciência” da decisão da agência Wada, acrescentando: “A Fifa está em contato com a Wada para esclarecer a extensão da decisão em relação ao futebol”.
Em comunicado, o Comitê Paralímpico Internacional informou que “os responsáveis pela manipulação dos dados do laboratório de Moscou antes de serem transferidos para a Wada parecem ter feito todo o possível para minar os princípios do esporte justo e limpo, princípios que o resto do mundo esportivo apoia e segue”.
“Essa sincera falta de respeito com o restante do movimento esportivo global não é bem-vinda e não tem lugar no mundo do esporte. É justo que os responsáveis por essa manipulação de dados sejam punidos.”
Trajetória da crise
A Rusada foi inicialmente declarada “não cooperante” em novembro de 2015, depois de um relatório, encomendado pela Wada e feito pelo professor Richard McLaren, advogado especializado em esportes, apontar que um esquema generalizado de doping seria patrocinado pelo Estado no atletismo russo.
Um outro relatório, publicado em julho de 2016, declarou que a Rússia operava um programa de doping patrocinado pelo Estado por quatro anos na “grande maioria” dos esportes olímpicos de verão e inverno.
Em 2018, a Wada restabeleceu as credenciais da Rusada depois que a agência russa concordou em liberar dados de seu laboratório de Moscou do período entre janeiro de 2012 e agosto de 2015.
No entanto, os resultados positivos contidos em uma versão de uma denúncia feita em 2017 estavam ausentes no banco de dados em janeiro de 2019, o que levou a uma nova investigação.
O Comitê de Revisão de Conformidade da Wada (CRC) recomendou uma série de medidas baseadas “em particular” em uma análise forense das inconsistências encontradas em alguns desses dados.
Como parte da proibição, a Rússia não pode sediar eventos importantes por quatro anos, incluindo os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2032, aos quais o país pretendia se candidatar.
Qual foi a reação?
Nicole Sapstead, diretora-executiva da agência antidoping do Reino Unido (Ukad), disse na época que a decisão da Wada de impor uma proibição à Rússia foi o “único resultado possível” para “tranquilizar os atletas e o público e continuar a tarefa de buscar justiça para quem é enganado por atletas russos”.
No entanto, Travis Tygart, executivo-chefe da Agência Antidoping dos EUA, disse que não impor uma proibição geral da participação de todos os atletas russos – mesmo sob uma bandeira neutra – é um “golpe devastador”.
“A reação de todos aqueles que valorizam o esporte não deve ser nada menos que uma revolta contra esse sistema para forçar uma reforma”, disse ele.
“A Wada prometeu ao mundo em 2018 que se a Rússia falhasse novamente em cumprir seus acordos, usaria a sanção mais dura possível segundo as regras. No entanto, aqui vamos nós novamente; a Wada diz uma coisa e faz algo completamente diferente. (…) Não há dúvida de que a Rússia cometeu o nível de corrupção mais intencional, profundo e amplo em todo o mundo do esporte, que investiu dinheiro contra a moral, abuso na saúde e corrupção nos valores olímpicos e nos sonhos de todos os atletas.”
E conclui: “Agora, atletas limpos, torcedores e patrocinadores estão sofrendo com outro horrendo Dia da Marmota, de corrupção e dominação russa”.