Internacional
Pedro Castillo toma posse como presidente do Peru
Professor de esquerda assume liderança do país com discurso sobre adotar nova Constituição, mas terá que lidar com falta de base no Congresso. Bolsonaro é o único presidente de país vizinho a não comparecer à posse
Pedro Castillo tomou posse como presidente do Peru nesta quarta-feira (28/07). Usando seu tradicional chapéu de palha de aba larga e um terno com motivos indígenas, Castillo foi empossado pela presidente do Congresso, María del Carmen Alva.
“Juro por Deus, por minha família, por minhas irmãs e irmãos peruanos, camponeses, povos nativos, rondeiros, pescadores, professores, profissionais, crianças, jovens e mulheres, que exercerei o cargo de presidente da República no período de 2021-2016. Juro pelo povo do Peru, por um país sem corrupção e por uma nova Constituição”, disse.
Em seguida, ele cantou o hino nacional, tirando por alguns instantes seu já célebre chapéu.
Em seu discurso de posse, ele também afirmou que vai enviar ao Congresso um projeto para reformar a Constituição promulgada em 1993 por Alberto Fujimori.
Após afirmar que o Peru pode estar “condenado a continuar prisioneiro desta Constituição”, Castillo declarou: “anuncio que apresentaremos ao Congresso um projeto de lei para reformá-la que, após ser debatido pelo Parlamento, esperamos que seja aprovado e depois submetido a um referendo popular”.
Outros aspectos do discurso foram mais duros. “Os delinquentes estrangeiros terão 72 horas para sair do país”, disse Castillo. “Jovens que não estudam, nem trabalham, deverão cumprir serviço militar”, afirmou o novo presidente.
Castillo,de 51 anos, sucede o presidente Francisco Sagasti, que havia sido nomeado para o cargo pelo Congresso em novembro para liderar a nação sul-americana após semanas de turbulência política.
Entre os presentes na cerimônia de posse estavam os presidentes da Argentina, Alberto Fernández; da Bolívia, Luis Arce; do Chile, Sebastián Piñera; da Colômbia, Iván Duque; do Equador, Guillermo Lasso; e o rei da Espanha, Felipe 6º.
Além da posse de um novo presidente, o Peru também celebrou nesta quarta-feira o aniversário de 200 anos da independência do país.
Jair Bolsonaro foi o único presidente de um país vizinho do Peru que não viajou a Lima para a posse. O Brasil acabou sendo representado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. Em maio, Bolsonaro compareceu à posse do presidente equatoriano Guillermo Lasso, um banqueiro conservador que derrotou um oponente de esquerda.
Castillo, que se define abertamente como de esquerda marxista, mas também expressa posições conservadoras, obteve 50,12% dos votos válidos nas eleições presidenciais de junho e uma margem de apenas 44.263 votos de vantagem sobre Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori e líder do partido Força Popular.
Turbulência política
O partido de Castillo, o Peru Livre, será minoria num Congresso fragmentado e deverá buscar acordos para acabar com a instabilidade recente.
Após cinco anos de convulsões políticas que levaram o Peru a ter três presidentes em cinco dias, em novembro de 2020, o país vive sob tensão desde as eleições de junho. Centenas de militares aposentados pediram que as Forças Armadas impedissem que Castillo assumisse o poder.
Já a candidata derrotada Keiko Fujimori atrasou o processo eleitoral com mais de mil pedidos de impugnação do resultado alegando supostas fraudes – sem apresentar provas. Observadores internacionais que acompanharam o pleito rejeitaram as acusações de Keiko.
Professor primário na zona rural desde 1995, Castillo saiu do anonimato há quatro anos, após liderar uma greve de professores. Ele assume com um discurso profundamente reformista.
Seus planos incluem uma nova Constituição, por considerar que a atual, nascida no governo de Alberto Fujimori, em 1992, promoveu uma economia neoliberal cujo progresso econômico não resolveu as profundas desigualdades no país.
Castillo também assume um país duramente atingido pela covid-19: o Peru acumula 2,1 milhões de infecções pelo coronavírus e 195 mil mortos em decorrência da doença. Após ajustar as cifras no fim de maio, o país passou a ter a maior taxa de mortalidade do mundo na pandemia: 602 mortos por 100 mil habitantes.