Esporte
Assistir a esporte ajuda a reduzir risco de depressão, diz estudo
Dieta e genética podem explicar, mas há outras razões associadas que poderiam estar contribuindo para fazer o povo japonês ter uma das mais altas expectativas de vida do mundo: 87,74 anos para as mulheres e 81,64 para os homens.
Estudo inédito mostra que assistir a esportes, ao vivo ou pela televisão, é um desses hábitos que ajudam a reduzir os sintomas de depressão entre idosos.
O trabalho faz parte do Estudo de Avaliação Gerontológica do Japão, que realiza pesquisas de acompanhamento sobre as condições de saúde de idosos.
“Assistir a esporte é uma oportunidade de se sentir animado de maneira casual”, diz Taishi Tsuji, professor-assistente de Ciência do Esporte na Universidade de Tsukuba, em Ibaraki. Ele trabalhou no relatório final, publicado no jornal científico britânico Scientific Reports.
Os pesquisadores destacam que no cenário atual de pandemia e com o país enfrentando sua quinta onda de casos de Covid-19, isso pode ser muito útil na prevenção de quadros de ansiedade no futuro.
Assistir a esportes é uma atividade positiva que promove emoção e diversão, ao mesmo tempo que tem efeito na socialização, como fomentar a interação com a comunidade e fortalecer as redes sociais.
A depressão continua sendo um grande problema na saúde mental dos idosos devido à sua forte associação com mais comprometimento funcional e cognitivo do que em adultos mais jovens, além de representar altos custos para a família e a previdência.
“Se usarmos os resultados dos estudos, acredito que será possível ajudar idosos na prevenção da depressão”, diz Tsuji.
Os pesquisadores analisaram 21.317 questionários que haviam sido enviados em 2019 e 2020 a pessoas com mais de 65 anos, residentes em 60 cidades, vilas e aldeias em todo o país.
Os participantes foram questionados se assistiam a eventos esportivos de qualquer modalidade e com que frequência.
Embora o estudo tenha sido feito antes da Tóquio 2021, o pesquisador Tsuji acredita que o mesmo efeito tenha sido alcançado pelas pessoas que acompanharam os Jogos em casa.
Apesar da alta rejeição inicial ao evento, a cerimônia de abertura garantiu uma das maiores audiências da tevê.
De acordo com a Video Research, a média chegou a 56,4%, o maior índice desde a primeira Olimpíada japonesa realizada em 1964, quando alcançou 61,2% dos aparelhos na época.
A sucessão recorde de medalhas obtidas pelos atletas japoneses alimentou a audiência, que atingiu a marca de 43,3% na semifinal de futebol entre Japão e Espanha.
Com o fim dos Jogos, os japoneses agora se preparam para acompanhar o Intercolegial de Beisebol.
Disputado desde 1915 no verão, é um dos eventos mais midiáticos do Japão, chegando a registrar 50% de audiência na final.
O torneio deste ano, sem espectadores, estava programado para começar logo após o encerramento da Olimpíada, porém a abertura foi adiada para a terça, dia 10, devido à passagem de um tufão pelo Japão.
Conhecido como Koshien, o torneio mobiliza milhares de colégios e é a porta de entrada dos jovens ao beisebol profissional.
Na fase em que as partidas são televisionadas, participam 49 equipes (de todas as 47 províncias, mais duas representantes de Tóquio e de Hokkaido).
Eles se enfrentam em sistema de mata-mata no estádio Koshien (na província de Hyogo) e atraem os olhares de jovens e idosos, que ajudam a alavancar a audiência das tevês durante duas semanas.
O professor japonês Makoto Fukuda, de 67 anos, aprecia todo tipo de esporte, em especial o futebol de campo — que inclusive pratica como atacante de uma das equipes seniores da região. Ele mora em Akita, província no norte do Japão e com a maior concentração de idosos (37,2%, contra a média nacional de 28,4%) e dois times profissionais, de basquete e de futebol.
“Esporte revigora”, diz Fukuda, que acompanhou grande parte dos Jogos Olímpicos pela televisão. Estava tão empolgado com o skate, que diz ter ficado com vontade de praticá-lo.
Fora da olimpíada, os esportes mais assistidos pelos idosos japoneses são beisebol profissional (61,6%), sumô (60,2%), jogos da seleção de futebol (60,1%), maratona ou corrida de revezamento (57,4%), patinação artística (54,8%) e beisebol escolar (52,6%).
“Dada a popularidade considerável desses eventos no Japão, ver jogadores e times se enfrentando pode provocar entusiasmo e felicidade e pode ter um efeito positivo na saúde mental”, destaca o estudo.
Os níveis de depressão foram medidos por meio de um conjunto de 15 questões direcionadas aos idosos. As perguntas avaliavam se eles estavam contentes com suas vidas e se sentiam angustiados.
Em comparação com os entrevistados que não assistiam a nenhum esporte, aqueles que viam jogos ao vivo várias vezes ao longo de um ano tinham 0,70 vez menos probabilidade de desenvolver sintomas de depressão.
Entre os que assistiam uma a três vezes por mês eram 0,66 vez menos prováveis. Quanto maior a frequência com que assistem a algum esporte, melhor foi o resultado.
A equipe também perguntou aos participantes sobre as relações com a comunidade local. As pessoas que assistem esportes tendem a ter um apego à vizinhança e possuem mais amigos do que aqueles que não veem eventos esportivos.
Os autores do estudo concluíram que os sintomas depressivos podem ser aliviados por meio da excitação e felicidade induzida ao acompanhar o desempenho de atletas profissionais em um ambiente de estádio, que difere da vida cotidiana.
Os mesmos benefícios foram observados mesmo com atividades locais. De acordo com o estudo, é bem possível que torcer por jogadores que são amigos ou familiares provoque a mesma felicidade, apesar da competitividade ser relativamente baixa.
Há, porém, uma ressalva. Os autores também avaliaram a felicidade entre os homens antes e depois de uma partida de rúgbi, e descobriu que vencer não aumentou a sensação de felicidade, mas perder a diminuiu.
O torcedor fanático pode deixar o prazer do esporte e se concentrar apenas no resultado, o que não é positivo.
Os pesquisadores lembram que assistir a esportes é uma atividade comum e popular mesmo em grupos de idades mais jovens. No entanto, seria preciso coletar mais dados para determinar a frequência ideal que produziria mais benefícios às pessoas dessas outras faixas etárias.