ECONOMIA
Tensão política, riscos fiscais e juro afetam projeções para PIB de 2022
A alta prevista para o PIB passou de 1,8% para 1,4%
A crise política protagonizada pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido), os riscos fiscais e os juros mais altos devem reduzir o crescimento da economia brasileira em 2022, indicam analistas.
Sinal disso é que estimativas para o PIB (Produto Interno Bruto) do próximo ano começam a ser revisadas com maior força para baixo.
Na sexta-feira (13), a consultoria MB Associados confirmou corte em sua projeção para o indicador em 2022. A alta prevista para o PIB passou de 1,8% para 1,4%.
Em relatório, a MB afirma que “a conjunção de crise política e econômica, com elevada taxa de desemprego e taxa de juros para conter a inflação, tirará crescimento do consumo e dos investimentos em 2022”.
A consultoria não descarta novos cortes na projeção. “Na verdade, 1,4% significa dizer que voltamos ao padrão medíocre de crescimento que estamos tendo desde a saída da recessão em 2016. Com uma crise criada pelo próprio governo quando sinaliza uma política fiscal de má qualidade em conjunção com uma gestão que segue ameaçando padrões estabelecidos de democracia, o risco potencial é de termos que rever esses números ainda para baixo no futuro”, diz o relatório.
À reportagem, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, ressalta que o país tem “muitos riscos” no horizonte de 2022. Nesse sentido, Vale cita a preocupação com os gastos públicos no ano eleitoral e lembra que a piora das condições fiscais pode pressionar ainda mais a inflação.
“A estabilidade macroeconômica está sob risco do ponto de vista fiscal. Vimos isso na discussão do Orçamento [neste ano], na discussão sobre o Auxílio Brasil com a questão eleitoreira. A política fiscal perdeu o trilho. Tudo isso no momento em que o Centrão está dominando”, analisa.
A escalada da inflação tem sido puxada nos últimos meses pela energia elétrica. A conta de luz ficou mais cara devido à crise hídrica, que aumenta os custos de geração de eletricidade.
Para tentar conter a inflação, que se aproximou de 9% no acumulado de 12 meses até julho, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) passou a subir a taxa básica de juros. A Selic está hoje em 5,25% ao ano.
Em 2022, a taxa deve chegar a pelo menos 7,75%, projeta Vale. Na teoria, a Selic mais alta desestimula investimentos, já que encarece financiamentos.
Vale ainda menciona que aportes produtivos e geração de empregos são ameaçados pela crise política envolvendo o governo federal.
“O cenário de um presidente que ameaça a democracia não é positivo do ponto de vista do emprego. Essa celeuma política do presidente adiciona riscos e coloca o mercado de trabalho em um cenário complicado”, comenta.
Na quinta-feira (12), o Itaú Unibanco também baixou sua projeção de crescimento do PIB em 2022. A alta prevista passou de 2% para 1,5%. Em relatório, o banco chamou atenção para possíveis impactos dos juros mais altos.
“Projetamos desaceleração do crescimento do PIB para 1,5% em 2022 (ante 2,0%), à medida que os fatores que impulsionaram o crescimento deste ano se esgotam. A revisão decorreu principalmente da nossa expectativa de juros mais elevados, o que deve levar a política monetária a ser restritiva para a atividade econômica no ano que vem”, aponta o relatório.
“Vemos desaceleração do setor industrial global e queda de preços de commodities ano que vem. Por último, no próximo ano a atividade econômica não se beneficiará mais do impulso advindo da reabertura do setor de serviços, algo que, em nossa visão, ficará restrito ao segundo semestre deste ano”, completa o banco.
A baixa nas expectativas também aparece no boletim Focus. A publicação reflete semanalmente a avaliação de analistas do mercado financeiro consultados pelo BC.
Conforme o boletim mais recente, divulgado na segunda-feira (9), o avanço esperado em 2022 passou de 2,1% para 2,05%. No começo de 2021, a previsão sinalizava crescimento de 2,5%.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, associa a possível desaceleração à perspectiva de juros mais altos. Ela menciona que o avanço da Selic reflete o aumento da inflação e das incertezas fiscais, turbinadas pela crise política.
“A revisão para baixo de 2022 está associada à alta da Selic. Quando a gente fala de crescimento econômico, é difícil pensar em uma economia pujante com o juro mais elevado. Muitos empreendedores acabam postergando decisões de investimento”, observa.