Internacional
“É de partir o coração”, diz Biden sobre situação em Cabul
Em meio a caos no aeroporto da capital, presidente americano afirma que remoção de milhares de pessoas do Afeganistão seria “difícil e dolorosa” a qualquer momento. Ele não descarta permanência de soldados após agosto
Os Estados Unidos têm um compromisso inabalável de retirar do Afeganistão cidadãos americanos e afegãos em risco, afirmou o presidente Joe Biden, sinalizando que, se preciso, soldados dos EUA permanecerão no país asiático além do prazo previsto para a conclusão de sua retirada, em 31 de agosto.
Desde que o Talibã entrou em Cabul e assumiu o poder no Afeganistão na semana passada, em meio à retirada de tropas americanas e aliadas após 20 anos de guerra, o aeroporto da capital tem sido o ponto de encontro de centenas de milhares de pessoas que tentam fugir dos militantes islâmicos. Forças estrangeiras vêm garantindo a segurança do aeroporto.
Na madrugada desta segunda-feira, um soldado afegão morreu e outros três ficaram feridos em um tiroteio com homens armados não identificados no aeroporto de Cabul, quando o portão norte foi atacado. Soldados alemães e americanos também estiveram envolvidos no confronto, mas não houve feridos entre eles, informou o Exército alemão.
No sábado, sete civis afegãos morreram em meio à multidão que se formou no entorno do aeroporto. Um representante da Otan afirmou que ao menos 20 pessoas morreram nos últimos sete dias no local e em seus arredores. Alguns deles foram atingidos por tiros, e outros, pisoteados ou imprensados, relataram testemunhas.
Em pronunciamento na Casa Branca, Biden afirmou que a remoção de milhares de pessoas de Cabul seria “difícil e dolorosa” não importa quando começasse.
“Seria assim se tivéssemos começado há um mês ou daqui a um mês. Não há como retirar tantas pessoas sem dor e perdas ou as imagens de partir o coração vistas na televisão”, declarou o presidente. “Temos um longo caminho pela frente, e muito ainda pode dar errado.”
Após críticos acusarem Biden de não expressar empatia suficiente pela situação no aeroporto, o presidente foi mais emotivo do que nos últimos dias em seu pronunciamento de domingo. “É de partir o coração”, disse. “Nada sobre este esforço é fácil.”
“Vamos acolher afegãos que nos ajudaram”
Biden afirmou que todo cidadão americano que quiser retornar aos EUA retornará. “Estamos executando um plano para colocar grupos desses americanos em segurança e para transportá-los de maneira segura e eficaz para o aeroporto.”
Afegãos aliados do Ocidente e pessoas vulneráveis, como mulheres ativistas e jornalistas, também serão ajudados, disse. Ele prometeu que todos eles serão acolhidos pelos EUA.
“Vamos acolher esses afegãos que nos ajudaram nos esforços de guerra ao longo dos últimos 20 anos em seu novo lar nos Estados Unidos da América”, afirmou Biden. “Porque isso é o que somos. Isso é o que são os Estados Unidos.”
No domingo, militantes talibãs dispararam para o alto e usaram cassetetes para tentar forçar pessoas que tentavam desesperadamente chegar ao aeroporto a formar filas, segundo testemunhas, mas não houve ferimentos graves. Biden afirmou que o Talibã tem sido “cooperativo” em relação a ampliar o perímetro do aeroporto.
“Nossa esperança é que não precisemos estender o prazo”
Questionado por um repórter se os EUA estenderiam o prazo para as remoções além de 31 de agosto, Biden respondeu: “Nossa esperança é que não precisemos estender, mas suponho que haverá discussões sobre quão avançados estamos no processo.”
No domingo, os EUA buscaram ajuda de companhias aéreas comerciais para o transporte de pessoas que já foram retiradas de Cabul e se localizam em bases militares e centros de acolhimento fora do Afeganistão.
Desde 14 de agosto, cerca de 30 mil pessoas já foram retiradas do Afeganistão por via aérea. Em um dos voos, uma mulher afegã deu à luz a bordo momentos depois de pousar na base americana em Ramstein, na Alemanha.
Aterrorizados, afegãos vêm tentando embarcar em voos partindo de Cabul desde o fim de semana anterior, temendo represálias e um retorno ao rígido regime islâmico exercido pelo Talibã quando o grupo esteve no poder, entre 1996 e 2001.
Líderes do Talibã buscaram se mostrar mais moderados desde a tomada de Cabul e iniciaram conversas para formar um governo.