Internacional
Ataque dos EUA mata dez de uma mesma família em Cabul
EUA afirmam ter neutralizado carro-bomba que realizaria atentado terrorista no aeroporto. Relatos indicam mortes de crianças e civis sem ligação com organizações islamistas. Talibã condena ação
O ataque de um drone americano em Cabul, que visava evitar uma ameaça terrorista, deixou numerosas vítimas civis, segundo relatos de residentes do local e do próprio Talibã.
O Pentágono declarou nesta segunda-feira (30/08) que o alvo do ataque era um carro-bomba que se preparava para realizar um atentado no aeroporto da capital afegã, onde os Estados Unidos realizam os últimos esforços para retirar o maior número possível de cidadãos, a poucas horas do fim do prazo previsto.
Uma reportagem do jornal americano The New York Times ouviu de uma família de Cabul que um ataque matou dez de seus membros, incluindo sete crianças, um funcionário de organização humanitária americana e um colaborador das Forças Armadas dos EUA.
Zemari Ahmadi, que trabalhava para a ONG Nutrition and Education International, voltava de carro para casa depois do trabalho e de deixar alguns colegas em suas residências, na noite de domingo, segundo relatos de alguns de seus parentes e colegas ao jornal americano.
Ao chegar na ruela onde morava com três irmãos e suas famílias, diversas crianças viram o carro se aproximar e correram para saudá-lo. Quando o veículo entrava no pátio da casa, um míssil atingiu sua parte traseira, matando Ahmadi e algumas das crianças, além de ferir outras mortalmente no interior da casa.
A filha de Ahmadi Samia, de 21 anos, estava em casa quando o ataque ocorreu. Inicialmente ela pensou se tratar de um atentado do Talibã, até se dar conta de que os americanos estavam por trás do incidente.
Seu noivo, Ahmad Naser, ex-colaborador das tropas americanas no Afeganistão, está entre as vítimas. Ele viera da província de Herat na esperança de deixar o país num dos voos ocidentais.
Ahmadi era engenheiro técnico da representação da ONG com sede em Pasadena, Califórnia. Seus vizinhos e parentes, muitos dos quais trabalhavam nas agora extintas forças de segurança afegãs, asseguram que ele não tinha associação com nenhum grupo terrorista.
A reportagem do NYT viu documentos que comprovariam o longo envolvimento de Ahmadi com a ONG americana, além de um pedido de visto especial de imigração por parte de Naser, com base em serviços prestados numa base americana em Herat.
Saldo de mortos possivelmente maior
O Comando Central dos EUA admitiu que a detonação de um veículo carregado de explosivos, que teria eliminado uma ameaça dos apoiadores do grupo islamista “Estado Islâmico Khorasan” (EI-K), possa ter feito vítimas civis. O órgão afirma estar investigando os relatos de mortes de inocentes.
“Sabemos que houve explosões subsequentes poderosas e substanciais, resultantes da destruição do veículo, o que indica [a existência de] uma grande quantidade de explosivos que poderiam ter causado mortes adicionais”, informou.
Um porta-voz do Talibã criticou os americanos por não o informarem antes de realizar o ataque. O porta-voz do grupo Zabihullah Mujahid classificou o ataque de drone como ilegal, por se tratar de ação americana em solo estrangeiro.
“Se havia qualquer ameaça potencial, devia ter sido comunicado a nós […] mas, não realizar um ataque arbitrário que resultou em mortes de civis”, disse o porta-voz. Relatos paralelos sugerem que o número de mortes resultantes da ação americana seja ainda maior.
Nesta segunda-feira os EUA também interceptaram e derrubaram foguetes disparados contra o aeroporto de Cabul, onde militares americanos correm contra o tempo para concluir sua retirada do Afeganistão dentro do prazo previsto, até esta terça-feira, selando o fim de 20 anos de guerra no país.
O braço afegão do grupo “Estado Islâmico” (EI) reivindicou a autoria dos ataques. “Os soldados do califado miraram o aeroporto internacional de Cabul com seis foguetes”, afirmou o chamado “Estado Islâmico Khorasan” (EI-K) em comunicado, afirmando que houvera feridos.