Segurança Pública
Tentam violar a consciência do Policial Militar
Almejar conter o avanço do “bolsonarismo” (ou de qualquer outra corrente) entre os PMs por meio de punições é dar um tiro no próprio pé
Algumas notícias afirmam que os policiais militares de folga não poderão participar do ato público pelo Brasil no próximo dia 7 de setembro.
Esse ato, na data da Independência do país, visa: manifestar apoio à democracia; expressar, dentro da lei e da ordem, o descontentamento de grande parte dos brasileiros para com as intromissões indevidas do STF nos atos do Executivo e do Legislativo e, por oportuno, pedir o fim da omissão de parte dos congressistas ante essas ações invasivas do STF nas funções do Parlamento. Pautas totalmente legítimas, portanto.
Contudo, por que tanta celeuma? – Porque, no mundo alheio à realidade que alguns parecem viver, arquitetou-se um suposto perigo: o ato desses milhões de brasileiros seria “antidemocrático”. Qual o remédio, então, oferecido? – Uma medida totalmente antidemocrática: proibir os policiais de folga de irem ao ato. Daí a questão: não lhe soa contraditório o conceito de democracia que essa gente tem?
Seguindo, porém, esta modesta reflexão, desejo notar que tal medida autoritária traz consigo a desesperada falta de lógica. Com efeito, almejar conter o avanço do “bolsonarismo” (ou de qualquer outra corrente) entre os PMs por meio de punições é dar um tiro no próprio pé. Via de regra, o brasileiro – por sua natureza cordata – não gosta de normas com viés ditatorial e, por isso mesmo, pega birra de quem as institui.
Qual será, então, o resultado certo dessa medida autoritária proibitiva? – Ela, longe de desestimular os policiais militares ao “bolsonarismo”, os levará a serem mais “bolsonaristas” ainda. Sim, imaginemos – a título de argumentação apenas – que um político decidisse proibir o “bolsonarismo” entre os PMs do seu Estado e, de fato, conseguisse a façanha. Os ex “bolsonaristas” não necessariamente seriam, por certo, do seu partido ou o apoiariam. De modo mais simples: quem fosse, por alguma razão, proibido de usar a cor verde, não usaria, por conseguinte, a vermelha, mas poderia escolher a branca, a preta, a amarela etc. Mais: quem cerceasse o policial militar, em sua opção política, cometeria uma invasão à consciência inviolável desse PM. PM que o próprio Deus criou, enquanto ser humano, totalmente livre (cf. Eclo 15,14).
Daí já se vê que Deus nunca obriga; sempre convida. Para ser d’Ele é preciso aceitá-Lo na liberdade: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Note a condição para a ceia: abrir livremente a porta. Sem isso, nem Deus entra onde alguns agentes de um Estado autoritário querem, a todo custo – cometendo pecado grave e ato de profunda desumanidade –, penetrar à força. Afinal, o Catecismo da Igreja Católica, ensina que “a consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz” (n. 1776).
Para concluir, faz-se oportuno lembrar que não é possível atrair ninguém à força. Esta pode até desestimular o ameaçado, mas não arranca da sua consciência as profundas convicções que tem. O líder sábio que deseja atrair seguidores ou mesmo afastar discípulos de outro líder, deve agir como o bom professor. Isso é o que instrui, no campo da Psicologia, o Frei Dr. Albino Aresi, OFMCap., ao escrever: “O educando só aparentemente é dirigível por fora. Pode ser coagido por castigos ou ameaças, pode ser insinuado por prêmios ou promessas, mas ninguém pode penetrar no seu eu soberano, sem que ele queira. A influência direcional só será possível com a apresentação de valores que o estimulam. Se o material apresentado pelo educador for resposta aos desejos conscientes ou inconscientes do educando, o educador terá ganho a partida” (Pode-se educar sem Deus? São Paulo: Everest, 1984, p. 98). Troque-se o termo professor por líder e aluno por policial militar e o resultado será igual. Do contrário, longe de atrair, o autoritário poderá criar divisões e levar ao afastamento até dos que lhe parecem fiéis.
Ainda há tempo de reverter esse quadro sombrio. A consciência é campo do magistério autêntico da Igreja (cf. Gaudium et Spes, 16; Lumen Gentium, 25) e devemos defender, ainda que com sacrifícios, a sua liberdade. “De Deus não se zomba” (Gl 6,7)!