Internacional
EUA relembram 20 anos dos ataques de 11 de Setembro
Cerimônias em Nova York, no Pentágono e em campo da Pensilvânia homenageiam as quase 3.000 vítimas dos atentados. Ex-presidentes participam de atos. Líderes mundiais prestam solidariedade
Os Estados Unidos relembram neste sábado o vigésimo aniversário dos ataques de 11 de Setembro, com cerimônias para homenagear os cerca de 3.000 mortos nos ataques executados pela rede terrorista Al-Qaeda.
Os atos em memória ocorrem em uma atmosfera tensa causada pela caótica retirada americana do Afeganistão no final de agosto. Paradoxalmente, esse é o primeiro aniversário dos atentados que ocorre sem a presença de tropas americanas no país da Ásia Central.
Um minuto de silêncio foi observado às 8h46 (9h46 de Brasília) no memorial de Nova York, onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center (WTC). Foi nesse horário, vinte anos atrás, que o primeiro avião sequestrado por fundamentalistas islâmicos atingiu a Torre Norte.
Em Nova York, a cerimônia se estendeu por mais de quatro horas. Duplas de parentes das vítimas leram os nomes dos mortos naquele dia. Os parentes também falaram sobre suas perdas. A maioria falou em inglês. Outros falaram em espanhol e russo – as vítimas dos ataques incluiram cidadãos de 70 países. Em um intervalo, o cantor Bruce Springsteen “I’ll See You in My Dreams” (eu verei você em meus sonhos).
Clifford Chanin, vice-presidente executivo do Memorial e Museu Nacional 11 de Setembro, construído no local do ataque ao World Trade Center, disse que a marca de duas décadas serve como um “momento de muita emoção” para o país, um momento para considerar “onde estivemos e para onde estamos indo”.
No Pentágono, quartel-general do Departamento de Defesa dos EUA, uma bandeira norte-americana foi estendida no lado oeste, onde um avião atingiu o prédio em 11 de setembro de 2001. O departamento também deve realizar uma cerimônia privada para honrar as 184 pessoas que morreram no local.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, presidiu a homenagem aos 2.977 mortos (incluindo 2.753 em Nova York) no “Marco Zero” do WTC ao lado de seus antecessores Barack Obama e Bill Clinton. A agenda do presidente prevê que ele visite todos os locais que foram alvos de ataques terroristas no 11 de Setembro, incluindo Nova York, a sede do Pentágono, em Washington, e um campo no estado da Pensilvânia.
Biden não fez comentários em nenhum dos locais visitados, mas divulgou um vídeo na sexta-feira para expressar suas condolências aos parentes das vítimas e destacar a unidade nacional resultante, pelo menos inicialmente, após o 11 de setembro. “Para mim é a principal lição do 11 de setembro. No momento de maior vulnerabilidade, (…) a união é nossa maior força”, declarou o presidente.
Já o ex-presidente George W. Bush, que comandava os EUA na época dos ataques, participou da homenagem na Pensilvânia, onde um avião sequestrado por terroristas foi derrubado, após passageiros tentarem recuperar o controle da aeronave e assim evitarem outro ataque.
Em um discurso no local da queda do avião, Bush, defendeu que o país lute contra extremistas violentos dentro e fora do território. “São filhos do mesmo espírito infame, e é nosso dever seguir os enfrentando”.
Na solenidade na Pensilvânia, também discursou a atual vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, que relembrou o heroísmo dos passageiros do voo 93 da United Airlines. “Neste dia solene de recordação, devemos aceitar o desafio de olhar para trás, de recordar. Pelo bem dos nossos filhos. Pelo bem dos seus filhos. E para isso, devemos também olhar para a frente, para o futuro”, disse em Shanksville, Pensilvânia.
O ex-presidente Barack Obama, por sua vez, divulgou uma mensagem saudando os heróis do 11 de setembro. “Uma coisa que ficou clara no 11 de setembro, e que permaneceu clara desde então, é que a América sempre foi o lar de heróis que correm em direção ao perigo para fazer o que é certo”, disse Obama, fazendo um paralelo com a atual pandemia de covid-19.
“Nos últimos 20 anos, vimos a mesma coragem e altruísmo em exibição repetidas vezes”, apontou Obama. “Vimos isso há uma década quando, após anos de persistência, nossos militares trouxeram justiça a Osama bin Laden [o líder da Al Qaeda]. E estamos vendo isso hoje, com os médicos e enfermeiras, cansados até os ossos, fazendo o que podem para salvar vidas; alguns dos quais nem haviam nascido 20 anos atrás, se colocando em risco para salvar americanos e ajudar refugiados a encontrar uma vida melhor”, disse Obama, em referência à pandemia e ações para evacuar civis do Afeganistão.
O ex-presidente Donald Trump, por sua vez, não participou de nenhuma cerimônia e se limitou a divulgar um comunicado, em que voltou a criticar a estratégia de Biden no Afeganistão. O ex-presidente Jimmy Carter, de 96 anos, não tomou parte nas cerimônias por motivos de saúde.
Reações internacionais
Os 20 anos sobre os ataques terroristas também foram lembrados por líderes de diversos países, que salientam a importância da defesa da liberdade e do combate ao ódio.
“Jamais esqueceremos. Sempre lutaremos pela liberdade”, escreveu hoje, na sua conta no Twitter, o presidente francês, Emmanuel Macron. Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prestou homenagem às vítimas dos ataques jihadistas, escrevendo no Twitter que devem ser lembrados “aqueles que perderam as suas vidas” e que se devem “homenagear aqueles que arriscaram tudo para ajudá-los”.
“Mesmo nos tempos mais sombrios e difíceis, o melhor da natureza humana pode brilhar. A União Europeia pode brilhar. Devemos apoiar os Estados Unidos para defender a liberdade e a compaixão contra o ódio”, acrescentou von der Leyen.
No Reino Unido, a rainha Elizabeth II prestou homenagem às vítimas dos ataques. “Os meus pensamentos e orações – e os da minha família e do país como um todo – permanecem com as vítimas, sobreviventes e famílias afetadas, bem como com os primeiros que socorreram e resgataram as vítimas”, escreveu a monarca de 95 anos.
Em visita oficial a Varsóvia, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, lembrou as “imagens assustadoras do ataque contra os Estados Unidos da América” há 20 anos, antes de fazer uma avaliação mista da invasão do Afeganistão que se seguiu.
“Sabíamos então que tínhamos de nos defender contra o perigo terrorista com a Otan” e “agora devemos reconhecer que embora tenhamos conseguido derrotar o terrorismo (…), não atingimos todos os objetivos. É por isso que é importante (…) salvaguardar o que foi adquirido, como a educação para as meninas, mesmo sabendo que com o Talibã não será fácil”, disse.
No Brasil, o governo “reiterou sua solidariedade aos familiares das vítimas (de 11 de Setembro), ao país e ao governo dos Estados Unidos”, em nota divulgada pelo Itamaraty.
“Todo ato de terrorismo constitui, em si, crime injustificável. O Brasil reitera seu repúdio ao terrorismo em todas suas formas e mantém seu compromisso de trabalhar com a comunidade internacional para combater esse flagelo e a suas causas”, aponta a nota, que lembra que três cidadãos brasileiros morreram nos atentados de 2001.
Aniversário num momento tenso
No aniversário de 20 anos, líderes políticos e educadores se preocupam com a memória coletiva cada vez menor daquele dia. Cerca de 75 milhões de norte-americanos – quase um quarto da população estimada dos EUA – nasceram desde 11 de setembro de 2001.
Para alguns, os recentes eventos tumultuados do Afeganistão aumentaram o impacto psicológico do dia, o que gerou questionamentos se a missão militar dos EUA naquele país foi em vão.
O aniversário ocorre logo após o fim da guerra liderada pelos EUA no Afeganistão, lançada há cerca de 20 anos para erradicar a Al Qaeda, que executou os ataques de 11 de setembro.
A decisão de Biden de retirar as tropas americanas do país em agosto e a rápida queda do governo aliado nas mãos do Talibã, antigos aliados da Al Qaeda, geraram críticas em todos os setores da sociedade americana. Em 20 anos, os Estados Unidos perderam 2.500 soldados e gastaram mais de US $ 2 trilhões no Afeganistão.