Internacional
Merkel vai à Polônia para acalmar temores sobre gasoduto
Em viagem de despedida ao país vizinho, chanceler alemã tenta minimizar impacto do Nord Stream 2 na Ucrânia e adota tom conciliador sobre disputas entre UE e Varsóvia
Em uma visita de despedida à Polônia neste sábado (11/09), a chanceler federal Angela Merkel tentou acalmar temores sobre o gasoduto Nord Stream 2 e também usou um tom conciliador sobre o conflito de Varsóvia com a União Europeia por causa de medidas de interferência no Judiciário.
Com Merkel prestes a deixar o poder após 16 anos, a questão do gasoduto que liga a Rússia diretamente à Alemanha desgastou as relações com os países da Europa Central e Oriental, alguns deles membros da UE, que dizem que o Nord Stream 2 aumentará a dependência de gás russo no bloco e que Moscou sai fortalecida, podendo aumentar seu poder de pressão.
A russa Gazprom disse na sexta-feira que concluiu a construção do gasoduto, localizado no Mar Báltico.
A obra vai permitir dobrar as exportações de gás russo diretamente para a Alemanha, sem a necessidade de cruzar países como a Polônia e a Ucrânia, que mantêm relações tensas com Moscou.
Além de temerem perder bilhões de dólares em taxas de trânsito pelos velhos gasodutos de superfície que ligam a Rússia à Europa Ocidental, Polônia e Ucrânia – que mantêm relações próximas – ainda tem que Moscou terá mais facilidade para cortar suprimentos para Kiev em caso de disputas políticas, sem afetar seus clientes alemães.
O projeto é na verdade uma ampliação da capacidade do sistema Nord Stream 1, que funciona desde 2011, e que liga a cidade russa Ust-Luga a Greifswald, no leste alemão. As obras do Nord Stream 2, lideradas pela estatal russa Gazprom, são avaliadas em 10,5 bilhões de dólares.
Em julho deste ano, Os Estados Unidos – que era um dos críticos da obra – e a Alemanha chegaram a um acordo sobre o gasoduto submarino. Ambos os países concordaram em apoiar a Ucrânia e sancionar Moscou se os russos voltarem a usar suprimentos de gás como mecanismo de pressão para obter influência geopolítica sobre a Ucrânia e outros países do Leste Europeu.
Como parte do acordo, a Alemanha concordou em fazer investimentos na Ucrânia e em atuar para que Moscou e Kiev prorroguem um acordo de trânsito de gás. Esse pacto, em torno do pagamento de taxas pelo transporte do gás no território ucraniano, termina em 2024. O presidente russo, Vladmir Putin, já disse que sua extensão vai depender de demonstrações de “boa vontade” por parte dos ucranianos.
“Eu deixei claro que é nossa preocupação que a Ucrânia continue a ser um território de trânsito para o gás russo”, disse Merkel durante uma coletiva de imprensa conjunta com o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki.
Morawiecki disse que garantir que o gás ainda transite pela Ucrânia, apesar da introdução do gasoduto Nord Stream 2, diminuirá a chance de “chantagem” da Rússia.
Judiciário
Outro tema abordado no encontro entre Merkel e os poloneses foi a controversa reforma do Judiciário na Polônia. No momento, tanto a Polônia quanto a Hungria estão envolvidas em uma longa disputa com a União Europeia por questões que incluem independência judicial, liberdade de imprensa e direitos LGBT, numa queda de braço que se intensificou com Bruxelas entrando com ações judiciais contra Varsóvia e Budapeste.
A Comissão Europeia, o braço executivo da UE, pediu ao tribunal superior do bloco que multasse a Polônia pelas atividades de uma câmara disciplinar de juízes.
Merkel tem enfrentado críticas de que ela poderia ter feito mais para impedir um retrocesso democrático no leste da União Europeia durante seu mandato. No sábado, ela manteve a ênfase na busca de consenso.
“Sobre o estado de direito, conversamos profundamente sobre isso. Preferimos que isso seja resolvido por meio de conversas”, disse ela. “Resolver as coisas com processos judiciais é sempre uma possibilidade em um país com um estado de direito, mas a política é mais do que ir aos tribunais.”
Migração
Ainda em Varsóvia, Merke apelou a Belarus para que o país ajude os refugiados e migrantes que vem chegando às suas fronteiras, em vez de tentar enviá-los para o outro lado da fronteira com a União Europeia (UE), descrevendo tais ações como “ataques híbridos”.
“A Bielorrússia deve compreender que pessoas indefesas de outras regiões estão a ser utilizadas como alvo de ataques híbridos”, Angela Merkel numa coletiva de imprensa conjunta Morawiecki, considerando esses ataques “completamente inaceitáveis”.
A UE suspeita que o ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, está encorajando os migrantes que chegam ao seu país a atravessarem a fronteira em direção a países da União Europeia como Letónia, Lituânia e Polónia em retaliação a sanções impostas contra o seu regime. Milhares de migrantes atravessaram ou tentaram atravessar essas fronteiras nos últimos meses, num fluxo sem precedentes.
A Polónia respondeu enviando 2.000 soldados para a fronteira com Belarus, e iniciou a construção de uma cerca de arame farpado, introduzindo o estado de emergência nessa zona do país.