Saúde
Investir em inovação em saúde pode alavancar desenvolvimento e bem-estar
Inovação na área de saúde
A pandemia de covid-19 evidenciou como investir em inovação na área de saúde pode ser estratégico para um país – tanto para assegurar o bem-estar da população como para gerar riqueza, empregos e desenvolvimento.
E o desempenho brasileiro nesse aspecto ainda está muito longe do ideal, embora o país tenha um dos maiores mercados consumidores de saúde do mundo.
Esta foi a conclusão dos especialistas reunidos no seminário on-line “Desafios no Desenvolvimento de Fármacos e Biofármacos no Brasil“, realizado pela FAPESP em parceria com o Global Research Council (GRC).
“O Brasil é um dos maiores mercados para a indústria farmacêutica. Com essa base, deveríamos ter um potencial muito grande de desenvolver novos fármacos. Porém, essa não é a nossa realidade. Podemos, infelizmente, contar nos dedos de uma mão quantos fármacos foram desenvolvidos em nosso país desde a pesquisa fundamental até chegar ao mercado. Existe um conjunto de dificuldades que explica esse problema e é preciso ampliar o debate para solucionar esses entraves,” disse o professor Luiz Eugênio Mello.
São problemas ligados à falta de integração no ecossistema de pesquisa, de planejamento do governo e de financiamento às empresas, afirmaram os especialistas.
“Nos últimos anos, houve um progresso enorme em áreas como big data, genômica, métodos biológicos e biofísicos que impulsionam o desenvolvimento de fármacos. No entanto, não está ocorrendo a tradução de pesquisas iniciais promissoras em ensaios clínicos. O fato é que, no Brasil, temos feito muita triagem de potenciais moléculas e alvos e pouco desenvolvimento efetivo de candidatos a novos fármacos,” disse Glaucius Oliva, da USP de São Carlos (SP).
Nascimento de um medicamento
Até que um novo medicamento seja comercializado, o composto candidato passa por um longo processo de pesquisa, desenvolvimento e regulação. São várias etapas que vão desde os testes in vitro, com células, passando por testes em animais e depois pelas diferentes fases de testes clínicos. Paralelamente, são conduzidos trabalhos voltados à otimização da molécula que se transformará em fármaco.
Todo esse processo tem um alto custo, pode demorar mais de 12 anos e muitas drogas em potencial são abandonadas no meio do caminho. “O desenvolvimento de um fármaco é a combinação de identificar um alvo molecular – enzimas e receptores de um organismo – e moléculas que possam travar o processo de uma determinada doença. Portanto, um fármaco não é apenas uma molécula muito potente, ela precisa chegar até o alvo. Isso quer dizer que precisa ser absorvida, ter solubilidade e outras características que vão além da potência e segurança [não ser tóxica]. Tudo isso determina a eficiência de um fármaco,” explicou Oliva.
De acordo com o pesquisador há, no entanto, um desequilíbrio na pesquisa entre as várias etapas que formam o processo de desenvolvimento de um fármaco. “Aqui no Brasil, estamos acostumados a medir a potência das moléculas na placa de Petri, mas precisamos lembrar que isso é apenas um dos parâmetros que precisam ser considerados em todo o processo de descoberta e desenvolvimento de fármacos.”
Para Oliva, a base da dificuldade em fazer avançar a pesquisa básica está na falta de profissionais qualificados e também na falta de interação entre os diferentes grupos que formam o ecossistema de inovação. “No Brasil, temos alguma vantagem competitiva por conta da variedade de produtos naturais disponíveis. Mas eu ainda quero ver o dia em que seja comum professores e alunos, após descobrirem uma molécula importante, abrirem uma startup, aguardarem ela amadurecer e montarem uma spin-off. É preciso essa maior interação para inovar,” afirmou.