Internacional
EUA investigam abusos contra migrantes haitianos
Imagens de guardas de fronteira avançando com cavalos e cercando migrantes haitianos com o uso de rédeas provocaram choque e comparações com passado escravista dos EUA
As famílias haitianas que se acumulam na fronteira do México, na tentativa de encontrar abrigo nos Estados Unidos, lidam com os maus tratos por parte das autoridades americanas, ao mesmo tempo que vivem a angústia de serem deportadas para seu país de origem, assolado pela pobreza e violência de grupos armados.
O secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, Alejandro Mayorkas, afirmou nesta segunda-feira (20/09) que as autoridades do país investigam denúncias de que migrantes vindos do Haiti estariam sofrendo abusos por parte das patrulhas que atuam na fronteira, no estado do Texas.
Mais de 15 mil migrantes, na maioria haitianos, chegaram recentemente à fronteira entre os Estados Unidos e o México, na região próxima à cidade de Del Rio, no Texas. O governo americano já começou a deportar muitas dessa pessoas para o Haiti.
Agentes a cavalo tentam lidar com um enorme fluxo de migrantes que atravessam o Rio Grande, que demarca a fronteira entre os dois países. Fotografias e vídeos com imagens de migrantes sendo cercados pelas rédeas dos policiais viralizaram nas redes sociais.
Um fotógrafo da agência AFP que testemunhou a ação dos agentes disse que muitos dos haitianos que estavam no local tentavam levar alimentos através do rio para suas famílias que estava do outro lado, mas acabaram sendo bloqueados pelos cavalos.
Um dos cavaleiros agarrou um haitiano e o circundou com o cavalo, prendendo-o em suas rédeas. Ele afirma que pouco depois, os agentes se acalmaram e deixaram que algumas pessoas passassem.
Nas redes sociais, usuários afirmaram que as imagens pareciam evocar episódios do passado escravista dos EUA.
“Horrível de se assistir”
A Casa Branca definiu como “horrível” o suposto uso de rédeas de cavalo por agentes da patrulha de fronteiras contra os haitianos. “Não conheço o contexto completo da situação”, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. “Mas, não posso imaginar em qual contexto isso seria apropriado”, acrescentou. “É algo horrível de se assistir.”
Ela lembrou que há reformas a serem feitas no sistema de asilo e que os EUA continuam deportando imediatamente a maioria dos que cruzam a fronteira durante a pandemia, sem permitir que eles solicitem acolhimento.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, nesta segunda-feira. Segundo um porta-voz do Departamento de Estado, o tema da conversa foi a “cooperação para repatriar os migrantes haitianos na fronteira sul dos Estados Unidos”, além da “preocupação mútua” dos dois países em relação à segurança dos haitianos.
Blinken também conversou com o ministro mexicano do Exterior, Marcelo Ebrard, sobre uma “coordenação para administrar os fluxos migratórios e migrantes ilegais”.
O aumento da migração através do México se tronou uma crise para o governo do presidente Joe Biden. Segundo Mayorkas, os migrantes teriam recebido informações falsas sobre permissões que seriam concedidas para sua permanência nos EUA.
Eles teriam sido falsamente informados de que receberiam do governo americano o chamado status de proteção temporária (TPS, na sigla em inglês) na condição de refugiados, em razão dos distúrbios políticos e do terremoto que atingiu o país no dia 14 de agosto.
“Estamos muito preocupados com os haitianos que adotam esse caminho irregular de migração com a falsa informação de que a fronteira estaria aberta, ou que o status de proteção temporária estaria disponível”, afirmou o secretário de Segurança Interna. O TPS é válido para os haitianos que estão nos EUA depois de um devastador terremoto ocorrido no país em 2010.
Fronteiras fechadas
“Reiteramos que nossas fronteiras não estão abertas, e que as pessoas não devem fazer essa perigosa viagem”, sublinhou. “Se você vier para os EUA ilegalmente, será deportado.”
Mayorkas disse que o país deve aumentar os voos de repatriações para os haitianos, e disse que as autoridades americanas consideram seguro enviá-los de volta ao seu país.
Após o acirramento da crise política no Haiti com assassinato do presidente Jovenel Moise, o governo Biden ampliou o TSP para os haitianos que estavam em solo americano até o dia 29 de julho. Entretanto, Mayorkas deixou claro que “ninguém que chegou na semana passada está elegível para receber o TSP.”
O secretário insistiu que era razoável repatriar os migrantes para o Haiti, apesar da instabilidade política e da destruição gerada pelo terremoto de agosto. “Fizemos uma avaliação baseada nas condições do país”, garantiu, afirmado que a conclusão foi a de que “o Haiti poderia, de fato, receber com segurança os migrantes”.