Internacional
Assolada por hiperinflação, Venezuela corta 6 zeros do bolívar
Em seu oitavo ano consecutivo de recessão, país faz nova reconversão monetária e passa a chamar sua desvalorizada moeda nacional de bolívar digital. Chavismo já cortou 14 zeros, recorde na América do Sul
A Venezuela cortou nesta sexta-feira (1/10) seis zeros da sua desvalorizada moeda, o bolívar soberano, que passará a se chamar bolívar digital, em meio a um processo de reconversão monetária.
Com a mudança, que havia sido anunciada em 5 de agosto pelo Banco Central da Venezuela, 1 milhão de bolívares passará a ser 1 bolívar, o equivalente a cerca de R$ 1,30.
O Banco Central da Venezuela vai emitir cédulas de 5, 10, 20, 50 e 100 bolívares digitais, assim como uma moeda de 1 bolívar, a partir desta sexta-feira.
Recordista regional em corte de zeros
Este é o terceiro corte de zeros na moeda nacional em 13 anos, fazendo da Venezuela o país sul-americano que mais removeu zeros de sua moeda. Foram 14 no total. O recorde mundial é do Zimbabué, país que eliminou 25 zeros ao longo de várias reconversões.
Em 2008, sob o então presidente, Hugo Chávez, a Venezuela eliminou três zeros do bolívar e introduziu o bolívar forte. Em 2018, já no governo de Nicolás Maduro, eliminou cinco zeros e lançou o bolívar soberano.
O governo anunciou ainda que pretende que a economia se torne totalmente digital, o que especialistas interpretaram como um passo para evitar a emissão de cédulas que rapidamente perdem valor.
Fracasso econômico
A Venezuela passa pelo oitavo ano consecutivo de recessão e enfrenta uma hiperinflação, que chegou a 3.000% ao ano em 2020 e havia sido de mais de 9.500% no ano anterior. Desde 2013, a economia nacional encolheu 80%.
A maioria dos pagamentos em bolívares é feita por meio de cartão ou transferência bancária, e preços em muitas lojas estão em dólar para evitar as constantes alterações nas etiquetas.
Economistas disseram que o simples corte de zeros, sem estar acompanhado de um plano de disciplina fiscal, não corrige nenhum dos problemas básicos da economia venezuelana.
“É como limpar o chão sem consertar a goteira”, disse o decano da Faculdade de Economia da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), Ronald Balza.
Ele instou o Banco Central e o Instituto Nacional de Estatísticas da Venezuela a divulgarem as estatísticas e o orçamento de Estado e defendeu medidas de disciplina fiscal para travar a inflação e abrir um espaço transparente para os investimentos no país sem secretismo nas contratações públicas.
Para o economista Luís Oliveros, a reconversão em si é uma amostra do fracasso da estratégia anti-inflacionária do governo. Ele lembrou que a Venezuela é o segundo país com a hiperinflação mais longa da história.