Internacional
Merkel faz apelo à defesa da democracia
Em celebração que marcou os 31 anos da reunificação alemã, chanceler federal pede que cidadãos do país continuem a trabalhar em conjunto e diariamente para preservar conquistas democráticas
A chanceler federal da Alemanha, Ângela Merkel disse que os alemães precisam continuar trabalhando pela democracia. A declaração foi feita em um evento do Dia da Unidade Alemã, que marca o 31º aniversário da reunificação do país após a derrocada da antiga Alemanha Oriental.
“Às vezes damos a democracia como certa, como se não houvesse mais nada a fazer”, disse Merkel. “[Mas] a democracia não está aí simplesmente”, prosseguiu a chefe de governo durante um evento na cidade de Halle, no leste do país. “Devemos trabalhar juntos pela democracia, repetidamente, todos os dias.”
Merkel também advertiu sobre os riscos à ordem democrática, citando o assassinato de um político conservador pró-imigração na Alemanha em 2019 por um extremista de direita, o atentado antissemita a uma sinagoga em Halle no mesmo ano e a morte no mês passado do funcionário de um posto de gasolina por um homem que se recusava a usar máscara. “A democracia está sob ataque”, disse Merkel, naquele que deve ser último discurso como chanceler num evento do Dia da Unidade Alemã.
Pós-eleições
A política conservadora vai deixar a chefia de governo após 16 anos no poder. Por enquanto, a sucessão de Merkel permanece indefinida, enquanto os partidos ainda costuram uma nova coalizão de governo.
No momento, dois políticos tentam ocupar a Chancelaria Federal: o social-democrata Olaf Scholz, que obteve mais votos na eleição em 26 de setembro, e o democrata-cristão Armin Laschet, membro do partido de Merkel e que obteve menos votos, mas ainda tem chance de ser bem-sucedido na fase de alianças.
Merkel mencionou indiretamente o processo para a formação de um novo governo.
“Podemos discutir exatamente como será o futuro, mas sabemos que a resposta está em nossas mãos, que temos que ouvir e falar uns com os outros, que temos diferenças, mas acima de tudo coisas em comum”, disse.
“Esteja preparado para novos encontros, seja curioso sobre os outros, conte suas próprias histórias e tolere diferenças”, acrescentou. “Essa é a lição de 31 anos de unidade alemã.”
Reunificação não foi concluída
Sobre a reunificação da Alemanha, a chanceler federal também afirmou que este “não é um processo concluído”, mencionando que muitos moradores da antiga Alemanha Oriental, como ela mesmo, tiveram que continuamente justificar que também fazem parte do país. Merkel cresceu na antiga Alemanha Oriental e se lançou na política em 1990, após a Reunificação.
Ela ainda afirmou que a Reunificação aconteceu “porque havia pessoas na Alemanha Oriental que arriscaram tudo por seus direitos, sua liberdade e uma sociedade diferente”.
Três décadas depois, permanece uma divisão política e econômica entre o oeste alemão e os estados do leste do país, que passaram mais de quatro décadas sob uma ditadura do partido comunista. Os alemães dos estados ocidentais continuam, em média, mais ricos do que os habitantes dos territórios da antiga Alemanha Oriental.
O processo de reunificação, embora tenha resultado no fim da ditadura, também foi marcado por mudanças mais dolorosas na antiga Alemanha Oriental, como o fechamento de boa parte das indústrias locais e alto desemprego. Algumas dessas mudanças resultaram em ressentimento entre muitos habitantes.
Parte das diferenças entre oeste e leste foi ilustrada na eleição nacional do final do mês passado. No leste, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que explora a insatisfação da população local, obteve seus melhores resultados, muito acima da média nacional.