Internacional
FAO adverte que o pior da crise humanitária está por vir no Afeganistão
Alerta de representante da agência no país veio depois de percorrer áreas rurais; mais 5 milhões de afegãos podem passar fome; situação aliada à morte de animais na seca marcaria ponto crítico da catástrofe; Acnur preocupado com obstáculos na busca de abrigo de afegãos no vizinho Tajiquistão
O representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, no Afeganistão disse esta sexta-feira a jornalistas que “a trajetória e a velocidade da crise” antecipam que ainda não se viu o pior.
Falando em Genebra, Richard Trenchard contou que acabava de visitar a província ocidental de Harat e a situação é desastrosa. As regiões mais afetadas pela seca tiveram a agricultura de sequeiro afetada, assim como o pastoreio de animais.
Dinheiro
Os agricultores no distrito de Zendajan perderam quase todas as safras deste ano, venderam seu gado e não têm dinheiro.
O representante disse que o Afeganistão “sem dúvida se tornou a maior crise humanitária do mundo” e ressaltou que a expectativa é que mais 5 milhões enfrentem crise e níveis de emergência de fome aguda nos próximos quatro meses.
Atualmente, metade dos afegãos já estão em situação de insegurança alimentar. No total, 18,8 milhões de pessoas não sabem de onde virá sua próxima refeição.Crianças brincam em acampamento para desalojados em Herat, Afeganistão
A agência precisa urgentemente de US$ 115 milhões para alcançar 5 milhões de afegãos neste inverno e na próxima primavera. O valor é parte dos US$ 200 milhões para o Plano de Resposta Humanitária de 2022.
Ponto crítico
O chefe da FAO no Afeganistão adianta que seriam catastróficas as consequências de não fornecer essa assistência humanitária urgente.
Milhões de afegãos vivem na iminência da fome e o quadro pode ser agravado com a seca no país, causando morte de animais e dificuldades na época de semeadura. A FAO afirma que “este será o ponto crítico para a catástrofe.”
Richard Trenchard destacou que os sistemas de subsistência agrícolas estão à beira do colapso e o mundo não se deve esperar que essa calamidade aconteça, como pediu a enviada especial do secretário-geral no país, Deborah Lyons.
Na reunião do órgão, a representante especial disse ao Conselho de Segurança da ONU que o mundo está perante uma catástrofe humanitária que é evitável.
Asilo no Tajiquistão
Ainda esta sexta-feira, a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, disse estar alarmada com a deportação de afegãos vivendo como candidatos a asilo no Tajiquistão.Crianças em Shade Bara, em Herat, no Afeganistão, uma das províncias mais afetadas pela seca.
Esta semana autoridades do país vizinhos devolveram 11 pessoas à força ao Afeganistão, antes “de qualquer exame de seus pedidos de asilo e proteção”.
O Acnur também está apreensivo com o aumento dos obstáculos para os cidadãos afegãos como a suspensão da emissão de autorizações de residência para recém-chegados, um pré-requisito para os pedidos de asilo.
As barreiras aos afegãos recém-chegados já os deixavam expostos a uma possível prisão e deportação com a recente suspensão da revisão de pedidos de asilo para atribuição do estatuto de refugiado.
Procedimentos
O apelo feito às autoridades do Tajiquistão é que se abstenham de realizar “qualquer retorno de requerentes de asilo e retomem de imediato os procedimentos de residência legal e determinação do estatuto de refugiado.”
A agência lembra que segundo a legislação internacional e nacional sobre refugiados e direitos humanos, o Tajiquistão continua obrigado a fornecer acesso ao seu território àqueles que buscam proteção fora de seu país.