ENTRETENIMENTO
Você conhece a história de terror que não está apenas nos filmes?
Religiosas católicas são muitas vezes as heroínas nessas tragédias da vida real. Mas muitos de nós não têm ideia do que está acontecendo
Recentemente, tive uma conversa com um amigo, uma pessoa muito bem informada, sobre o problema do tráfico de pessoas. Contei a ele sobre minha experiência com a Fundação Arise, atuando em casos de mulheres jovens (e alguns homens) que são forçadas à escravidão sexual, e que os números – tanto em termos de pessoas quanto de lucros – eram enormes.
“Eu pensei que isso hoje acontecia apenas no cinema”, disse ele. “Como no filme com o Liam Neeson.” Ele estava se referindo a um filme aterrorizante, Taken, no qual Neeson interpreta um ex-agente da CIA, o pai de uma jovem que foi sequestrada em Paris para ser traficada.
Infelizmente, o tráfico de pessoas não é apenas um tópico para grandes filmes de ação. É tudo muito real e acontece no mundo todo. Embora não seja surpreendente que meu conhecido não estivesse ciente dessa realidade angustiante, é lamentável. Abolir o tráfico e a escravidão só acontecerá quando as pessoas souberem o que está acontecendo, muitas vezes bem em seus próprios bairros.
Heróis da linha de frente
Embora poucas pessoas estejam cientes da extensão da escravidão moderna, elas sabem menos ainda que as religiosas católicas estão fazendo mais do que qualquer outro grupo no mundo para lutar contra esse problema. Como é frequentemente o caso das religiosas católicas, elas estão na linha de frente.
Uma religiosa que experimentou a escravidão em primeira mão foi Santa Josephina Bakhita, padroeira das vítimas da escravidão e do tráfico. Santa Josephine era uma mulher sudanesa, sequestrada quando jovem no final de 1800 e forçada a trabalhar como escrava. Ela acabou sendo trazida para a Itália e libertada. Ela se tornou católica e entrou na vida religiosa com as Irmãs Canossianas.
Santa Josephina foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 1992 e canonizada no ano 2000. O sofrimento que ela passou como escrava é inimaginável. Um “dono” a cortou mais de 100 vezes, e ela suportou essas cicatrizes por toda a vida.
O triste fato é que a escravidão não foi desapareceu, e casos tão brutais quanto o de Santa Josephina estão acontecendo em todo o mundo. O Papa Francisco pediu aos católicos que rezem pelas vítimas do tráfico de pessoas.
De pré-escolares a prostitutas
Na verdade, é um flagelo global destruindo a dignidade de milhões de pessoas. As vítimas podem variar de crianças que deveriam estar no jardim de infância, trabalhando em fornos de tijolos no Paquistão; a empregadas domésticas filipinas nos Estados do Golfo – as quais não podem sair de seu local de trabalho; a jovens nigerianas e da Europa Oriental forçadas à prostituição nas ruas de Roma, Madri e Paris. As vítimas também podem ser trabalhadoras em salões de beleza em Chicago, Nova York ou Miami.
Aprendi pela primeira vez sobre a escravidão moderna enquanto vivia em Roma, e tive a sorte de estar lá quando Josephina Bakhita foi beatificada. Através da Fundação Arise, conheci o incrível trabalho que as religiosas católicas estão fazendo nesta esfera. A Arise, fundada em 2015, é uma pequena ONG. Ajuda os grupos da linha de frente, e especialmente as redes de religiosas, a combater as causas profundas da escravidão hoje: pobreza extrema e desemprego.
Enquanto muitas religiosas criam esconderijos para mulheres traficadas depois de terem sido resgatadas, o foco da Arise está na prevenção, abordando o problema em suas raízes. A conscientização é apenas o começo: educação, treinamento de habilidades e criação de empregos são fundamentais.
Como grande parte do serviço humanitário que a Igreja presta em todo o mundo, o trabalho das religiosas nesta área passa sem alarde. Mas é essencial e muitas vezes muda a vida. Poucas coisas mudam mais a vida do que a liberdade, e as religiosas católicas estão trabalhando melhor do que qualquer outro grupo — mais silenciosa, efetiva e eficazmente — para acabar com a escravidão.
A maior organização humanitária do mundo
As religiosas católicas formam uma rede incrível. Elas vêm de ordens diferentes e têm missões diferentes, mas se você juntá-las, elas formam a maior organização humanitária do mundo. Seu trabalho antiescravidão ocorre em todo o mundo. Os casos que conheço melhor são aqueles em que a Arise é mais ativa: Índia, Filipinas, Nigéria e Albânia – todos países onde os traficantes exploram a pobreza desesperada de tantas pessoas.
O exemplo da Ir. Jessy Maria, uma religiosa que vive em Jharkhand, um estado do leste da Índia, é um dos que deve deixar qualquer católico orgulhoso. Ir. Jessy, 50 anos, passou os últimos 30 anos trabalhando para melhorar a vida das pessoas nas comunidades mais remotas da região.
Trabalhando em lugares onde a maioria da população é analfabeta e vive abaixo da linha da pobreza, Ir. Jessy e sua equipe confrontam as ações do traficantes, que vêm para as aldeias fingindo ser recrutadores com ofertas de emprego nas grandes cidades. Os “empregos” prometidos acabam sendo diferentes formas de exploração e escravidão. Nos últimos anos, as religiosas transitaram pelas aldeias usando banners e outros materiais e iniciativas para informar as pessoas sobre tal problema e como evitá-lo.
Funciona. As irmãs estão inseridas nas comunidades em que vivem. Elas estão perto das pessoas e são confiáveis. Poucas ONGs podem dizer isso.
Essas irmãs nunca se vangloriariam do seu trabalho contra a escravidão, seja em Los Angeles, Londres ou Lagos. Elas não buscam elogios por suas ações heróicas. Quase todas passarão despercebidas, mas precisam do nosso apoio – e de nossas orações.
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Greg Burke, o ex-porta-voz do Vaticano, trabalha com a instituição de caridade antiescravidão Arise. Para mais informações, escreva para info@arise.foundation