AGRICULTURA & PECUÁRIA
O que o agronegócio pensa sobre a gestão de Tereza Cristina?
Agricultura familiar, suinocultura e pecuária de leite destacam ações positivas na gestão da ministra e cobram medidas que não foram adotadas
Após quase quatro anos, Tereza Cristina encerrará seu ciclo à frente do Ministério da Agricultura. No próximo dia 31 de março, ela se afasta oficialmente do cargo para disputar uma vaga no Senado por Mato Grosso do Sul. Desde o início da sua gestão, em janeiro de 2019, a agropecuária nacional conquistou vitórias, como abertura de mercados. Mas os desafios aumentaram na mesma proporção, a exemplo da elevação dos custos e a falta de crédito para financiar a safra.
E como o setor produtivo avalia a atuação de Tereza Cristina à frente do Mapa? O Canal Rural ouviu diferentes segmentos do agro, que aprovaram o desempenho da ministra, mas, ao mesmo tempo, cobraram mais ações em prol da cadeia produtiva.
“A ministra tem boa vontade, discute as questões para o setor, mas quando chega na Economia, aquilo que é proposto pelo Ministério da Agricultura não é aprovado. Dentro dos limites do governo, a ordem é cortar tudo, inclusive para a agricultura”, ressalta o presidente da Fetag.
Carlos Joel da Silva ainda pontua a necessidade de mais verba do orçamento para o Mapa. “Os recursos que temos hoje são insuficientes e isso vem se arrastando a cada governo. Poderíamos falar de melhorias para programas e financiamentos, mas os recursos são aquém daquilo que é necessário”, complementa.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, segue a mesma linha do dirigente da Fetag, ao condicionar as ações do Mapa com a atuação do Ministério da Economia.
“A ministra Tereza Cristina fez uma ótima gestão no Ministério da Agricultura, com equipe bastante integrada. Ela e o nosso setor tiveram muitas dificuldades com o Ministério da Economia, que não atendeu as demandas que levamos a ele”, afirma.
Sob a gestão de Tereza Cristina, o setor leiteiro pleiteava a retirada do PIS das rações para bovinos e a isenção de impostos dentre eles o de importação de equipamentos e suprimentos, principalmente importados. “Essas demandas não atendidas dependiam do Ministério da Economia e não foram atendidas por falta do interesse da pasta em ouvir o setor”, diz o presidente da Abraleite.
Na suinocultura, a avaliação da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) é que a gestão de Tereza Cristina trouxe medidas que fortaleceram a qualidade da sanidade brasileira.
“Ela [Tereza Cristina] abriu novos mercados internacionais para carne suína e sempre esteve à frente das negociações internacionais, reforçando os critérios de sanidade do país, encabeçando o trabalho no combate à Peste Suína Clássica (PSC), além das campanhas de prevenção à Peste Suína Africana (PSA)”, destaca o presidente da ABCS, Marcelo Lopes.
Se o aspecto sanitário da suinocultura foi destaque, o mesmo não pode se dizer dos resultados econômicos do setor, especialmente o mercado interno, que enfrenta uma das piores crises dos últimos anos. Nesse sentido, a ABCS elenca ações que não foram adotadas pela pasta e que poderiam amenizar o cenário de prejuízos, são elas: manutenção da isenção das alíquotas de importação do milho até dezembro de 2022; prorrogação das parcelas vencidas e vincendas em 2022 e criação de linha de crédito emergencial para beneficiários do Pronamp.
Imagem do agro
Os últimos três anos podem ser considerados desafiadores quando o assunto é a imagem do agronegócio brasileiro perante ao mundo. Acusações feitas por políticos internacionais e até mesmo artistas, chegaram a ameaçar as relações comerciais com os parceiros do Brasil.
Para o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o Ministério da Agricultura ganhou relevância na gestão de Tereza Cristina.
“A presença da Ministra Tereza Cristina foi fundamental para manter coeso o agro brasileiro em momentos de fortes ações externas com narrativas contra o setor baseadas em desmatamento e queimadas, entre outros temas como sanidade animal. A ministra soube coordenar isso internamente e não mediu esforços para enfrentar os focos externos”.
Carvalho ainda ressalta a ampliação de parceiros comerciais do agronegócio na gestão da ministra. No entanto, ele também lembra da dificuldade na obtenção de recursos para o setor.
“A abertura de mercados chama muito a atenção. Houve um avanço nítido no ciclo de desenvolvimento setorial, principalmente em relação aos outros setores da economia brasileira. Mas como sempre, temos dificuldade de conseguir recursos para atender aos programas fundamentais. Cite-se, no caso, no campo da pesquisa e desenvolvimento”, conclui.