Internacional
Diplomatas russos são expulsos de vários países da Europa
O 41º dia da guerra na Ucrânia também foi marcado por discurso do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, no Conselho de Segurança da ONU
A terça-feira (05/04), 41º dia da guerra na Ucrânia, foi marcada por discurso do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, no Conselho de Segurança da ONU e pela expulsão de diplomatas russos em vários países europeus, enquanto o mundo ainda repercute as atrocidades cometidas em Bucha.
Após o massacre de centenas de civis na cidade ucraniana, diversos países decidiram expulsar diplomatas e funcionários russos. Desde segunda-feira, quase 200 diplomatas foram expulsos na Europa. Na maioria das vezes, as justificativas tinham a ver com suposta espionagem ou “razões de segurança nacional”.
Nesta terça-feira, o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Jeppe Kofod, informou que 15 funcionários da inteligência russa devem deixar o país dentro de duas semanas. A Itália expulsou 30 diplomatas russos, disse o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio. Os anúncios seguiram movimentos semelhantes da Alemanha e da França, que informaram a expulsão de dezenas de russos com status diplomático na segunda-feira.
Também nesta terça, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse que “pelo menos 25 pessoas” que trabalham na embaixada russa em Madri serão expulsas. Portugal, por sua vez, anunciou a expulsão de 10 diplomatas, que devem deixar o país dentro de duas semanas por terem “posto em perigo a segurança nacional”.
A Romênia, que faz fronteira com a Ucrânia, foi outro país europeu a expulsar 10 diplomatas russos que, segundo o Ministério das Relações Exteriores em Bucareste, violaram a Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas.
A Eslovênia seguiu o mesmo caminho e expulsou 33 diplomatas russos, segundo a agência de notícias eslovena STA, reduzindo de 41 para apenas 8 o número de diplomatas da embaixada russa no país. O Ministério das Relações Exteriores também expressou “o mais forte protesto e desgosto pelo massacre de civis ucranianos em Bucha”.
A Estônia e a Letônia, duas ex-repúblicas soviéticas, foram além e decidiram fechar representações diplomáticas russas. A Estônia vai fechar o consulado-geral da Rússia em Narva e o escritório consular em Tartu. O país báltico também disse que vai expulsar e declarar como persona non grata 14 funcionários russos, incluindo sete com status diplomático. Eles devem deixar a Estônia até 30 de abril.
A Letônia também decidiu fechar dois consulados russos e expulsar seus funcionários. “Levando em conta as atrocidades cometidas pelas forças armadas russas na Ucrânia, a Letônia decidiu fechar os consulados gerais russos em Daugavpils e Liepaja e expulsar 13 diplomatas e funcionários russos”, escreveu o ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars Rinkēvičs, no Twitter.
A Lituânia já havia expulsado seu embaixador russo na segunda-feira devido ao “horrível massacre” em Bucha e às atrocidades em outras cidades ucranianas. O país báltico também chamou de volta seu enviado em Moscou e fechou o consulado russo em Klaipeda.
A União Europeia declarou indesejáveis 19 diplomatas russos na Bélgica, acusando-os de atividades incompatíveis com o seu estatuto diplomático e alegando, também, que responde a relatos de atrocidades cometidas por soldados russos em áreas temporariamente ocupadas na Ucrânia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que as expulsões em massa de seus diplomatas são “um movimento míope”. “Restringir as oportunidades de comunicação diplomática em um ambiente de crise tão difícil e sem precedentes é um movimento míope que complicará ainda mais nossa comunicação, que é necessária para encontrar uma solução”, declarou Peskov.
Discurso no Conselho de Segurança da ONU
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, fez nesta terça-feira seu primeiro pronunciamento ao Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, desde o início da invasão russa a seu país
Em mensagem de vídeo, Zelenski contou o que viu em sua visita à Bucha. Ele acusou os soldados russos de abrirem fogo contra famílias inteiras, incluindo mulheres e crianças, e de tentarem queimar os corpos das vítimas.
O presidente lembrou que o estatuto primeiro da ONU estabelece a obrigação de “manter a paz e assegurar as adesões à paz”, e questionou o papel da entidade em garantir esse compromisso. “Onde está a paz? Onde estão as garantias que a ONU precisa assegurar?”, perguntou.
Zelenski pediu que o Conselho exclua a Rússia por ser “agressora e causadora de uma guerra, de modo que não possa bloquear decisões contra suas próprias agressões, sua própria guerra”.
“Lidamos com um estado que transformou o veto no Conselho de Segurança da ONU em um direito a causar morte. Isso mina toda a arquitetura global de segurança. Permite que não sejam punidos. Por isso, destroem tudo o que podem”, afirmou.
Ele pediu ações urgentes. “O sistema da ONU deve ser reformado imediatamente, para que o veto não seja o direto à morte”, apelou.
Rússia volta a negar atrocidades em Bucha
A Rússia segue negando a autoria do massacre em Bucha. O presidente do parlamento russo afirmou, sem apresentar provas, que o Ocidente encenou os assassinatos de civis em Bucha para “desacreditar” a Rússia.
“A situação em Bucha é uma provocação. Washington e Bruxelas são os roteiristas e diretores e Kiev, os atores”, disse Vyacheslav Volodin, presidente da câmara baixa do parlamento russo, a Duma. “Não há fatos, apenas mentiras”, acrescentou.
No fim de semana, tropas ucranianas, imagens de satélite, jornalistas e civis revelaram evidências do massacre de civis inocentes depois que as tropas russas se retiraram de Bucha, um subúrbio de Kiev.
A checagem de fatos da DW analisou os vídeos feitos nas ruas de Bucha e concluiu que não há sinais de que o massacre tenha sido forjado.
Zelenski fala perante o Parlamento espanhol
Além do discurso ao Conselho de Segurança da ONU, Zelenski também falou nesta terça-feira, por vídeo, ao Parlamento espanhol. O presidente ucraniano comparou o sofrimento das pessoas em seu país com a destruição durante a guerra civil espanhola. “Estamos em abril de 2022, mas parece abril de 1937, quando o mundo inteiro descobriu o ataque à cidade de Guernica”, disse Zelenski.
A pequena cidade basca foi em grande parte destruída em um ataque aéreo da Legião Condor, da Alemanha, durante a guerra civil espanhola – até 2 mil pessoas morreram.
Em seu discurso, Zelenski pediu a todas as empresas espanholas que se retirem da Rússia. “Apoiem-nos com armas e sanções”. Em uma breve resposta, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, prometeu apoio total contínuo ao país e pediu ao presidente russo, Vladimir Putin, que acabe com a guerra.
Mais de 11 milhões de deslocados
As agências humanitárias das Nações Unidas estimam que 11,3 milhões de pessoas precisaram deixar suas casas na Ucrânia, o que representa um quarto da população do país, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontou que existem registros de 7,1 milhões de deslocados internos, o que representa aumento de 10% na comparação com o cálculo divulgado em 16 de março.
A esse número, somam-se os ucranianos que fugiram para outros países, que são 4,24 milhões, de acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur).
Segundo um estudo da OIM, mais da metade dos deslocados internos tem filhos, cerca de 57% são idosos e aproximadamente 30% sofrem de doenças crônicas.
Além disso, o poder aquisitivo dos deslocados caiu em consequência da guerra, e quase dois terços deles indicam renda mensal inferior ao equivalente a R$ 784,87.
Do total de refugiados da Ucrânia, 2,4 milhões chegaram na Polônia, 648 mil estão na Romênia (a maioria passando antes pela Moldávia), 394 mil na Hungria, 350 mil na Rússia e 301 mil na Eslováquia.
Também nesta terça-feira, a Alemanha disse que doadores internacionais prometeram 695 milhões de euros em ajuda à Moldávia.
UE propõe bloqueio a importações de carvão russo
A Comissão Europeia propôs nesta terça-feira uma nova leva de sanções ao regime de Putin que devem incluir a proibição das importações de carvão, madeira e outros produtos russos, além do veto de exportações da União Europeia de produtos como semicondutores e computadores.
A expectativa é que as novas medidas afetem 20 bilhões de euros em trocas comerciais. A proposta do Executivo da União Europeia seria a primeira a atingir o lucrativo o setor de energia da Rússia desde o início de sua invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro. Bruxelas sugeriu ainda impedir a entrada de navios russos nos portos europeus.