Internacional
Como a crise na Venezuela agravou a saúde de um jovem com esquizofrenia
Leo Medina foi diagnosticado nos anos 90 e tinha a doença sob controle, mas ficou sem tratamento, nos últimos anos, por causa da escassez de medicamentos, alimentos e choques na economia venezuelana; situação só melhorou após família se refugiar na Guatemala
A saúde mental de refugiados é um tema ainda pouco explorado em debates internacionais.
Os traumas vividos por crianças e jovens obrigados a fugir de suas casas por causa de conflitos e guerras deixam marcas por um longo espaço de tempo.Migrantes entram em barco no Golfo de Uraba, Colômbia
Alimentos e medicamentos
Um outro drama humano são tratamentos interrompidos contra doenças graves em momentos de crises políticas e mudanças abruptas na economia e no tecido social de nações inteiras.
Na Venezuela, dos anos 90, o adolescente Leo Medina foi diagnosticado com esquizofrenia. Ele recebia os medicamentos e mantinha a doença controlada. Mas com a crise política agravada no governo de Nicolás Maduro, foi ficando mais difícil continuar o tratamento.
Faltavam medicamentos, alimentos e sobravam dívidas.
Os pais de Leo, Héctor e Yesmaira, foram cortando as doses que se resumiam a quatro comprimidos por dia.Refugiados venezuelanos no Equador que são apoiados pelo Acnur durante a pandemia
Depressão e trabalho
Com os remédios no fim, ele começou a ter várias crises, entrou em depressão e perdeu o trabalho.
Ele recorda que perdeu a alegria de viver na Venezuela. Assim como outros 6 milhões de venezuelanos que tiveram que fugir para o exterior nos últimos anos, deixando tudo para trás.
Quando os pais de Leo conseguiram escapar da crise para a Guatemala, o jovem conta que passou um ano e meio numa situação de saúde mental bem precária. Ali, no novo país, os médicos decidiram reexaminar o caso mudando o diagnóstico de esquizofrenia para desordem bipolar.Muitos migrantes da Venezuela ficaram ainda mais pobres com o confinamento.
Doces venezuelanos
Hoje, aos 36 anos, ele recorda que após iniciar o tratamento, sua vida começou a melhorar.
A família, que já era empresária na Venezuela, abriu um novo negócio no país centro-americano.
Ali, Leo é quem praticamente gerencia a microempresa de doces venezuelanos, da garagem de casa, nos arredores da Cidade de Guatemala.
A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, afirma que as pessoas deslocadas por conflitos, violência, guerras e perseguições têm mais dificuldade para se recuperar de problemas de saúde mental que aquelas não afetadas por essas mudanças.Refugiada venezuelana trabalhando em uma fábrica de roupas no Brasil
Apoio psicossocial
Em 2019, um estudo da publicação especializada The Lancet mostrou que o “fardo de desordens mentais é pesado em pessoas que vivem em conflito”.
Já uma pesquisa da Plos Medicine ressalta que “refugiados adultos e requerentes de asilo têm taxas mais altas e persistentes de estresse pós-traumático e depressão.”
O Acnur está atuando para tornar o apoio psicossocial e a saúde mental parte integral de seu trabalho, especialmente durante a pandemia da Covid-19. Um momento em que aumentaram perdas, isolamento e incerteza sobre o futuro.