Internacional
FMI: América Latina enfrenta riscos econômicos excepcionalmente altos
Segundo especialistas do Fundo Monetário Internacional, guerra na Ucrânia, aumento da inflação, condições financeiras mais restritivas e desaceleração da economia dos principais parceiros comerciais estão entre os riscos que ameaçam as perspectivas de crescimento da região
Na avaliação de especialistas do Fundo Monetário Internacional, FMI, a guerra na Ucrânia está abalando a economia mundial e gerando incertezas em relação às perspectivas para a América Latina e o Caribe.*
A análise conjunta do diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Ilan Goldfajn, com o diretor adjunto, Jorge Roldós, e o economista sênior, Santiago Acosta-Ormaechea, revela que o impacto está sendo sentido na América Latina por meio da inflação mais alta, que afeta a renda real, principalmente dos mais vulneráveis.Sede do FMI em Washington, nos Estados Unidos
Resposta à crise
Os analistas explicam que as autoridades estão reagindo ao desafio com o aperto na política monetária e a adoção de medidas que suavizem a pressão e contenham os riscos de agitação social.
Mas existem outros riscos no horizonte. Uma possível escalada da guerra poderia vir a provocar dificuldades financeiras no mundo e condições financeiras mais restritivas para a região.
O atual processo de aperto da política monetária nos Estados Unidos, com o Banco Central americano adotando uma postura mais intensa de combate à inflação, poderia atingir as condições financeiras globais.
Para os especialistas do FMI, a elevação dos custos de financiamento internos e internacionais deve acelerar a saída de capitais e representar um desafio para a América Latina, devido às grandes necessidades de financiamento público e externo de alguns países e aos recursos limitados para financiar os investimentos na região.
Fator China e pandemia
Uma desaceleração mais acentuada do crescimento na China, seja por causa da pandemia ou por outros motivos, também poderia impactar os preços das principais exportações e o comércio na região. Todos esses riscos ameaçam as perspectivas de crescimento da América Latina e exigem medidas de política econômica.
Na avaliação do FMI, mesmo antes da guerra, o esforço da região para retomar o crescimento após o efeito debilitante da pandemia estava perdendo impulso.
Após uma forte recuperação no ano passado, o crescimento está voltando a patamares anteriores à pandemia conforme as políticas econômicas se reajustam, se desacelerando para 2,5% em 2022.
As exportações e o investimento estão reassumindo seu papel de principais motores do crescimento, mas os bancos centrais foram forçados a apertar a política monetária para combater o aumento da inflação.
No caso do Brasil, o FMI projetou que a expansão desacelerará para 0,8% este ano, após o crescimento de 4,6% no ano passado.
O México deverá desacelerar para 2,0%. A Colômbia, por outro lado, provavelmente irá registrar uma desacelaração menor, com crescimento de 5,8%.
No Chile e no Peru, serão 1,5% e 3%, respectivamente, apontando para reduções bastante significativas em relação às taxas de dois dígitos no ano anterior.Atualização mensal menciona ainda que houve um abrandamento da demanda de alimentos durante o mê
Alta dos preços dos alimentos e da energia
Segundo a análise dos especialistas do FMI, a pobreza e a desigualdade seguem como preocupações importantes, já que o aumento na inflação tem impacto desigual sobre a população.
Eles avaliam que as camadas mais carentes estão sendo duramente afetadas pela alta dos preços dos alimentos básicos e da energia, enquanto ainda lutam para se recuperar do impacto econômico.
Após o início da guerra, vários países latino-americano adotaram medidas para conter os efeitos do aumento de preços – desde a redução de impostos e tarifas de importação até a implementação de limites de preços ou transferências sociais.
Cerca de 40% dos países introduziram novas medidas, a maioria por meio de alterações de impostos, com custo fiscal médio estimado em 0,3% do PIB deste ano.
Mitigação da crise
Os especialistas do FMI afirmam que para assegurar a coesão social e reduzir o risco de tensões sociais, os governos devem proporcionar apoio direcionado e temporário às famílias vulneráveis e de baixa renda, permitindo, ao mesmo tempo, o ajuste dos preços internos aos praticados no mercado internacional.
Isso conteria os custos fiscais, além de estimular a produção e refrear o consumo. Nos países com redes de proteção social bem desenvolvidas, o acesso a elas poderia ser ampliado temporariamente para atender a parcelas maiores da população.
Na ausência de redes de proteção desenvolvidas, os governos podem implementar mecanismos temporários para amortecer o repasse dos aumentos de preços internacionais aos preços internos.Forte dependência de commodities aumentou globalmente deixando cerca de dois terços dos países em desenvolvimento vulneráveis a choques econômicos
Commodities e famílias
No entanto, o FMI alerta que essas medidas embora possam proteger as famílias da volatilidade dos preços das commodities, tendem a incluir um custo fiscal significativo e distorcer os incentivos de preço para produtores e consumidores.
Os países beneficiados pela melhoria em suas relações de troca – uma medida dos preços das exportações de um país em relação a suas importações – podem ter mais facilidade para financiar essas novas medidas.
Contudo, o FMI alerta que qualquer espaço fiscal adicional deve ser usado com prudência, dados os riscos excepcionalmente elevados que cercam a recuperação global e a evolução nos preços das commodities, bem como os custos crescentes do financiamento do governo.
Finanças e credibilidade
Com as relações dívida pública/PIB acima dos níveis anteriores à pandemia e os custos de financiamento em alta em meio a taxas de juros locais e globais mais elevadas, os países terão de assegurar a sustentabilidade das finanças públicas para ajudar a preservar a credibilidade e reconstituir o espaço fiscal.
Contudo, será igualmente importante implementar medidas que protejam os mais vulneráveis. Isso exigirá uma estratégia voltada para a consolidação inclusiva.
Os gastos em programas sociais, saúde, educação e investimento público devem ser protegidos, simultaneamente à implementação de reformas tributárias (como o fortalecimento do imposto de renda de pessoas físicas) que estimulem o crescimento inclusivo e ajudem os países a manter a sustentabilidade fiscal.
Com informações do FMI