Internacional
Destino dos soldados da Azovstal ainda é incerto
Rússia e Ucrânia apresentam versões diferentes sobre retirada do último bastião de resistência em Mariupol. Aumenta pressão em Moscou para impedir troca de prisioneiros
Autoridades russas afirmaram nesta quarta-feira (18/05) que quase mil soldados ucranianos que estavam entrincheirados na siderúrgica Azovstal, o último bastião da resistência ucraniana em Mariupol, teriam se rendido às tropas russas.
Kiev, porém, apresenta outra narrativa. As autoridades ucranianas dizem que seus soldados receberam ordens para deixar a siderúrgica após a missão de manter ocupadas as forças russas em Mariupol ter sido cumprida com sucesso. Eles evitam descrever o ocorrido como uma rendição. “A Ucrânia precisa deles. Isso é o principal”, afirmou o ministro da Defesa, Oleksi Reznikov
Azovstal se tornou o símbolo da resistência ucraniana, em um dos episódios mais dramáticos e sangrentos da invasão russa á Ucrânia. A cidade portuária, considerada de grande importância estratégica para Moscou, foi alvo de um cerco brutal e constantes bombardeios por parte das forças russa, que a deixaram praticamente em ruínas.
Mariupol se tornou alvo de pesados ataques russos logo no início da invasão russa, no final de fevereiro. Kiev afirma que mais de 20 mil civis foram mortos nos bombardeios. Durante o cerco, os bombardeios atingiram um hospital maternidade e um teatro que abrigava civis que buscavam proteção no local, onde em torno de 600 pessoas poder sido mortas.
Enquanto a cidade caía nas mais dos russos, os combatentes na Azovstal mantinham suas posições. O Ministério da Defesa do Reino Unido afirma que a resistência em Mariupol gerou “custosas perdas de pessoal às forças russas”.
Narrativas diferentes
Não está claro quantos soldados ainda estão nos porões e túneis da siderúrgica. Os dois lados tentam impor narrativas vitoriosas sobre o ocorrido.
O porta-voz do Ministério russo da Defesa, Maj. Gen. Igor Konashenkov, disse que 956 soldados ucranianos abandonaram a usina desde a segunda-feira. Durante o cerco imposto pelas forças russas, estimava-se que havia no local em torno de dois mil soldados entrincheirados.
Se confirmados, os relatos divulgados por Moscou podem significar que a Rússia estaria bem próxima de proclamar a conquista de Mariupol, o que poderá servir como um impulso favorável ao presidente russo, Vladimir Putin, cujos planos iniciais de uma rápida tomada de território na Ucrânia se viram frustrados.
A notícia viria em boa hora para Putin, após o revés gerado pela oficialização dos pedidos de adesão de Finlândia e Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Um dos objetivos iniciais da invasão russa à Ucrânia era justamente impedir a expansão da aliança militar.
Além do valor simbólico, a conquista de Mariupol – que se tornará a maior cidade ucraniana sob domino das forças russas – poderá permitir que a Rússia envie a partir dali duas tropar para toda a região do Donbass, o centro industrial no leste do país, que se tronou o objetivo maior de Moscou.
Também permitirá o acesso direto por terra à Península da Crimeia, tomada da Ucrânia pela Rússia em 2014, e tirar dos ucranianos um porto marítimo de vital importância.
Destino incerto
Não está claro o que acontecerá com os soldados que deixaram a Azovstal. Uma parte deles teria sido levada para uma colônia penal em Olenivka, no território controlado por grupos separatistas pró-Rússia, no leste do país. A Ucrânia espera que eles sejam libertados em troca de prisioneiros russos.
Não há informações sobre as condições e o número de combatentes em Olenivka, tampouco sobre sua situação legal. A cidade se localiza na região da autointitulada “República Popular de Donetsk”. Antes da tomada pelos separatistas, a colônia penal nº 120 era um presídio de segurança máxima, projetado para receber prisioneiros condenados por crimes graves.
Ao mesmo tempo, aumenta a pressão em Moscou para que os soldados sejam levados a julgamento. Promotores russos já disseram que pretendem interrogá-los para identificar os “nacionalistas” e determinar se estiveram envolvidos em crimes de guerra contra civis.
O procurador geral da Rússia pediu á Suprema Corte do país que classifique o Batalhão Azov – do qual fazem parte faziam muitos dos soldados da Azovstal – como uma organização terrorista, também por suas raízes na extrema direita.
Segundo a imprensa russa, os soldados poderão ser investigados por supostos crimes de guerra. A Duma, o Parlamento russo, planeja aprovar uma resolução para impedir que os soldados do Batalhão Azov possam ser trocados, por, supostamente, se tratar de criminosos nazistas. Alguns políticos russos chegaram até a afirmar que eles deveriam ser executados.
O Ministério ucraniano da Defesa, porém, afirma que as negociações para trocas de prisioneiros estariam em andamento, assim como os planos de retirar mais soldados da siderúrgica. O presidente Volodimir Zelenski disse que os negociadores mais influentes do país estão envolvidos no processo.
O Batalhão Azov surgiu em 2014 como uma milícia de extrema direita criada para combater grupos separatistas no leste da Ucrânia. Os membros do regimento, porém, negam que possuam tendências nazistas ou fascistas. A Ucrânia diz que o batalhão foi remodelado e incorporado à Guarda Nacional do país.