Educação & Cultura
7 sugestões para inserir em um plano de recomposição de aprendizagens
A educação básica brasileira sempre foi um tema muito discutido no nosso país, com preocupações cada vez maiores em relação à qualidade da formação oferecida para crianças e jovens. Se antes os resultados requeriam urgência por mudanças, após a pandemia de Covid-19 e o afastamento (obrigatório e necessário) de estudantes do convívio escolar, a situação se agravou.
Diante desse cenário, muitas instituições de ensino e organizações comprometidas com o desenvolvimento do público infantojuvenil se propuseram a analisar e refletir sobre como lidar com a retomada das atividades presenciais do melhor modo possível. A fim de contribuirmos para essa demanda, listamos 7 sugestões para inserir em um plano de recomposição da aprendizagem.
Impactos da pandemia no processo de ensino e aprendizagem
Ainda que algumas medidas tenham sido tomadas para que alunos(as) tivessem o direito ao ensino garantido durante a pandemia, a defasagem foi inevitável. Entre os diversos fatores que influenciaram para isso acontecer, o acesso à tecnologia e as condições socioeconômicas de boa parte das famílias brasileiras, especialmente negras e indígenas, são os que mais se destacam.
Não ter como assistir às aulas ou realizar atividades no formato de ensino a distância fez com que muitas crianças e jovens perdessem conteúdos e interações importantíssimas. Essa realidade condiz com a pesquisa do UNICEF (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância), publicada em abril de 2021, que previu um retrocesso de 20 anos no sistema educacional básico brasileiro.
Além da perda de conhecimentos exigidos para dar seguimento a outras etapas da formação estudantil, a falta de convívio escolar trouxe graves consequências psicológicas e socioemocionais para os(as) estudantes. No início de 2022, depois de retomarem às aulas presenciais, 26 estudantes precisaram de cuidados médicos após um surto coletivo, ocorrido na primeira semana de avaliações em uma escola do Recife.
Tendo isso como base, é evidente a questão emergencial que se coloca para professores(as), pais, escolas e comunidades. Assim, é necessário estruturar um plano de ação que se atente não apenas à recuperação da aprendizagem (recurso comum que visa analisar o aprendizado consolidado), mas também, e principalmente, à recomposição dela, ou seja, a resgatar as experiências de ensino que deveriam ter sido vivenciadas pelos(as) alunos(as).
7 dicas para inserir em um plano de recomposição da aprendizagem
1. Diagnosticar o nível de atenção e capacidade de aprendizado dos(as) alunos(as)
Antes de iniciar qualquer intervenção, é preciso examinar o nível formativo das crianças para diagnosticar quais são os principais desfalques na aprendizagem, de acordo com a série, e refletir que estratégias podem ser usadas. Além disso, analisar a capacidade de concentração dos(as) alunos(as), ainda mais considerando a intensa exposição às redes sociais sofrida por eles(as), vai fazer toda a diferença no momento de planejar aulas e atividades.
2. Estreitar a relação entre escola, estudantes, pais e professores(as)
Para que planejamentos e sugestões de mudanças no ensino tenham efeito, é imprescindível a colaboração de todos os agentes envolvidos na educação. Como diz o famoso provérbio africano: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado”. Portanto, para obter os resultados minimamente esperados, estreitar a relação (e dialogar sobre a importância dela) entre escola, pais, docentes e discentes é uma etapa indispensável que exige paciência e disposição.
3. Cuidar da saúde mental e emocional dos(as) alunos(as)
O alinhamento entre pais e comunidade escolar também pode trazer excelentes benefícios no que diz respeito à saúde mental e emocional das crianças. Como vimos, o isolamento social, e a falta de interação decorrente dele, trouxe muito sofrimento psíquico e sensação de deslocamento para os(as) estudantes. Sendo assim, o cuidado com esses aspectos se torna obrigatório se quisermos garantir que eles(as) tenham condições de adquirir conhecimento e de se relacionar entre si.
4. Criar rotinas de meditação ou outras atividades que incentivem o estado de presença
A meditação e outras atividades relaxantes têm feito parte da rotina de muitas pessoas, principalmente as que sofrem de algum transtorno psicológico. No ambiente escolar, essas práticas não são novidades. Um artigo da revista Veja, publicado em 2019, menciona o uso delas em instituições de ensino particulares e os impactos positivos apresentados em um curto intervalo de tempo. Logo, investir na criação de rotinas de meditação e afins deve estar no plano de ação de uma boa recomposição da aprendizagem.
5. Promover espaços de estudo na escola
Construir espaços de estudo, sejam coletivos ou individuais, é uma boa maneira de promover a igualdade de aprendizagem dos(as) estudantes, principalmente dos(as) que moram com muitas pessoas e não têm um espaço reservado para isso em casa. Além disso, essa iniciativa consolida uma cultura escolar que entende a importância de separar tempos de estudo que não envolvam somente a sala de aula.
6. Experimentar diferentes estratégias de estudo
Somo seres muito diversos e no Brasil essas diferenças são observadas a olho nu, afinal, a nossa mistura de culturas é uma das mais ricas do mundo. Essa variedade também se apresenta nos gostos, nas ações e na maneira como retemos conhecimento. Se a pluralidade é praticamente intrínseca à nossa nação, dificilmente um mesmo método de ensino funcionará para todas as pessoas. Portanto, experimentar várias estratégias de estudo pode ser uma boa saída para fazer com que alunos(as) tenham as mesmas oportunidades de aprendizado.
7. Incentivar a participação de estudantes no planejamento das aulas
Por fim, nossa última sugestão relacionada às experiências de aprendizagem dos(as) alunos(as) os aponta justamente como parte fundamental da estruturação de um bom planejamento escolar. Escutar as dores e as necessidades do corpo discente é um grande desafio, entretanto, o caminho para grandes transformações na área da educação passa obrigatoriamente pelo modo como os(as) jovens vivenciam os espaços escolares. Dessa forma, promover a participação deles(as) na própria educação talvez seja a ação mais importante e necessária de todas.
Conteúdo extra
A evasão escolar (quando estudantes param de frequentar as aulas) já era um problema antes da pandemia e continua sendo o principal desafio de instituições de ensino básico. Para quem deseja entender mais sobre esse cenário, sugerimos o podcast Conta aí, Undime. O programa é uma iniciativa da União Nacional dos Dirigentes da Educação (Undime) e tem como propósito discutir sobre a educação pública no Brasil.
O 21º episódio, intitulado “Educação na Pandemia”, conta com a participação de Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime, Angela Dannemann, superintendente do Itaú Cultural, e Júlia Ribeiro, oficial de educação do UNICEF Brasil. Nele, os(as) convidados(as) conversam sobre o mais recente levantamento realizado em parceria pelas instituições das quais fazem parte, as implicações na educação causadas pela pandemia e os caminhos possíveis para retomar o processo de ensino e aprendizagem. Para escutar, clique aqui.
E aí, gostou das nossas sugestões? Deixe nos comentários qual ou quais delas você gostaria de implementar na sua escola!