ESTADO
Censo 2022 visita aldeias e traça perfil dos povos indígenas na Paraíba
No Litoral Norte do estado, parte da equipe de recenseadores é composta por indígenas.
Do litoral ao sertão, recenseadores do Censo Demográfico 2022 estão visitando localidades
indígenas na Paraíba, para traçar um perfil de como vivem esses povos no estado. De acordo
com o mapeamento prévio feito pelo IBGE, o questionário específico para povos indígenas deve ser aplicado em mais de 30 cidades paraibanas – entre terras indígenas oficialmente delimitadas, agrupamentos e outras localidades. O levantamento indica ainda que os recenseadores devem visitar mais de 40 aldeias no estado, localizadas principalmente no Litoral Norte.
Para esse recenseamento, o primeiro passo foi entrar em contato com a Fundação Nacional do
Índio (Funai) e com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Para que a equipe do IBGE
possa iniciar o trabalho em uma comunidade, são feitas reuniões com as lideranças locais. O
objetivo desses encontros é apresentar a metodologia e o andamento da pesquisa, esclarecer
dúvidas, assim como estabelecer os protocolos necessários ao trabalho.
Além disso, ainda antes da coleta domiciliar, pela primeira vez em um recenseamento, está
sendo aplicado o chamado “questionário de abordagem”. Essa série de perguntas é direcionada
para a liderança política daquele povo, que irá responder sobre as condições de infraestrutura e o estilo de vida daquela comunidade.
Nesse levantamento, constarão questões relacionadas à identificação da liderança, da
comunidade e de infraestrutura, como abastecimento de água, de energia e presença de escolas, por exemplo. Também conta com perguntas sobre educação onde serão pesquisadas se as aulas são lecionadas na língua indígena ou em português, a quantidade de professores e os materiais didáticos trabalhados. As lideranças serão perguntadas acerca das questões de saúde e dos hábitos e práticas, como a caça, a criação de animais e o artesanato.
No Litoral Norte do estado, houve o contato com o cacique geral das aldeias potiguaras, cacique Sandro Gomes, e, em seguida, marcada uma reunião com os caciques de cada localidade. Na aldeia Tracoeira, o cacique José André Silva ressaltou a importância de ter sido informado com antecedência sobre a operação.
“Essa pesquisa é muito positiva, nesse momento, para o povo potiguara. Muita gente ainda fica com receio, mas eu estou entrando em contato com o pessoal da aldeia, dizendo que já conheço as pessoas que estão vindo. Já passei isso para a comunidade”, destacou.
Coleta domiciliar
Já os questionários que são aplicados nas residências, terão perguntas sobre a etnia, os povos ou grupos indígenas, as línguas indígenas faladas, se a Língua Portuguesa e a Libras são faladas ou utilizadas no domicílio, além de questões de registro civil, arranjo familiar, religiosidade, deficiência, educação, trabalho, entre outros. Neste caderno, o recenseador ainda aplicará perguntas sobre a situação do domicílio, dos cômodos, e também de acesso à água, saneamento, lixo e à internet.
Para o Censo, o princípio em vigor do quesito “cor ou raça” é a autodeclaração. Dessa forma, essa questão trata sobre a percepção que o morador respondente do questionário tem sobre si e sobre os outros moradores. Ou seja, serão considerados indígenas as pessoas que se
autodeclararem indígenas.
Nos territórios indígenas, há ainda uma pergunta de cobertura relativa à autodeclaração. “É
comum que o informante se declare pardo ou preto por conta da cor da pele ou de algum
documento emitido”, comentou gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, Fernando Damasco. Para corrigir essas possíveis imprecisões nas áreas indígenas, a questão “você se considera indígena?” será aplicada nessas comunidades, em caso da não-declaração da cor ou raça “indígena”.
Em todo o Brasil, o trabalho de mapeamento identificou 632 terras indígenas, 5.494 agrupamentos indígenas – que são o conjunto de 15 ou mais indivíduos em uma ou mais moradias separadas por até 50 metros de distância e que estabelecem vínculos familiares ou comunitários – e 977 outras localidades indígenas, em 827 municípios.
O Censo Demográfico visitará todas as aldeias e comunidades indígenas do país. As comunidades que eventualmente não tenham sido identificadas durante o mapeamento, ou que tenham se formado recentemente, poderão ser incluídas pelos recenseadores.
Recenseadores indígenas na Paraíba
No Litoral Norte da Paraíba, o IBGE tem contado com recenseadores indígenas para executar a operação nessas localidades. É o caso de Maiara Pessoa, que nasceu, cresceu, mora e está realizando as entrevistas na Aldeia Forte, situada em Baía da Traição. Depois de ter sido aprovada na primeira etapa do processo seletivo, passou por um dia a mais de treinamento, voltado apenas para as especificidades relacionadas ao trabalho com Povos e Comunidades Tradicionais.
“Eu me sinto tão importante, porque tudo que estou fazendo agora vai servir para os próximos 10 anos e vai influenciar em tudo para a nossa comunidade”, comentou.
Na Aldeia Tracoeira, localizada há cerca de 40 minutos de carro do centro de Baía da Traição,
Talisson Ferreira é o responsável por aplicar os questionários. Para ele, que também é indígena, mas cresceu na zona urbana, essa tem sido uma oportunidade de reconhecer e ajudar a aldeia onde a avó morava.
“Estou conhecendo as minhas origens e está sendo uma experiência incrível. Todos são muito
receptivos. Quero que essas políticas públicas sejam realmente aplicadas para a melhoria dos
povos potiguaras e de todo o Brasil. Para mim, o maior desafio é a questão da distância mesmo, o deslocamento”, comentou.
Para aqueles que não são indígenas, mas conhecem a realidade desses povos, esse Censo também é importante, como explicou a agente censitária municipal, Fernanda Soraggi. Ela não é indígena, mas mora em uma das aldeias de Baía da Traição.
“Eu percebo a falta de acesso e de oportunidade que acontece para o povo potiguara. Eu acredito que o meu papel dentro disso é fundamental para que os questionamentos, as ajudas e melhorias para o povo possam acontecer. Por mais que a gente não enxergue, enquanto indivíduo, a importância do Censo no nosso dia a dia, de certa forma, o Censo vai atingir a sua vida, seja hoje ou daqui a 10 anos. Então, entenda isso e entenda que você é uma parte fundamental desse quebra-cabeça que é o Brasil”, frisou.
Povos indígenas estrangeiros
Na Paraíba, há ainda a presença de indígenas venezuelanos, da etnia Warao. Levantamentos
feitos anteriormente apontam que, em alguns casos, integrantes desse povo estão residindo em abrigos situados nas cidades de João Pessoa, Conde, Campina Grande, Patos e Cajazeiras.
Essas pessoas também serão recenseadas como indígenas e poderão informar sua etnia
durante o questionário. O objetivo é que essas informações permitam a elaboração de um perfil dessa população e o planejamento de políticas públicas direcionadas para esse grupo.
Fonte: IBGE – PB