AGRICULTURA & PECUÁRIA
Safra de pêssegos pode ser afetada por clima e doença
Próximo ciclo da fruta no Rio Grande do Sul deve ter perdas de até 40% em função das condições meteorológicas e de uma síndrome que causa a morte dos pomares
A próxima safra de pêssegos do Rio Grande do Sul pode ter perdas de até 40%, de acordo com a Embrapa Clima Temperado. Além das condições meteorológicas adversas, que fizeram os pomares florescerem mais cedo e gerarem frutos sem padrão, uma síndrome vem causando a morte dos pessegueiros.
Neste ano, a florada veio mais cedo. O que normalmente ocorre em setembro veio em agosto. As geadas tardias não chegaram a comprometer a brotação e os frutos na Serra Gaúcha, maior produtora do estado de pêssegos de mesa. Por outro lado, os frutos estão sem padrão, com tamanhos diferentes.
“O calibre, que traduzindo é o tamanho do pêssego, está ficando um pouco abaixo do esperado” — Ênio Todeschini
“A desuniformidade do crescimento das frutas é muito grande e fora do padrão que a gente é acostumado a ver e acompanhar no pessegueiro aqui na serra. Mesmo agora esses já sendo colhidos, o calibre, que traduzindo é o tamanho do pêssego, está ficando um pouco abaixo do esperado e do potencial”, explica, em contato com o Canal Rural, o extensionista da regional de Caxias do Sul da Emater, Ênio Todeschini.
Pêssegos x frente fria
Numa mesma planta podem ser encontrados frutos grandes e outros bem pequenos. Algumas já estão em colheita e o cenário de perdas só será definido após a entrada das cultivares de ciclo médio que estão em desenvolvimento e representam 70% dos pomares na região.
“Demanda mais tempo na colheita e número de passadas de colheita no mesmo pessegueiral nessa desuniformidade de crescimento e maturação das frutas. A florada, por causa dessas frentes frias, se estendeu bastante. Então, a mesma planta tem diferenças de 20 a 30 dias na maturação”, comenta Todeschini.
Doença preocupa produtores
Na zona sul do estado, onde estão concentrados os pêssegos para a indústria, o que vem preocupando é uma síndrome que causa a morte das plantas. A situação preocupa os produtores de pêssegos da região, pois as perdas podem chegar a 40% na próxima safra. Segundo a Embrapa, esse é o pior cenário dos últimos 15 anos.
A chamada morte precoce do pessegueiro muitas vezes exige a eliminação do pomar ou a retirada dos galhos que estão escurecidos. A síndrome em questão foi detectada pela primeira vez na década de 1970, mas veio com mais força neste ciclo devido a mudanças climáticas associadas à fertilidade do solo.
“É muito difícil a gente estimar a porcentagem real da mortalidade das plantas” — Newton Alex Mayer
“Ela [a síndrome] é bastante variável de um pomar para o outro e entre as propriedades também em função da profundidade do solo, da cultivar que o produtor utiliza, idade do pomar, da altitude”, afirma o pesquisador Newton Alex Mayer, da Embrapa Clima Temperado. “Eu diria que é muito difícil a gente estimar a porcentagem real da mortalidade das plantas porque, em muitos casos, temos plantas totalmente mortas, parcialmente mortas ou, às vezes, apenas uma pernada da planta ou duas e plantas com sintomas muito leves”, detalhou.
Fruto é destaque no RS
O Rio Grande do Sul é responsável por 60% da produção nacional da fruta. Na Serra Gaúcha algumas plantas de pêssegos também apresentam a doença. Somente a região Sul do país tem 6 mil hectares de pessegueiros — e a Embrapa estima que 90% dessas plantações têm alguma planta afetada.
“O que o produtor precisa fazer? Precisa adotar as melhores condições agronômicas possíveis para que essas plantas disponham de um ambiente adequado para o crescimento e a produção. Que ele conheça o porta-enxerto, uma característica muito importante muitas vezes deixada de lado pelo produtor de pêssegos”, indica Alex Mayer.
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