CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Juice, a missão europeia para explorar luas de Júpiter
Agência Espacial Europeia lançou com sucesso a sonda, que tem o objetivo de descobrir mais detalhes sobre o ambiente do maior planeta do Sistema Solar e se há possibilidade de vida em um de seus satélites
A Agência Espacial Europeia (ESA) lançou com sucesso nesta sexta-feira (14/04) uma aguardada missão para explorar três das luas geladas de Júpiter: a sonda espacial Jupiter Icy Moons Explorer (Juice).
A sonda foi lançada a partir do centro de Kourou, na Guiana Francesa, e separou-se com sucesso do foguete Ariane 5, 27 minutos após a decolagem e a uma altitude de 1.500 quilômetros. Com isso, a Juice inicia uma longa jornada de oito anos até chegar às luas de Júpiter.
A sonda voará até as luas Ganimedes, Europa e Calisto com o objetivo de “caracterizá-las como objetos planetários e possíveis habitats”, segundo a ESA. Em outras palavras, a intenção é saber se já existiu vida ou se é possível haver vida nesses três satélites de Júpiter, já que acredita-se que eles tenham grandes oceanos subterrâneos.
Uma missão com aspectos inéditos
A missão Juice tem aspectos inéditos. A sonda será a primeira a mudar sua rota da órbita de um planeta — Júpiter — para a de uma de suas luas. Além disso, a nave também será a primeira a orbitar uma lua que não seja a da Terra. A missão tem um custo aproximado de 1,6 bilhão de euros, o equivalente a 8,7 bilhões de reais.
A Juice levará a bordo vários sistemas de alta tecnologia, incluindo os instrumentos “mais poderosos de sensoriamento remoto, observações geofísicas e detecção do ambiente local já enviados ao Sistema Solar exterior”, segundo a ESA.
Embora a missão seja liderada pela ESA, conta com uma ampla colaboração internacional. A Nasa contribuiu com um dos instrumentos, um espectrógrafo de imagem UV. A agência espacial japonesa JAXA contribuiu com hardwares utilizados em diversos instrumentos a bordo da espaçonave. A agência espacial israelense ISA contribuiu com um hardware necessário para um experimento científico de rádio.
Se tudo correr conforme o planejado, a Juice chegará a Júpiter em julho de 2031 e fará 35 sobrevoos sobre as três luas até novembro de 2034. A nave está programada para, na sequência, entrar na órbita da lua Ganimedes, onde ficará até dezembro de 2035 para coletar informações.
Maior planeta do nosso Sistema Solar
Júpiter tem 95 luas em sua órbita. É o maior do nosso Sistema Solar e tem o dobro da massa de todos os outros planetas juntos.
Como diz a Nasa: “Se a Terra fosse do tamanho de uma moeda de cinco centavos dos EUA, Júpiter seria tão grande quanto uma bola de basquete”.
Júpiter tem um poderoso campo magnético, e parte da missão da ESA é descobrir como isso afeta as luas geladas que rodeiam o planeta. O que os cientistas já sabem é que o campo magnético move gases entre as luas de Júpiter. Enxofre e oxigênio liberados pelos vulcões na lua Io alcançam as três luas geladas que a Juice irá explorar. O objetivo é entender como esse processo funciona.
As luas no centro da missão Juice
As três luas geladas de Júpiter que a nave Juice irá explorar (Europa, Ganimedes e Calisto), assim como a lua Io, foram descobertas pelo astrônomo italiano Galileo Galilei em 1610 e são conhecidas como as quatro “Luas de Galileu”. Elas foram os primeiros objetos encontrados em nosso sistema solar a orbitar um corpo celeste que não fosse nem o Sol nem a Terra.
Ganimedes, o alvo principal da missão Juice, é a única lua em nosso Sistema Solar que gera seu próprio campo magnético. Ela não é apenas a maior lua de Júpiter, mas também a maior de todo o Sistema Solar, com um diâmetro de 5.268 quilômetros e um núcleo metálico composto por um líquido pesado de ferro. Acredita-se que seu oceano subterrâneo contenha mais água do que todos os oceanos da Terra juntos.
Calisto é a segunda maior lua de Júpiter, e os cientistas da ESA esperam que, ao orbitá-la, a Juice reúna informações sobre como era o ambiente em torno de Júpiter nos primórdios do planeta. A lua é composta de partes iguais de rocha e gelo e pode ter um oceano líquido subterrâneo, localizado a profundidades que podem ultrapassar 100 quilômetros.
Já a lua Europa é ligeiramente menor que a lua da Terra e possivelmente abriga vastos oceanos subterrâneos. É feita principalmente de rocha de silicato e tem uma crosta de gelo. Cientistas da Juice suspeitam que Europa pode liberar vapor d’água no espaço por meio de plumas e gêiseres. Entre os principais objetivos da missão está descobrir se há bioassinaturas e bolsões de água na lua Europa, ou seja, sinais de vida.
Ambiente desafiador de Júpiter
A nave Juice vai operar sob condições extremas. A área ao redor de Júpiter e suas luas é um dos ambientes com a radiação mais intensa em nosso Sistema Solar. A temperatura ao redor do planeta gasoso é de -230 ºC, uma grande diferença em relação aos escaldantes 250 ºC que Juice terá que suportar ao sobrevoar Vênus a caminho de Júpiter.
Os pesquisadores por trás da Juice esperam que a missão seja capaz de responder a várias perguntas sobre a atmosfera de Júpiter, seu campo magnético e como esses fatores interagem entre si e influenciam as luas do planeta.
A esperança é que as respostas a essas perguntas ajudem cientistas a entender melhor a física fundamental de ambientes planetários e, eventualmente, descobrir se a vida em uma das luas de Júpiter seria possível.