Internacional
Demonstração de força russa não intimidará a UE, diz Scholz
Chanceler alemão defende reforço da colaboração militar na Europa e continuidade do apoio à Ucrânia. Ascensão da América do Sul, Ásia e África fará com que o “mundo se torne multipolar”, afirmou
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou nesta terça-feira (09/05) que a demonstração de força da Rússia nas comemorações do Dia da Vitória em Moscou não vão intimidar a União Europeia (UE).
Em discurso ao Parlamento Europeu em Estrasburgo, Scholz defendeu que a UE se torne um bloco geopolítico mais forte e disse que a Europa deve se manter firme em seu apoio à Ucrânia “pelo tempo que for necessário”.
O discurso veio em um dia bastante simbólico, tanto para a Europa quanto para a Rússia. A data de 9 de maio marca o aniversário da proposta inicial que resultou na criação da União Europeia.
“Passado não triunfará sobre o futuro”
Em Moscou, um desfile militar celebrou nessa mesma data o Dia da Vitória, que relembra o triunfo da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. O presidente russo, Vladimir Putin, participou das comemorações, que contaram com a presença de milhares de soldados, em uma exibição de poderio militar que tenta ofuscar as perdas russas nos campos de batalha ucranianos.
“Em Moscou, a 2,2 mil quilômetros daqui, Putin desfila seus soldados, tanques e mísseis. Não nos deixemos intimidar por tal demonstração de força”, disse Scholz.
Ao descrever como a “megalomania imperialista” da Alemanha nazista deu lugar à União Europeia e sua ambição coletiva de paz e prosperidade, o chanceler disse que “nenhum de nós quer voltar ao tempo em que prevalecia na Europa a lei do mais forte”.
“É por isso que a mensagem do 9 de maio não é a que vem hoje de Moscou”, sublinhou. “Ao contrário, é a nossa mensagem, de que o passado não triunfará sobre o futuro.”
Mundo “multipolar”
Scholz observou que a ascensão de economias fortes na América do Sul, África e Ásia fará com que “o mundo no século 21 se torne multipolar”. Aqueles que sentem nostalgia por “fantasias de grande poder” estarão “presos no passado”.
O chanceler reconheceu que a “rivalidade e competição com a China certamente aumentou”. Ele, porém, declarou apoio total à posição da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de que se faz necessária uma redução inteligente dos riscos à Europa associados à China, ao contrário da política agressiva levada a cabo pelos Estados Unidos.
Washington continua sendo “o aliado mais importante da Europa”, acrescentou, destacando o papel da Otan em dar novo impulso à produção europeia em defesa em nome de sua segurança, mas também para abastecer a Ucrânia em sua guerra contra a Rússia.
“A Europa deve impulsionar os esforços para uma colaboração militar mais próxima, com o fornecimento conjunto [de equipamentos militares para a Ucrânia] e a integração de suas indústrias de defesa, uma vez que somente seremos ouvidos se falarmos em uma só voz”, disse o chanceler.
Adesão aos princípios democráticos
Mas, para que isso seja viável, Scholz observou que a UE deve otimizar as tomadas de decisão em questões de defesa, assim como tributária, e remover o poder individual de veto dos Estados-membros.
Não menos importante, segundo o chanceler, é assegurar que todos os países do bloco mantenham a adesão aos princípios democráticos e ao Estado de direito. O Parlamento Europeu vem criticando com veemência retrocessos democráticos ocorridos em países como Hungria e Polônia.
Ela também sugeriu que quaisquer debates sobre reformas na UE devem levar em conta meios de fortalecer a Comissão Europeia, o braço Executivo do bloco.