Internacional
China e EUA manifestam desejo de estabilizar relações
Após chefe da diplomacia americana visitar Pequim e reunir-se com o presidente Xi Jinping, representantes das duas superpotências afirmaram que fizeram progressos para aliviar tensões
Os EUA e a China manifestaram compromisso de estabilizar as suas relações diplomáticas, afirmou nesta segunda-feira (19/06) o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, após uma reunião em Pequim com o presidente chinês, Xi Jinping, que marcou a primeira visita de um secretário de Estado dos EUA à China desde 2018.
“Em todas as reuniões, insisti que o contato direto e a comunicação sustentada ao mais alto nível eram a melhor maneira de gerir as diferenças com responsabilidade e de garantir que a concorrência não se transforme em conflito”, explicou Blinken, em declarações no final do encontro com o líder chinês. O encontro vinha sendo encarado com expectativa após anos de deterioração das relações entre os dois países. Com a visita, Blinken também se tornou a mais alta autoridade dos EUA a visitar a China desde que o presidente Joe Biden iniciou seu mandato, em 2021.
“Ouvi o mesmo da parte dos meu homólogos chineses. Concordamos com a necessidade de estabilizar relações”, acrescentou o secretário de Estado americano no segundo e último dia da visita oficial a Pequim.
“Esta visita não vai resolver, de imediato, todos os problemas ou divergências que existem entre nós. Mas ambos concordamos que é fundamental gerir bem o nosso relacionamento”, disse o secretário. Apesar dos gestos, durante a reunião com Xi e outros membros do regime chinês, o secretário expôs as diferenças de visão dos EUA em relação a temas delicados para Pequim, como a situação de Taiwan e as reivindicações territoriais chinesas no Mar da China Meridional.
“Também discutimos a violação de direitos humanos em Xinjiang e no Tibete, as divergências a nível comercial e a detenção ilegal de cidadãos americanos”, acrescentou Blinken.
Ainda assim, os dois países trataram de encerrar a visita com elogios e palavras de aproximação. O presidente chinês disse que a passagem de Blinken por Pequim permitiu avanços nas relações entre os dois países, que praticamente fecharam os canais diplomáticos nos últimos meses, após Washington ter mandado abater um suposto balão espião chinês que sobrevoou o território americano, em fevereiro passado.
“Os dois lados fizeram progressos e chegaram a um acordo sobre algumas questões específicas. E isso é muito bom”, disse Xi, de acordo com uma transcrição dos comentários divulgados pelo Departamento de Estado americano. “Espero que essa visita dê uma contribuição positiva para estabilizar as relações entre a China e os Estados Unidos”, acrescentou Xi.
Durante a reunião, que durou 35 minutos, Blinken respondeu a Xi que “os EUA e a China têm a obrigação e a responsabilidade de gerir bem o seu relacionamento”, argumentando que isso é do interesse de ambas as partes.
No sábado, Blinken tinha enviado a mesma mensagem ao seu homólogo chinês, Qin Gang, após uma reunião que durou cerca de cinco horas e meia e na qual os dois ministros se mostraram comprometidos em manter abertos os canais de comunicação.
Ainda nesta segunda-feira, o chefe da diplomacia americana encontrou-se com o principal diplomata do Partido Comunista Chinês, Wang Yi, numa reunião que se estendeu por três horas. Após esse encontro, o Ministério das Relações Exteriores da China emitiu um comunicado que aponta que a visita de Blinken a Pequim ilustra bem a resposta à “necessidade de fazer uma escolha entre o diálogo e o confronto”.
Taiwan
Em uma fala abordando duas frentes, Blinken reiterou que os EUA não apoiam a independência de Taiwan, mas garantiu que manterão o compromisso de defender o território de qualquer ameaça por parte da China. “Continuamos a opor-nos a qualquer mudança unilateral do status quo por qualquer uma das partes. E continuamos a desejar a resolução pacífica das nossas diferenças”, disse o chefe da diplomacia dos EUA, após os encontros com membros do regime chinês.
Contudo, Blinken acrescentou que os Estados Unidos continuam comprometidos com as suas responsabilidades ao abrigo da Lei de Relações com Taiwan, entre as quais destacou o dever de garantir que a ilha “tenha a capacidade de se defender”.
No domingo, a diplomacia chinesa tinha apontado que a questão de Taiwan constitui “a maior ameaça” ao bom relacionamento entre as duas potências. “A questão de Taiwan é a questão fundamental dos interesses superiores da China, a questão mais importante nas relações entre a China e os EUA e o maior perigo”, disse o ministro Qin Gang.
O chefe da diplomacia chinesa também admitiu que as relações entre os dois países “estão no seu ponto mais baixo desde o estabelecimento das relações diplomáticas, reconhecendo que a situação não responde aos “interesses fundamentais dos dois povos”.
Rússia
Ainda durante a visita de Blinken, a China renovou a promessa de não fornecer armas à Rússia que sejam usadas na guerra de agressão que o Kremlin trava contra a Ucrânia. “Nós e outros países recebemos garantias da China de que não fornece e não fornecerá assistência letal à Rússia para ser utilizada na Ucrânia”, disse Blinken, acrescentando que os EUA não têm qualquer prova que conteste o compromisso da China em não fornecer armas à Rússia.
“O que continua a nos preocupar, no entanto, é a possibilidade de empresas chinesas estarem fornecendo tecnologia à Rússia. Pedimos ao governo chinês para estar muito atento a esta questão.”
Oficialmente posicionando-se como ator neutro no conflito, a China tem defendido o respeito à soberania dos Estados, incluindo a da Ucrânia, mas nunca condenou publicamente a invasão ordenada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em 24 de fevereiro de 2022.