Internacional
Conflito na RD Congo leva mais de 1 milhão a buscar refúgio em países vizinhos
Comandante da Missão de Estabilização da ONU no país, General Otávio de Miranda Filho, destaca difícil situação dos deslocados internos e a falta de recursos para atender às necessidades básicas da população afetada pelo conflito; risco de mais deslocamentos é alto, pois conflito continua afetando diversas áreas do país
A violência na República Democrática do Congo, RD Congo, vem forçando pessoas a buscar abrigo em países vizinhos. Segundo o Escritório da ONU para Refugiados, Acnur, mais de 1 milhão de congoleses são refugiados e requerentes de asilo.
O Acnur afirma que a vizinha República do Congo abriga um total de 61,2 mil refugiados e solicitantes de asilo, quase metade dos quais vem da RD Congo.
Deslocados internos
Em entrevista à ONU News, em julho, o general Otávio de Miranda Filho, comandante da Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo, Monusco, ressaltou as dificuldades que presenciou em um campo de deslocados internos próximo a cidade de Goma. A falta de recurso também foi testemunhada pelo general brasileiro. Segundo ele, a situação dos deslocados na RD Congo trouxe uma reflexão sobre os “objetivos da missão de paz”
Soldados da paz do Malawi servindo na Brigada de Intervenção da Força da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo
“Uma coisa que marcou muito a nós brasileiros foi quando nós estivemos em um uma base temporária e ao lado dela nós temos um dos maiores campo de deslocados internos. São mais de 70 mil homens, mulheres e muitas crianças que vivem ali.
Então, quando nosso helicóptero se aproximou para pousar e você vê de cima aquela quantidade de pessoas numa condição assim extremamente difícil, não tem como você não ficar tocado pelo que você vê e não tem como você não usar essa experiência para motivar as suas tropas a fazerem muito mais do que elas vinham fazendo até então, no sentido de pelo menos promover algum tipo de proteção para aquela gente.
Para eles falta tudo. Falta água, falta comida, falta dignidade, falta habitação, falta expectativa de vida, falta a expectativa de um dia melhor. Eles sobrevivem a cada dia. Então, o mínimo que a força da Monusco pode fazer para amenizar esse sofrimento é protegê-los para que pelo menos eles possam sobreviver.”
Falta de recursos
Para atender a necessidades básicas, a agência solicitou US$ 37,4 milhões em 2022 e recebeu apenas 16% do valor. Já neste ano, o pedido de US$ 40,3 milhões recebeu apenas 8% de financiamento.
De acordo com o Acnur, quase 5,8 milhões de pessoas precisam de assistência por conta da destruição causada com o conflito na República Democrática do Congo.
Em janeiro de 2023, mais de 200 civis foram mortos na província de Ituri em uma série de ataques de grupos armados, que também destruíram casas e escolas. Pelo menos 52 mil pessoas foram deslocadas em uma província que já abriga 1,5 milhão de deslocados internos.
Uma família deslocada vive agora em um acampamento temporário em Plain Savo, na República Democrática do Congo.
Situação no país
Enquanto isso, em Kivu do Norte, o ressurgimento de ataques de grupos armados começou em março de 2022, causando a fuga de mais de 521 mil pessoas.
Cerca de 120 mil pessoas se mudaram para a relativa segurança dos arredores da capital da província de Goma, mas continuam com diversas necessidades. No total, 2,2 milhões de pessoas estão deslocadas por conta do conflito.
O risco de mais deslocamentos é alto, pois os conflitos afetam muitas áreas. As necessidades de proteção são enormes e aumentam à medida que os níveis de deslocamento forçado continuam a crescer.