Educação & Cultura
Folclore: utilize brincadeiras para desenvolver a alfabetização matemática
Atividades permitem trabalhar de forma significativa o sistema numérico, leitura de dados, noções de espaço, situações-problema e medidas
O folclore é formado por diferentes manifestações da cultura popular que formam a identidade de um povo. Por isso, são muitas as possibilidades de trabalho na escola, envolvendo as diferentes áreas do conhecimento e durante todo o ano.
Muitas vezes, reservamos pouco tempo para o tema – geralmente, em agosto que celebramos o Dia do Folclore (22/08). Ou selecionamos aspectos que estão muito distantes dos nossos alunos ou caímos em clichês. Este texto irá ajudar a (re)pensar as atividades e como inserir essas manifestações culturais ao longo do ano letivo.
Aqui vamos em caminhos possíveis de relacionar brincadeiras folclóricas, presentes no dia a dia das crianças, com a alfabetização matemática.
Resgate brincadeiras tradicionais
Para começar, pode solicitar que a turma pesquise com os seus pais e avós quais as brincadeiras que costumavam brincar quando eram crianças.
Peça também que organizem uma lista das próprias brincadeiras a fim de que possam encontrar as diferenças e semelhanças entre elas. Essas descobertas renderão muitas rodas de conversa, explorando o porquê das mudanças, por exemplo.
Certamente, irão aparecer brincadeiras como amarelinha, cabo de guerra, pular corda, bolinhas de gude, rouba-bandeira, queimada, entre outras. Escolham algumas delas para brincar. Para aquelas que a turma não conhecer, solicite que pesquisem as regras. Também pode convidar pais ou avós a virem ensinar as crianças como brincar.
A maioria delas permite explorar noções espaciais e o sistema de numeração.
Matemática e folclore
Após brincar muitas vezes, solicite que as crianças registrem as experiências e o modo de brincar em forma de desenho. A proposta pode parecer fácil, mas ela permite que as crianças coloquem em jogo muitos conhecimentos.
Analisar as produções permite compreender o quanto cada um está se apropriando da brincadeira, assim como traz informações sobre a noção de espaço da criança.
Na sequência, explore os registros em uma roda questionando quais elementos da brincadeira é possível identificar. Abra espaço para que o grupo contribua com sugestões do que é possível acrescentar ou tirar para aprimorar o desenho.
Explore a pontuação dos jogos
A bolinha de gude é uma brincadeira que sempre foi muito apreciada em minhas turmas. Fazia adequações nas regras para atender a Educação Infantil, com os alunos mais velhos pode ser jogada da maneira que se apresenta tradicionalmente.
Uma das formas de adaptar as regras é delimitando o espaço – nesse espaço deixam-se uma quantidade de bolinhas. Cada criança recebe uma quantia para poder jogar. Na sua vez, de uma distância pré-estabelecida, ela joga a sua bolinha com o objetivo de acertar outras e as tirar daquele espaço.
Se conseguir, aquelas que saírem são de quem acertou e contam pontos. Por exemplo: cada criança começa com 3 bolinhas nas mãos, ao atirar uma acerta no centro e espalha 4 para fora, estas serão suas e contarão como 4 pontos. Se nenhuma bolinha for espalhada, a pessoa que jogou perde a peça e não marca pontos.
A organização dos resultados em tabelas permite investir na leitura dos dados e propor situações-problema com base em cenas que aconteceram durante a brincadeira. Essa proposta pode ser adaptada para outras brincadeiras que envolvam pontuação.
Explorando o aviãozinho de papel
Quem já brincou de fazer e atirar aviõezinhos de papel? Esta é uma brincadeira que faz parte da memória afetiva de muitas pessoas.
O primeiro passo é confeccionar o aviãozinho com base na leitura de imagens de como fazer – abaixo selecionei um exemplo de tutorial que pode ser apresentado.
Quando todos fizerem o seu, é hora de brincar. Depois que brinquem bastante, eu costumo organizar campeonatos com minhas crianças. Elas se dividem em pequenos grupos e quem atirar o avião mais longe avança no torneio até chegar no vencedor.
Durante a brincadeira as crianças encontrarão estratégias para medir as distâncias e estabelecer qual a maior. Elas podem utilizar instrumentos de medidas convencionais ou não convencionais. O registro destas distâncias também permite boas explorações sobre as medidas, além de poderem ser exploradas em situações-problemas.
Caso seus alunos já estejam alfabetizados, pode propor que escrevam as regras da disputa.
Para os mais novos, o registro da brincadeira por meio do desenho é também bastante rico, como mencionei anteriormente.
Esses são apenas alguns exemplos, mas existem muitos outros caminhos. Pode-se apresentar brincadeiras tradicionais de sua região, da cultura africana ou de povos indígenas. Tenho certeza de que, diante de tanta diversidade, cada um irá encontrar muitas brincadeiras folclóricas e trabalhar a Matemática de uma forma mais significativa e prazerosa.
Um abraço e até a próxima,
Selene
Selene Coletti é professora há 41 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
Fonte: Nova Escola