Saúde
Tumores cerebrais hackeiam a comunicação entre os neurônios
Hackeando neurônios
Quase metade de todos os pacientes com metástases cerebrais apresentam comprometimento cognitivo.
Até agora, os médicos e cientistas acreditavam que isto se devia à presença física do tumor pressionando o tecido neural.
Mas esta hipótese do “efeito de massa” começou a se mostrar falha quando se verificou que frequentemente não existe relação entre o tamanho do tumor e o impacto cognitivo: Tumores pequenos podem causar alterações significativas e tumores grandes podem produzir efeitos leves.
Alberto Aguilera e colegas do Centro Nacional Espanhol de Pesquisa do Câncer finalmente conseguiram desvendar o enigma, desbancando de vez o efeito de massa.
A explicação para os danos cognitivos gerados pelos tumores está no fato de que a metástase cerebral atrapalha a atividade do cérebro ao alterar a química cerebral de modo a atrapalhar a comunicação entre os neurônios – os neurônios se comunicam através de impulsos elétricos gerados e transmitidos por alterações bioquímicas nas células e no seu ambiente.
Os resultados mostram que é de fato a metástase que afeta a atividade elétrica do cérebro de uma forma específica, deixando assinaturas claras e reconhecíveis – diferentemente da ocorrência apenas do tumor primário.
A metástase (verde mais claro) interage com um neurônio (verde mais brilhante). Esse neurônio foi marcado artificialmente para a pesquisa, mas está rodeado por muitos outros, interagindo também com a metástase.
[Imagem: Manuel Valiente/CNIO]
Encontrar medicamentos
Para os pesquisadores, esta descoberta representa uma mudança de paradigma na compreensão básica do desenvolvimento das metástases cerebrais e tem implicações na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento desta patologia.
Um dos objetivos da equipe agora é encontrar medicamentos que protejam o cérebro de perturbações nos circuitos neuronais induzidas pelo câncer. “Vamos procurar moléculas envolvidas nas alterações da comunicação neuronal induzidas por metástases e avaliá-las como possíveis alvos terapêuticos,” disse o professor Manuel Valiente.