Internacional
Haiti: ONU destaca papel das eleições em meio a aumento da violência de gangues
Enviada especial da ONU no Haiti, María Isabel Salvador, alerta Conselho de Segurança sobre piora na segurança, destacando importância de eleições para estabilidade no país; quase metade da população, cerca de 5 milhões de pessoas, precisa de ajuda humanitária
A situação de segurança no Haiti continua a se deteriorar, com níveis históricos de criminalidade, disse a enviada especial do secretário-geral no país ao Conselho de Segurança.
Maria Isabel Salvador enfatizou que crimes como assassinatos e violência sexual, incluindo estupros coletivos e mutilações, são comuns no país.
Eleições e atuação global
Ela também expressou preocupação com a falta de progresso nos esforços para realizar eleições, destacando que o restabelecimento do controle pela Polícia Nacional do Haiti é fundamental para eleições confiáveis e inclusivas.
Uma mulher haitiana deslocada sentada no telhado do teatro Rex Medina, no centro de Porto Príncipe
O desdobramento da Missão Multinacional de Segurança aprovada pelo Conselho de Segurança traz esperança de melhora. No entanto, ela expressou preocupação de que os esforços em direção às eleições não estejam progredindo no ritmo necessário.
A enviada, que também lidera o Escritório da ONU no Haiti, Binuh, destacou a “enorme importância” da recente resolução do Conselho autorizando o envio de uma missão multinacional de apoio para auxiliar a polícia nacional, e elogiou outra resolução sobre embargo de armas.
Segundo ela, a crescente violência de gangues, que afeta principalmente a capital, Porto Príncipe, “é mais um choque para o Haiti”.
No país, quase metade da população, cerca de 5 milhões de pessoas, precisa de ajuda humanitária. Nos últimos anos, a nação caribenha tem enfrentado desafios como uma epidemia de cólera, terremotos, ciclones, além do assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021.
Maria Isabel Salvador enfatizou que a restauração do controle pela Polícia Nacional Haitiana é um pré-requisito para a realização de uma votação confiável e inclusiva e que a implantação da força multinacional traz esperança de melhora na situação.
Ela observou que a polícia haitiana só poderá obter resultados duradouros quando a segurança pública for restabelecida e o Estado retomar suas funções, especialmente em bairros desfavorecidos propensos a atividades de gangues.
Consequências da violência nas crianças
A diretora do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, Catherine Russell, relatou que crianças no Haiti estão sendo feridas, mortas e recrutadas por grupos armados, enquanto as comunidades enfrentam níveis extremos de violência sexual e de gênero.
Pessoas protestam nas ruas de Porto Príncipe, no Haiti devastado pela crise
Segundo a chefe do Unicef, cerca de 2 milhões de pessoas no Haiti vivem em áreas controladas por grupos armados que estão expandindo suas operações.
Catherine Russell relatou que as crianças estão sendo feridas ou mortas no fogo cruzado, inclusive a caminho da escola.
Outras estão sendo recrutadas à força por gangues ou se juntando a elas por puro desepero, enquanto mulheres e meninas enfrentam níveis extremos de violência sexual e de gênero.
Violência sexual
Catherine Russell visitou o Haiti em junho, onde conheceu uma menina grávida de 11 anos em um centro de sobreviventes de violência sexual. Cinco homens haviam sequestrado a garota no ano passado enquanto ela caminhava na rua.
Ela contou que várias mulheres no local relataram que homens armados invadiram e incendiaram suas casas. “Em algumas áreas, tais abusos e crimes horríveis agora são comuns”, afirmou.
Grupos armados também bloquearam as principais rotas da capital para o resto do Haiti, onde reside a maior parte da população, destruindo meios de subsistência e restringindo o acesso a serviços essenciais.
Segundo Catherine Russell, essa “combinação de condições ameaçadoras à vida” causou uma crise de segurança alimentar e nutrição que está se agravando, com mais de 115 mil crianças sofrendo de desnutrição grave, um aumento de 30% em relação ao ano passado.
Quase um quarto de todas as crianças no Haiti sofrem de desnutrição crônica, e o surto contínuo de cólera está colocando mais vidas em risco.